A Beata Anna Taigi (1769-1837) foi uma alma a quem Deus revelou a luta entre a Revolução e a Contra-Revolução, da qual a fez participar através de um especial devotamento ao Papado. Em 29 de maio de 1769, na poética Siena, num lar popular rico de tradições cristãs, veio ao mundo uma menina sobre a qual pesariam os destinos da Igreja. Ao invés da tranquilidade e das consolações decorrentes de uma vida ordeira e laboriosa, ela teve em troca cruzes de extraordinário valor sobrenatural. O infortúnio financeiro levou seus pais a se mudarem para Roma em busca de melhor sorte. Mas eles logo morreram, deixando Ana Maria órfã numa cidade ‘estrangeira’, pois Roma e Siena pertenciam na época a países diferentes. Sem saber ler nem escrever, a jovem foi trabalhar no palácio da nobre família Maccarani, onde conheceu seu futuro marido, Domenico Taigi, pajem no palácio dos príncipes Chigi, na cêntrica Piazza Colonna – hoje sede do primeiro ministro da Itália. Domenico era trabalhador e sério, mas deu-lhe muita ocasião para praticar a paciência. Tiveram sete filhos, três dos quais morreram em sua primeira infância. Anna Maria Gesualda Giannetti de Taigi (29/05/1769 – 09/06/1837) foi uma excelente dona de casa, dedicada a todos, apesar de seus exíguos recursos. Muito piedosa, ingressou na Ordem Terceira da Ordem da Santíssima Trindade – os trinitários – com sede na igreja de San Carlo alle Quattro Fontane.
Desde a sua adolescência, Anna Maria foi aquinhoada por Deus com um favor único: o de ter sempre presente diante de seu olho esquerdo um sol, qualificado de ‘místico’, mas muito voltado para as realidades temporais. O Pe. Bouffier S.J. nos fala desse sol misterioso onde Deus quis lhe mostrar ‘os fios secretos dos movimentos do mundo’:
‘Era uma maravilha ouvir uma boca tão apagada narrar com serena candura as agitações das sociedades, as convulsões dos povos, a derrubada das dinastias, e até nesses grandes acontecimentos da História, os detalhes íntimos e escondidos dos corações que só o olhar de Deus pode penetrar. (...) Sob essa luz ela via o estado das consciências, a situação das diversas nações da terra, as revoluções, as guerras, os planos dos governos, as maquinações das sociedades secretas, as armadilhas montadas pelos demônios, os crimes, os pecados, as superstições dos idólatras, os flagelos que Deus havia preparado para punir as prevaricações humanas.’
O sol místico da Beata Taigi, num quadro de época
O sol lhe apareceu pela primeira vez por volta de 1790, quando ela se flagelava em seu pequeno oratório doméstico. E nunca se afastou de sua vista, acompanhando-a por toda parte, dia e noite, até a sua morte, acontecida 47 anos depois. Quando viu esse sol pela primeira vez, Anna Maria foi tomada de temor. Consultou então seu confessor, que lhe ordenou pedir uma explicação a Deus. Assim o fez, tendo recebido esta resposta: ‘Este é um espelho que Eu te mostro, para que conheças o bem e o mal que é praticado’. O confessor lhe preceituou então que pedisse a Deus para retirar esse dom, concedendo-o às virgens dos claustros. Ela obedeceu, mas Deus lhe respondeu que Ele era livre para fazer o que bem entendesse, e que o confessor deveria tão-só cumprir bem o seu dever, e nada mais. Inicialmente o sol místico apareceu com a cor do fogo, mas com os anos ficou cada vez mais brilhante, tendo a Beata comparado-o a sete sois simultâneos. O tamanho era do sol natural acrescido de raios. Ele ficava a uma distância de doze palmos de seu olho e a três palmos acima de sua cabeça, conservando sempre essa posição – esclarece o Pe. Bouffier S.J. (op. cit., p. 199).
Fato singular, com um olho doente e quase cego ela via esse sol, o qual alimentava seu dom de profecia e presciência, atraindo grandes dignitários eclesiásticos e civis de Roma, que acudiam à sua pequena casa para pedir orações e fazer consultas.
Certa noite bateu à porta de sua humilde casa um jovem sacerdote, que não tendo onde dormir perguntou-lhe se não haveria um cantinho onde pernoitar. Ele vinha recomendado por São Vicente Maria Strambi, confessor da Beata. Anna Maria tinha um quartinho, que cedeu generosamente ao sacerdote. Ele haveria de ficar com ela por volta de 30 anos!
Já muito aflita pelas dificuldades materiais do lar, a bem-aventurada elevou uma confiante queixa a Deus: ‘Já está tão difícil, e agora mais este!’ Deus lhe fez conhecer seu desígnio sobre esse sacerdote. De fidalga família, ele fora a Roma sonhando fazer carreira eclesiástica, mas recusou todos os convites para entrar em sociedades condenadas pela Igreja, tendo por isso sido expulso das residências eclesiásticas onde morou. Em atenção a esse nobre gesto, Deus o encaminhou para a casinha da Beata. Ele deveria ser o anotador de suas visões. Mais tarde, foi uma das mais importantes testemunhas em seu processo de beatificação. Seu nome era Mons. Raffaele Natali.
Mons. Natali anotava às pressas o que a Beata via no sol místico, com a intenção de reescrever tudo com vagar e boa caligrafia. E as mais de quatro mil páginas manuscritas pelo bom sacerdote ficaram realmente para serem reescritas, com algumas exceções. Elas constituem o tesouro mais precioso da vida desse eclesiástico, por nos permitirem conhecer um dos personagens mais importantes da primeira metade do século XIX: a beata Anna Maria Taigi! Elas foram cuidadosamente analisadas no processo de beatificação, sobretudo pelo fato de não serem redigidas diretamente por ela e incluírem anotações pessoais do religioso. Pesadas todas as minudências e ouvido o ‘advogado do diabo’, a conclusão oficial foi: ‘Estes escritos podem ser considerados como trabalho da Venerável Serva de Deus’ (Proc. Apost. fol. 921).
Após apontar para a decadência moral e o progresso da Revolução anticristã, no mundo em geral e do clero em particular, Nossa Senhora anunciou em La Salette grandes castigos purificadores da terra. Esses anúncios não são exclusivos de La Salette. No mesmo século XIX, poucas décadas antes do acontecimento de La Salette, Deus revelou à Beata Anna Maria Taigi esses mesmos castigos. A comparação é especialmente sugestiva porque não houve contato de nenhuma espécie entre a Beata e os videntes de La Salette. Uma das provas documentais mais sérias sobre as visões da Beata Anna Maria Taigi é o testemunho juramentado e entregue ao Vaticano pelo seu confessor e confidente. O documento faz parte do processo de beatificação da vidente romana.
Mons. Natali introduz a narração dizendo: ‘Quase todas as almas heróicas que resplandeceram em Roma na primeira metade do século XIX, desde o Venerável Pallotti, até o Beato Del Bufalo, desde o Venerável Clausi até a Venerável Canori-Mora, profetizaram que depois da tempestade que no seu tempo se formava sobre a Igreja, depois das perseguições, que afligiam então ao Papado, teria chegado o triunfo do Catolicismo, triunfo luminoso, solene e completo. Mas, quando haveria de se verificar esse triunfo? A qual época histórica está reservado saudar esse grandioso acontecimento que tantos fiéis da humanidade toda há muito tempo aguardam? Eis o misterioso enigma, sobre o qual a Beata Taigi veio deitar, se não me engano, um raio de luz que conforta e tranquiliza.’
Eis quanto Mons. refere textualmente a respeito dessa profecia: ‘Desde os tempos de S.S. o Papa Pio VII, quer dizer no ano 1818, a Serva de Deus descreveu para mim a revolução de Roma e tudo o que aconteceu, e a seguir falou-me muitas vezes, aliás, de um modo muito mais espantoso, dizendo que tinha sido mitigada pelas orações de muitas almas caras a Deus, que se ofereceram a Ele em satisfação da Justiça Divina. Porém, ela disse-me que a iniquidade haveria de avançar triunfante e muitos que se acreditava serem bons teriam tirado a máscara, e que o Senhor queria descobrir a cizânia e que depois Ele teria sabido o que fazer dela. Que as coisas estariam de tal maneira convulsionadas que o homem já não seria capaz de as pôr em ordem, mas que Seu braço onipotente haveria de remediar tudo. Ela me disse que o flagelo da terra tinha sido mitigado, mas não o do céu que era horrível espantoso e universal. Que o Senhor não o tinha dado a conhecer nem às almas por Ele mais amadas nesta terra. Que teria chegado inesperadamente e que os ímpios teriam sido destruídos. Que antes desse flagelo todas as almas que na sua época tinham fama de santidade deveriam estar todas sepultadas. Que numerosos milhões de homens deveriam morrer por obra do ferro, uma parte nas guerras, outra parte em conflitos, e outros milhões de morte imprevista ‒ entenda-se que por todo o mundo. Que, em consequência, nações inteiras haveriam de voltar à unidade da Igreja Católica, muitos turcos, gentios e hebreus hão de se converter de um modo que surpreenderá aos cristãos que ficarão admirados pelo fervor e observância que mostrarão com sua vida. Numa palavra, ela disse-me que o Senhor queria purgar o mundo e Sua Igreja, e para isso ele preparava uma nova safra de almas que, desconhecidas, apareceriam para realizar obras grandes e milagres surpreendentes. Ela me disse que depois de que o Senhor tivesse varrido a terra com guerras, revoluções e outras calamidades, haveria de começar o céu e então teria lugar o fim de dito flagelo com uma convulsão geral de fenômenos meteorológicos os mais espantosos e com grande mortalidade.
‘A Serva de Deus me disse várias vezes que o Senhor lhe fez ver no misterioso Sol o triunfo universal da nova Igreja de tal maneira grande e surpreendente que ela não podia descrevê-lo.’ E conclui Mons. Natali: ‘Diante deste vaticínio a primeira vista fica-se perturbado: nele há sem dúvida pontos obscuros que só poderão ser esclarecidos pelos eventos futuros. Mas, nele discernem-se predições que, feitas desde o ano 1818, acabaram se realizando na história, fato que induz a prestar fé ao vaticínio na sua totalidade. Aqui se fala de dois castigos e flagelos, um vindo por parte da terra e um outro por parte do céu; mas, acrescenta-se logo que as orações das almas boas podem mitigá-lo’.
(Fonte: Testemunho de Mons. Raffaele Natali no processo de beatificação (Proc. Ord. fol. 695-696), apud Mons. Carlo Salotti, “La Beata Anna Maria Taigi secondo la storia e la critica”, Libreria Editrice Religiosa, Roma, 1922, 423 ps., pp. 340-342).
Tudo tem um preço e os bens obtidos pela Beata para tantas almas enfureciam o demônio. Mons. Natali, que vivia em sua casa, testemunha que ‘ela era de tal maneira oprimida e infestada pelos demônios durante a noite, que sem uma ajuda extraordinária do Senhor um espírito mais robusto teria sucumbido. Lembro-me que nos primeiros cinco anos em que morei em sua casa, eram de tal maneira frequentes os fantasmas, os rumores, as aparições monstruosas de espíritos malignos que assolavam toda a casa, que me senti obrigado a dormir vestido sobre um sofá, para ir lhe aspergir água benta; e naquelas circunstâncias eu experimentei a grande virtude desse sacramental contra os demônios. Eu confesso minha fraqueza: se o Senhor não me sustentasse especialmente, eu fui muitas vezes tentado a deixar essa casa, embora lembrasse que meu bispo [S. Vincenzo Maria Strambi] me dissera que jamais a deixasse. E quando se aproximava o fim da tarde, eu ficava pensando na noite e parecia-me cair sobre mim um peso insuportável’ (Proc. Ordin. fol. 379-380).
E acrescentou: ‘Isto acontecia especialmente quando a Beata havia operado ou estava para operar uma conversão. É natural que os espíritos malignos, vendo uma débil mulherzinha lhes arrancar a presa que já possuíam, se desafogassem com assanhamento contra ela, agredindo-a na paz do lar e nos tranquilos silêncios da noite. (...) Cada conversão de pecador obtida pela nossa Beata excitava a raiva dos demônios, (...) que não se limitaram a assaltar sua casa, mas investiam pessoalmente contra a Serva de Deus tentando até lhe tirar a vida. Por isso, ela via frequentemente seu quarto cheio de monstruosos demônios, os quais diziam entre si que era preciso acabar com essa mulher e que já era hora de destroçá-la. A Beata ouvia tudo, e depois via aqueles sinistros seres infernais se aproximarem, um pegando seu pescoço, outro [demônio] oprimindo-a de outro modo, um outro [demônio] ainda afligindo-a de um outro [modo]. Mas ela estava convencida de que Deus não permitiria o triunfo desses espíritos perversos e resistia com uma paciência invicta, e, armada com a fé, repelia os assaltantes’ (Proc. Ordin. fol. 833, 1157-1158, apud Salotti, op. cit, págs. 245/246).
Em numerosas ocasiões, Deus desvendou a dor que Lhe produzia a decadência moral e disciplinar do clero. Um exemplo típico que podemos citar entre muitos outros aconteceu em 31 de Agosto de 1816, segundo os registros do anotador. Na oportunidade, Deus queixou-se mais uma vez da leviandade do povo romano:
‘Oh Roma, Roma, habitantes iníquos, que desconheceis o bem que Eu vos fiz. Vou tomando nota de vossa incorrespondência. Mas, quando Meu Pai der a ordem, tudo acabará!... Sabei que agora as almas chovem como neve no inferno. Chorem e chorem todos amargamente, porque Roma não pode mais ser chamada de santa. Os homens vivem como animais. E não procuram senão comodidades e prazeres, e satisfazer plenamente a sua iniquidade. (...) Eu cobrarei vingança sobre eles e deveria aniquilá-los por causa de seus pecados. Contudo, Eu sou Pai amoroso e fico aguardando. Mas quando o tempo estiver esgotado, não haverá mais remédio. Com teus próprios olhos verás um dia aquelas almas que são premiadas nesta terra e que pela sua soberba [vão para o inferno]. Quero fazer-te ver este lugar. Então, sim, minha filha, terás medo. Pedirás piedade e misericórdia para eles, mas não haverá piedade para muitos. Porque hão de penar para sempre. Sim! Verás como serão atormentados pelos diabos na proporção de seus pecados. Mas, o que mais me atormenta e mais me causa pena, é Eu ser de tal maneira mal recompensado por meus ministros. E aqueles que devem dar o bom exemplo cometem mais pecados que os leigos (...) Os homens são muito cruéis, não sabem distinguir o bem do mal porque vivem segundo seu capricho; (...) Pobre Igreja minha, e pobres tempos: em mãos de quem se encontram! Tocam minhas sagradas carnes; mas antes se sujaram com sangue humano. Depois vêm comungar. Estão em comércio com mulheres e depois vêm celebrar a Missa. Em festas, diversões, jogos e comilanças vão saciando bem seu corpo. E depois que estão bem satisfeitos vão para a Igreja me louvar. Olha bem, minha filha, que boa gente e qual é o prêmio que Eu posso lhes dar! (Vol I, págs. 346-349).
A bem-aventurada Ana Maria manteve relações espirituais com membros ilustres da nobreza, bons e maus. Deus lhe fez ver que nesta classe ilustre tinha prediletos e também inimigos. Em 18 de agosto de 1830, enquanto rezava por um augusto representante da nobreza romana, ouviu: ‘Não rezes por essa alma porque é um precito. Não somente ele, mas toda a sua estirpe (...) embora na aparência pareça convertido, não o está em seu coração. (...) Estes são aqueles valorosos romanos, dos quais existe ainda um grande número. Em grande número são réus de morte por graves delitos. Mas há 20 deles para os quais já está assinada a condenação’ (Vol. VIII, pág. 566).
Em 20 de maio de 1831, a propósito de outro nobre: ‘Não vedes até onde chega a sua iniquidade após tantas graças recebidas? (...) ele comete um sem-número de pecados e depois pede para rezarem por ele, a fim de obter o que quer, e fazer o quer, o que bem entende. Isto jamais se viu e jamais se verá no mundo. Dize a teu confidente que escreva que não há alma pior, mais criminosa e orgulhosa do que ele desde que Meu Pai criou o mundo. Mas esse é um defeito e um grande pecado de toda a Nobreza, especialmente de toda sua família’ (Vol. VIII, págs. 680-681). Mas assim como havia péssimos nobres que pesavam de modo desfavorável ao bem na guerra deste contra o mal – luta esta que a Beata via se desenvolver ora simbolicamente, ora materialmente no ‘sol místico’ – também havia outros que agiam pela causa da Cristandade vivendo no magnífico e virtuoso estilo da aristocracia católica.
Durante a vida da Beata, as guerras napoleônicas representaram o pior flagelo anticristão voltado contra as monarquias legítimas e, portanto, contra o Papado e a Igreja Católica. Ana Maria teve muitas visões a respeito. Após a derrota definitiva e o exílio de Napoleão na ilha de Santa Helena, a mãe do déspota, Letícia Bonaparte, mais conhecida como Madame Mère, e seu meio irmão, o Cardeal Joseph Fesch – que cuidou de Napoleão e dos irmãos após ficarem órfãos de pai – se refugiaram em Roma. Lá mantiveram relações pessoais e espirituais com a beata Ana Maria. Este relacionamento, entretanto, nada afetou o juízo da Beata sobre o tétrico tufão anticristão capitaneado por Napoleão. Em 31 de março de 1819, Mons. Natali deixou consignado que nas primeiras revelações a Beata fora advertida de que ‘Napoleão se teria misturado com a família de muitos soberanos com a oculta cumplicidade dos maus’ (Vol. IV, pág. 391).
Em diversas ocasiões, Deus lhe explicou por que permitiu esse tufão revolucionário: ‘Dizei-me: com qual objetivo eu enviei Napoleão? Ele foi ministro de meu furor para punir as iniquidades dos ímpios e humilhar os soberbos. Um ímpio destruiu outros ímpios’ (documento inédito, Série III, C, pág. 371, apud Salotti, pág. 223). ‘Ela viu – depôs a princesa Barberini – no misterioso sol a derrota do exército francês do Norte diante de Moscou no próprio momento em que acontecia. Ela descreveu para mim toda a derrota de Napoleão, fornecendo-me todos os detalhes bem antes que a notícia pudesse chegar. Ela viu também sua morte em Santa Helena, seu leito, suas disposições, seu túmulo, as cerimônias de seu funeral, a sorte deste príncipe no tempo e na eternidade’ (Testemunho da princesa Barberini no processo, apud Bouffier, p. 241).
Em 24 de julho de 1821, ela contou a seu anotador que antes mesmo de o imperador revolucionário falecer, fora dado a ela ver a cadeira que estava reservada para ele no inferno, ‘feita inteiramente de pontas afiadas como diamantes, toda ela consumida por um fogo que ardia violentamente. Ouviu que nenhuma alma entre as mais amadas por Deus no Céu podia revogar o decreto. Além do mais - prossegue Mons. Natali - disse-me que no dia em que [Napoleão] morreu, ela viu no sol místico muitos combates e sombras inexplicáveis, e um feíssimo bode selvagem. Que aquela época foi de uma tristeza e de um combate grandíssimo para todas as almas, e que ela se sentiu de tal maneira opressa que não se lembrava de nada comparável. Na manhã do dia seguinte à chegada da notícia, logo após comungar, ela ouviu na Missa as seguintes palavras, pronunciadas em tom suave e agradável: eis que acabaram os anos, os dias e os momentos daquele que havia posto o mundo em revolução. De que lhe servem agora todos os seus ornamentos de pedras preciosas, prata e ouro que roubou? O sangue dos pobres clama por vingança e clamará até o dia do Juízo Final. E ele, lá embaixo, sofrerá a pena, e toda a sua estirpe vai se reunir com ele. Porque aqueles que no mundo gozaram prazeres e contentamentos é necessário que os paguem na outra vida com cruéis tormentos’ (Vol. V, págs. 803-805).
Além de fatos específicos envolvendo pessoas e eventos facilmente reconhecíveis, um número muito maior de sinais de lutas entre o bem e o mal no mundo se lhe afiguravam continuamente no sol místico, a maioria dos quais ela própria não sabia interpretar. Por exemplo, em 21 de março de 1831, ela viu nesse sol uma chuva escura relativamente habitual, a qual ‘cresceu como se fosse um dilúvio, com grande concentração de trevas que caíam como flocos de neve. (...) Na noite do 27, viu cair um grande número de trevas mais densas, crescendo a ponto de não se ver mais nenhum objeto’ (...) ‘na Quinta-feira Santa viu (...) uma grande torrente de sangue, bem larga e extensa, acompanhada por três ou quatro grandes chagas sanguíneas e feias que unidas encobriam a metade do Sol. Visão quase semelhante à dos primeiros dias do carnaval apontando a conjura sanguinária que deveria explodir em Roma, mas que foi descoberta e esconjurada pela intercessão da Santíssima Virgem. Na tarde de quarta-feira, ela viu duas belas Cruzes latinas luminosas na extremidade do Sol, (...) na tarde de quinta-feira 7 de abril (...) trevas, manobras, corre-corres, motins, confusões, três pontos e outras visões horríveis e espantosas como nos dias que precederam o desvendamento da revolução.
‘Por isso, a piedosa mãe acha que não somente não acabaram os esforços dos ímpios, mas que eles tentam outros mais ousados (...) Conversando sobre a França, viu o Sol se abrir pelo meio e aparecer uma figura geográfica com o plano de uma cidade totalmente negra escuríssima, enlutada. Ela me disse que algum grande fato revolucionário devia ter acontecido, e ela via, aparecendo junto, mapas menores como de castelos, grandes correrias e movimentações’ (Vol. VIII, págs. 684-694).
Os mais sisudos historiadores, críticos e analistas engajados no exigente processo de beatificação – que se debruçaram sobre os quatro milheiros de folhas de anotações de Mons. Natali e sobre os depoimentos de cardeais, príncipes, bispos, sacerdotes e populares – falam com frequência em ‘milhares’ de casos nos quais os dons proféticos da beata Taigi se manifestaram. Só tendo espaço para mencionar os citados acima, resumimos esse conjunto assombroso com o juízo daquele que foi durante 20 anos seu diretor espiritual, o Cardeal Carlo Maria Pedicini: ‘Não há a menor dúvida de que a divindade residia nela de uma maneira especial. Com efeito, em virtude desse dom extraordinário e ainda desconhecido, a Serva de Deus participava do conhecimento certeiro que Deus tem de todas as coisas, na medida em que a alma de uma transmissora possa possuí-la. Esse dom é próprio do Paraíso, um dom do qual só os bem-aventurados que lá se encontram usufruem, da maneira beatífica mais absoluta. É certo que Deus havia estabelecido sua sede no coração de sua serva. E Ele lhe confiava seus maiores segredos’. Com esse dom, a beata Ana Maria profetizou durante décadas, causando pasmo as suas confirmações, jamais desmentidas pelos fatos, segundo consta na Positio, o documento que postula canonicamente a sua beatificação. Mas ela falou não apenas de seu presente; de modo também abundante, falou do futuro, que talvez já esteja sendo o nosso presente. Deus lhe mostrava o desfecho a que deviam conduzir os costumes que se degradavam no clero e no povo e as conjurações anticatólicas que se agigantavam em antros ocultos.
Deus lhe revelava esses cenários do porvir não sem antes lhe fazer uma demonstração lógica e arrazoada das causas humanas e sobrenaturais que o preparavam. Para isso, analisava fatos que a Beata assistia em sua vida cotidiana, a partir dos quais apontava os desdobramentos vindouros. Como resumir em estreitas linhas esses panoramas tremendos e grandiosos que podem nos atingir? O próprio Deus recorria a um termo muito anotado por Mons. Natali: a ‘definitiva’.
Com esta palavra, Ele se referia instantemente ao desfecho vindouro da luta entre o bem e o mal. A ‘definitiva’ encerraria a atual fase histórica da guerra do Céu e do inferno, das almas boas e ruins, do próprio Deus e de seus anjos contra as potências infernais e seus acólitos terrenos. Na ‘definitiva’, Deus poria fim a tanto caos, embates e profanações. E reergueria a Igreja a um grau de glória na terra como nunca antes se viu. Mas a ‘definitiva’ seria complexa e terrível. Nela se revelariam os pensamentos que jazem no fundo dos corações. Esses desvendamentos surpreenderiam até os bons, pela maldade escondida inclusive em pessoas tidas como insuspeitas. Também os méritos dos bons, humilhados e postos de lado, resplandeceriam para surpresa do mundo que os menosprezava.
Entre 13 e 17 de novembro de 1816, Mons. Natali registrou: ‘Ah, minha filha, se naquele momento funesto e tremendo pudessem vir à tua casa príncipes, Cardeais e outros grandes personagens! Fariam bem porfiando em fazê-lo. Mas, não. Quem gozou e se cevou bem, chorará, e quem chorou gozará e rirá. (...) O castigo não veio, mas há de vir. Deus quer nos punir por causa de nossos pecados. Essa será a última descoberta na qual vai se separar o trigo do joio. Dizei, pois, que tudo o que foi visto não foi nada, (...) a terra vai tremer e o Céu vai ficar ensanguentado’ (Vol. II, págs. 500-501).
Falando a respeito de S.S. Pio VII e das tribulações de seu Pontificado, Deus se estendeu sobre o tremendo evento futuro: ‘Tudo o que aconteceu não é nada. Antes bem, não é mais do que um sopro. Ah o que vai ser a definitiva! (...) Ah, então sim, chorarão. Pobre Igreja! Pobres igrejas! Oh como estão mal cuidadas! Oh como estão mal administradas! E por quem! Ai! Para dizer toda a verdade, eu quero destruí-las todas, convertê-las em ruínas, não deixar pedra sobre pedra. Que da antiga igreja não fique sequer um sinal. (...) Dentro de todas elas há relíquias de meus santos. Mas, como são tratadas? (...) Destruirei!... Estou para destruir Roma. Mas não ainda, por causa de tantas almas minhas que ali estão. Mas ai, mísera Roma! Como acabará! Em que mãos vai cair! Os bons virão comigo e os perversos acabarão seus dias amargamente e depois [sofrerão] eternamente, para sempre’ (Vol. VII, págs. 265-266).
E num 5 de junho, Mons. Natali anotou mais uma severa advertência: ‘Minha filha, não estás contente por sofrer para satisfazer minha Justiça? Pois bem, Eu sou muito ofendido pelos meus ministros. Eles deveriam ser anjos e, em vez de anjos, são cloacas do inferno’ (Vol. I, p. 201). E em 13 de setembro de 1831: ‘Naquela hora, dos cristãos fingidos não ficará nenhum, e então muitos pedirão piedade e misericórdia, mas já não haverá mais tempo (...). Não se pode medir quanto tenham avançado as iniquidades, tanto do homem quanto da mulher. Os demônios, soezes, riem e festejam, porque não têm necessidade de tentações. Não, porque de modo suficiente a malícia e a iniquidade, tanto do homem quanto da mulher, superam em muitos graus a do demônio, pelas obscenidades que se cometem, de todos os gêneros, pelos dois sexos’ (Vol. IX, págs. 2-3).
A beata Ana Maria frequentava muitas igrejas, mas sua vida era a de uma dona de casa vivendo num ambiente popular. Deus tirava exemplos das pregações que ouvia e dos costumes de todas as classes sociais para lhe fazer entender o que viria. Deus insistia para ela que a promoção de uma piedade mole e adocicada que progredia sem cessar naqueles dias preparava a perdição de inúmeras almas. Em 10 de setembro de 1820: ‘Este é o tempo em que os falsos filósofos se ostentam. Entre eles falam pérolas, mas não causam impressão alguma nos povos porque não querem acreditar na verdade. (...) são falsos filósofos, cheios de soberba e orgulho. Desses o mundo está cheio. E para esses há um inferno especial. Se alguém professa a verdade, é ofuscado por estes [falsos filósofos] e o povo fica perplexo, porque a miserável humanidade prefere o doce antes que o amargo’ (Vol. VI, pág. 85).
‘Assim dirás a teu confidente que diga a esta gente que, chove almas no inferno como a neve. E (as almas) de quem? De batizados. São cristãos de nome, são animais de fato, vivem como animais. Antes bem, pior que os animais. Como se (podem) salvar cheios de ódio, cheios de pecados? Depois se dirá que são cristãos, mas...’ (Vol. IX, pág. 85). No terceiro domingo de Páscoa de 1817, na igreja do Santíssimo Crucifixo de Campo Vaccino, São Pietro in Carcere, ouviu: ‘Não te espante o fedor contínuo que sentes sob as tuas narinas, porque é o mau odor da corrupção do mundo presente. (...) Tu o sabes porque Eu te disse muitas vezes e volto a repeti-lo: ‘chove almas no inferno como neve e ainda não acabou’ (Vol. III, págs. 43-44). Em 1828: ‘O respeito humano leva ao inferno muitos confessores com todos os seus penitentes. Para não dar um remédio amargo ou o mais mínimo desgosto, morrem tantas almas e vão para a casa do diabo. (...) de quem é a culpa? (...) Sabes de quem é? (...) Quando esses estarão diante de meu Tribunal, o que será deles? (...) Por esta razão, chove almas no inferno como a neve. (...) Vedes quantas ruínas há no mundo? Esta é a causa’ (Vol. VII, pág. 433-437). Em 6 de novembro de 1819: ‘Olha os tormentos espantosos dos eclesiásticos torturados pelos demônios. (...) Por que se consagraram a Deus quando não procuravam senão a ambição, o orgulho e a vaidade? As portas [do inferno] estão abertas. Lúcifer se regozija e seus companheiros festejam... Deixa, deixa, que essas portas Eu as fecharei, a voragem ficará cheia e poucos ficarão’ (Vol IV, págs. 555-557).
Depois de 14 de abril de 1830: ‘A paz esteja convosco, meus filhos, por toda parte deveis dizer que não só não há paz, mas que os diabos dançam dia e noite, e tecem grandes tramas, apanham em suas redes muitos peixes, cordeiros e ovelhas e as levam à perdição em grandes quantidades, eles se abeberaram com o fel e com o sangue humano. (...) Eu te falei para não seguir os santos modernos, mas aferrar-te aos antigos, porque os santos modernos sendo todos ou quase todos falsos, te teriam estragado’ (Vol. VIII, págs. 519-521). Em 1832: ‘São lobos rapaces, lobos que devoraram muitas ovelhas sugando-lhes o sangue uma por uma. Se soubessem o que está preparado para eles irremediavelmente! É mais fácil que eu ouça o clamor de um herege do que de um desses lobos, tantas vezes lobos quanto são as ovelhas que esses lobos malditos devoraram’ (Vol. IX, pág. 97-100).
Muitas almas santas elevavam já naqueles tempos orações a Deus pedindo a restauração da Igreja. Basta mencionar como exemplo São Luiz Maria Grignion de Montfort e sua ‘Oração Abrasada’. Porém, o Céu como que não atendeu às instantes impetrações dessas almas boas. Por quê? Em 29 de julho de 1832, Nosso Senhor forneceu uma explicação à Beata: ‘Há muito tempo que a Torre de Babel está instalada em Roma, e há muitos anos que deveria ter caído. E se não caiu, é porque muitas almas sacrificaram sua vida rogando a Meu Pai para que protelasse o momento de pôr fogo a este estado do mundo. Eu, sem embargo, que via que era a ruína de muitas almas boas que sofrem por esta causa, apesar de tudo Eu devia fazer a vontade de Meu Pai. Posto que esta desordem do mundo todo é um caos, não há mente humana que possa imaginá-la’ (Vol. IX, pág. 85).
Outras almas boas, considerando a degringolada da sociedade cristã, se perguntavam quando Deus interviria. E até especulavam sobre os sinais que precederiam essa solene intervenção. Mas, o dia de Deus não se conhece. Na segunda-feira de Carnaval de 1833, por exemplo, Nosso Senhor lhe disse: ‘Não se conhece qual é a hora em que Meu Pai quererá dar a ordem ao anjo exterminador. Ele aparecerá ameaçando de improviso (...) sabes? O anjo exterminador que com uma mão toca a trombeta e com a espada (...) Ai! quando acontecer aquele momento, todo o mundo ficará envolvido na conflagração’ (Vol. IX, pág. 207).
Os sinais precursores revelados à Beata pouco têm a ver com as suposições da prudência mundana. Em 9 de novembro de 1820, o sacerdote registrou: ‘Quando vires um dia feliz, tranquilo e de grande contentamento, então armazena alimentos: pão, vinho, azeite. Dinheiro não faltará. (...) Roma iníqua, Roma cruel, verás o fim da iniquidade’ (Vol. VI, pág. 96). A confusão das ideias é um dos sinais que mais se encontram nos registros de Mons. Natali. Em 8 de junho de 1829, ele anota: ‘Agora reinam os maus costumes, a política, o respeito humano, a simulação. Há um escândalo geral por toda parte. Este é o maior e mais forte castigo que caiu sobre todo o mundo: a confusão das ideias. Muitas vezes te disse que antes do fim passaríamos pela Torre de Babel. Mas o fim virá quando Eu achar por bem’ (Vol. VII, pág. 468). E em 1828: ‘Lembra, minha filha, que eu te falei que está instalada a Torre de Babel’ (Vol. VII, págs. 375-376). Em 31 de março de 1819, escreve Mons. Natali: ‘a Beata me disse que um dia que não saberia apontar, durante os primeiros anos [das revelações], ela ouviu que o mundo ficaria reduzido a um tal estado que os poucos sacerdotes que restassem seriam constrangidos a viverem escondidos nos esgotos levando o Santíssimo Sacramento no peito’ (Vol. IV, pág. 391).
‘Desde os tempos do S.S. Papa Pio VII – depôs Mons. Natali no processo de beatificação –, quer dizer, no ano 1818, a Serva de Deus descreveu para mim a revolução de Roma e tudo o que aconteceu, e a seguir falou-me muitas vezes – aliás, de um modo muito mais espantoso, dizendo que tinha sido mitigada pelas orações de muitas almas caras a Deus, que se ofereceram a Ele em satisfação da Justiça Divina. Porém, ela disse-me que a iniquidade haveria de avançar triunfante, e muitos que se acreditava serem bons teriam tirado a máscara, e que o Senhor queria descobrir a cizânia e depois Ele teria sabido o que fazer dela. Que as coisas estariam de tal maneira convulsionadas que o homem já não seria capaz de as pôr em ordem, mas que Seu braço onipotente haveria de remediar tudo. Ela me disse que o flagelo da terra tinha sido mitigado, mas não o do céu, que era horrível, espantoso e universal. Que o Senhor não o tinha dado a conhecer nem sequer às almas por Ele mais amadas nesta terra. Que teria chegado inesperadamente e que os ímpios teriam sido destruídos. Que antes desse flagelo todas as almas que na sua época tinham fama de santidade deveriam estar todas sepultadas. Que numerosos milhões de homens deveriam morrer por obra do ferro, uma parte nas guerras, outra parte em conflitos, e outros milhões de morte imprevista – entenda-se que por todo o mundo. Que, em consequência, nações inteiras haveriam de voltar à unidade da Igreja Católica, muitos turcos, gentios e hebreus hão de se converter de um modo que surpreenderá aos cristãos, que ficarão admirados pelo fervor e a observância que mostrarão com suas vidas. Numa palavra, ela disse-me que o Senhor queria purgar o mundo e Sua Igreja, e para isso Ele preparava uma nova safra de almas que, desconhecidas, apareceriam para realizar obras grandes e milagres surpreendentes. Ela me disse que depois de o Senhor ter varrido a terra com guerras, revoluções e outras calamidades, haveria de começar o céu, e então teria lugar o fim de dito flagelo com uma convulsão geral de fenômenos meteorológicos os mais espantosos e com grande mortalidade. A Serva de Deus me disse várias vezes que o Senhor lhe fez ver no misterioso Sol o triunfo universal da nova Igreja, de tal maneira grande e surpreendente que ela não podia descrevê-lo” (Proc. Ord. fol. 695-696, apud Mons. Carlo Salotti, pp. 340-342).
A purificação operada por Deus através de seus ministros angélicos e humanos, de instrumentos materiais e até por eventuais intervenções pessoais, terá um objetivo único: a restauração da Igreja Católica no grau de honra que lhe é devido e a recomposição da Civilização Cristã. Numa anotação de 18 de fevereiro de 1833, lemos uma das tantas e insofismáveis referências a esse triunfo universal da Igreja: ‘Quando tome corpo a Igreja renovada, os poucos que restarão serão poucos, pouquíssimos e estarão extremamente surpreendidos e cheios de temor vendo tudo o que se fará por Deus, como se amará a Deus e o que se sofrerá por Deus. (...) A ti não cabe vê-lo’ (Vol. IX, pág. 118). Em 1828, encontramos o registro de uma visão que acena com a vinda de uma alma destinada a desempenhar um papel histórico de restaurador. Quem ou como seria ela? O texto não deixa margem a muitas suposições concretas: ‘Viste? Observas? Contemplas? Eis a alma apostólica, eis o homem que luta pela vinha, eis aquele que é igual aos que tanto lutavam pela minha glória. Seus esforços, seus suores, suas obras serão premiadas no Paraíso com tanta glória que mente humana alguma jamais conseguirá imaginar. É tamanho o amor que Eu tenho por essa criatura, que ela só o conhecerá no Paraíso. Esse é um homem verdadeiramente zeloso. Esse não tem mancha alguma. Esse não tem finalidades humanas, não procura interesses e, desde a mais tenra juventude, jamais passou por ele o vício do cortesão’ (Vol. VII, pág. 380).
Essa alma teria então um papel relevante nessa purificação da ordem humana.
A ‘definitiva’ não era para o tempo da Beata que, portanto, sabia que não veria o triunfo de Deus contra todos os inimigos da Igreja. Porém, obviamente, seus confidentes e amigos defendiam este ou aquele procedimento para melhor se prepararem. Entretanto, foi Nossa Senhora quem ensinou à Beata a atitude certa para dispor seu espírito para a ‘definitiva’. Em 13 de setembro de 1831, assim lhe disse: ‘agora não é tempo de milagres, porque a hora de a Igreja retornar ao seu primeiro estado ainda não chegou. Filhos meus, eis aqui vossa Mãe. Eu vos abençôo, abençoa-vos Meu Pai, mas sede bons, sede bons, sede bons. Sofrei com boa disposição por meu amor, até que venha o Espírito Santo para vos abrasar de amor e dar a definitiva a este mundo iníquo. Tereis chegado ao fim. Fica-vos pouco por padecer. Todos os reinos, cidades, povos, castelos, províncias, se encontrarão em penas, em problemas, em tribulações, em tormentos até a definitiva’ (Vol. IX, págs. 152-155).
Segundo o Pe. Bouffier S.J., ‘Ana Maria falava amiúde’ ao sacerdote seu confidente, ‘da perseguição pela qual a Igreja deveria passar, e da infeliz época em que se veria o desmascaramento de uma multidão de pessoas que se acreditava serem dignas de consideração. Certa vez ela perguntou a Deus quem resistiria a essa terrível prova. E lhe foi respondido: ‘aqueles a quem concederei o espírito de humildade’. Por isso Ana Maria estabeleceu em sua família o costume de após o terço da noite, rezar três Padre-Nossos, Aves e Gloria ao Pai, a fim de obter da misericórdia e bondade infinita da Santíssima Trindade a mitigação do flagelo que Sua justiça reserva para esses tempos calamitosos. Esse flagelo lhe foi manifestado numerosas vezes no misterioso sol. Aprouve a Deus revelar-lhe também que após numerosas e dolorosas provações, a Igreja obteria um triunfo tão portentoso que os homens ficariam estupefatos; que nações inteiras voltariam à unidade na Igreja romana e que a Terra mudaria de aspecto’ (Bouffier, op.cit.,págs. 251-252).
A Beata faleceu em Roma no dia 26 de novembro de 1837. Sua causa de canonização foi introduzida em 8 de janeiro de 1863, sob o pontificado do Bem-aventurado Papa IX, pelo qual ela oferecera inúmeros padecimentos e orações. Em 4 março de 1906, o Papa São Pio X aprovou o decreto de virtudes heroicas declarando-a Venerável. Ana Maria Taigi foi beatificada no dia 30 de maio de 1920 por S.S. Bento XV. Segundo informou a agência ACIDigital: ‘o decreto de beatificação a aponta como: 'pródigo único nos fastos da Santidade'. A Santa Sé fixou sua festa para o 10 de junho. Seu corpo está exposto em urna de cristal num altar da igreja de São Crisógono in Trastevere, na capital dos Papas, onde pode ser venerada pelos fiéis. Um muito discreto museu na igreja recolhe objetos e pertences ligados à vida da Beata.
FIM
Notas:
1 ) Pe. Gabriel Bouffier S.J., “La Vénérable Servante de Dieu Anna-Maria Taigi d'après les documents authentiques du procès de sa béatification”, Ambroise Bray, libraire-éditeur, Paris, 1865.
2 ) Todas as citações dos ditados da Beata anotados de Mons. Natali foram tiradas dos Manuscritos origináis conservados sob a classificação MS. 337ª no Arquivo de San Carlo alle Quattro Fontane dos padres trinitários de Roma. Eles são citados indicando o volume e a página respectiva.
3 ) Proc Apost. fol. 1537, apud Mons. Carlo Salotti, ‘La Beata Anna Maria Taigi secondo la storia e la critica’, Libreria Editrice Religiosa, Roma — Scuola tipografica italo-orientale « S. Nilo », Grottaferrata, 1922, 423 págs.
Fonte: http://aparicaodelasalette.blogspot.com.br/p/blog-page_27.html#1507082