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Padre Francisco Palau – A política e a participação dos anjos e dos demônios nas questões humanas, e acima de todas elas, o Juiz Supremo do universo e sua corte celeste

Breve biografia de Francisco Palau y Quer

O bem-aventurado Francisco Palau y Quer O.C.D. nasceu no dia 20 de dezembro de 1811 em Aitona, na província espanhola de Lérida, e faleceu 20 de março de 1872 socorrendo as vítimas de uma epidemia em Tarragona. Fundou em Barcelona a ‘Escola da Virtude’, modelo de ensino catequético. Em 1860-61 fundou congregações de irmãos e irmãs carmelitanas terceiras, que deram origem posteriormente às congregações de Carmelitas Missionárias Teresianas e às Carmelitas Missionárias. Pregou missões populares e difundiu a devoção a Nossa Senhora. Foi beatificado em 24 de abril de 1988. Sua festa litúrgica se celebra em 7 de novembro. O Beato Palau professou solenemente seus votos na Ordem Carmelitana em 15 de novembro de 1833, tempo de perseguição religiosa. Em 25 de julho de 1835 as turbas republicanas, socialistas e comunistas incendiaram os conventos e as casas religiosas, inclusive o convento do Beato. Ele teve que partir para o exílio e usou o resto de sua vida o hábito carmelita por baixo de uma batina de padre secular. Escolheu para morar uma gruta a dois quilômetros de Aitona, hoje conhecida como Cueva del Padre Palau e transformada em santuário mariano. Mas a perseguição chegou até ali. Ele sofreu atentados de morte e teve de partir para o exílio na França, onde residiu por onze anos até 1851.

Na França, a sua fama de santidade se espalhou entre o povo e a nobreza, pelo que também foi perseguido pelo anticristianismo. Voltou à Espanha em 13 de abril de 1851. Nomeado diretor espiritual do seminário diocesano de Barcelona, ele organizou a ‘Escola da Virtude’ na paróquia de Santo Agostinho. O extraordinário sucesso da Escola em tirar o povo da influência revolucionária anticristã motivou arruaças socialistas e comunistas. O governo liberal desterrou então o Beato Palau para a ilha de Ibiza, onde ele permaneceu durante seis anos e fundou uma ermida consagrada a Nossa Senhora das Virtudes, primeiro santuário mariano da ilha. É autor de vários livros. No fim de sua vida dirigiu e foi o principal redator do semanário ’El Ermitaño’, onde publicou suas reflexões sobre o presente e o futuro da Igreja.

Seus escritos se destacam pelas suas luzes proféticas. Nos anos finais de sua vida o Beato Palau trabalhou muito como exorcista. Até concebeu o projeto de uma Ordem de exorcistas e enviou ao Concilio Vaticano I um amplo escrito sobre o tema. Muitas das formulações mais caras ao Beato encontram-se incluídas no exorcismo para uso público e privado aprovado por S.S. Leão XIII. Em seu jornal ’El Ermitaño’, o Beato Palau tratou especialmente dos eventos de sua época. Ele via os problemas religiosos, políticos, sociais, econômicos – e até tecnológicos – como fazendo parte de um só e imenso movimento que, animado por Lúcifer e seus sequazes, procurava derrubar a Igreja Católica e a ordem social cristã. Arguto e intenso analista das informações que chegavam a Barcelona através dos jornais e telégrafos, ele teceu visualizações inspiradas pela Fé e pelos seus estudos teológicos às quais é difícil recusar uma inspiração profética.


Detalhe da Disputa do Ssmo Sacramento,  Rafael Sanzio (1483-1520), Stanza del Sello, Vaticano. Santos e doutores trocam ideias sobre o Santíssimo, mas participam filósofos e artistas até anticristãos. Detalhe da Disputa do Ssmo Sacramento, Rafael Sanzio (1483-1520), Stanza del Sello, Vaticano. Santos e doutores trocam ideias sobre o Santíssimo, mas participam filósofos e artistas até anticristãos.

O Pe. Palau via na Revolução universal conduzida pelo demônio contra Cristo e a Igreja o grande assunto político em torno do qual giram as questões realmente importantes. Ele não pensava na agitação mesquinha dos políticos profissionais ou dos jornais de seu tempo, mas da Política com P maiúsculo. Ou seja, aquela na qual se debate o mais precípuo dos fins terrenos do homem: o bem comum na prática das virtudes e seu destino eterno no Céu, ou, por oposição, o caos revolucionário e a perdição irrevogável no inferno.

Segundo ele, a política é por excelência um assunto para as inteligências. Nela não participam os seres sem intelecto. Mas insistia que os ímpios e os míopes supõem que nela só participam as inteligências humanas, quando na realidade participam também as angélicas e as demoníacas. E, por cima de todas elas, o Juiz Supremo do universo e sua Corte celeste.

Sendo a Revolução a questão política central da qual depende o destino do mundo, o Beato Palau fazia estas interrogações: O que fará Deus? Deixará tudo ser tragado pela Revolução? Destruirá o mundo em virtude do pecado revolucionário? Ou, pelo contrário, em atenção a Suas promessas, o resgatará da conjuração de Satanás?

O bem-aventurado tinha certeza de que Deus preparava a restauração do mundo. Como o faria? Quando? O que faltava? Que fatores apressavam ou retardavam o momento em que Nosso Senhor dirá ‘basta’ à Revolução?

Para ilustrar essa problemática, o bem-aventurado recorria à imagem do Consistório divino. Este tem como ponto de partida uma realidade teológica básica: nada foge ao entendimento divino, que tudo vasculha e conhece. O universo dos atos virtuosos ou pecaminosos está continuamente presente diante Deus como um imenso mosaico vivo. Todos e cada um — inclusive os mais insignificantes ou ocorridos no mais íntimo das consciências — estão presentes ante a Majestade Infinita. Inclinando-a uns à misericórdia, outros reivindicando maiores margens de manobra para a Revolução e seus agentes, para flagelo e desespero dos homens.

O bem-aventurado apresentava esta realidade como um Parlamento, ou Consistório congregado aos pés do trono divino e do qual participam todas as criaturas inteligentes do Universo. 

Tudo o que acontece entre seres inteligentes está sendo visto por Deus e pesa na balança de Sua Justiça e de Sua Misericórdia. Detalhe do Juízo Final. Igreja da Companhia de Jesus, Quito, Equador.Tudo o que acontece entre seres inteligentes está sendo visto por Deus e pesa na balança de Sua Justiça e de Sua Misericórdia. Detalhe do Juízo Final. Igreja da Companhia de Jesus, Quito, Equador.

Desde Maria Santíssima, Rainha dos Céus, passando por São Miguel Arcanjo e todos os coros angélicos, todos os Santos, todos os homens na terra — nobres, burgueses, camponeses ou esquecidos religiosos enclaustrados —, até Satanás com suas legiões diabólicas e os precitos do inferno. Cada um pesa com seus méritos, orações e sacrifícios — deméritos e pecados em sentido contrário —, inclinando num sentido ou outro os pratos da balança da Justiça Divina. 

A imagem desse Consistório com suas discussões está claramente inspirada no livro de Jó (I, 6-ss). Este livro sagrado apresenta Satanás comparecendo ante a Corte de Deus e desafiando o Altíssimo a propósito do justo Jó. Após uma discussão com o príncipe das trevas, Deus permite que o demônio se assanhe contra o justo, tirando-lhe quanto possui. Por fim, Jó vence as tentações e Deus o restabelece em seu estado cumulado de bênçãos, descendência e bens.

O Beato Palau figurava discussões nas quais cada ser inteligente pedia a palavra, defendia sua causa e era interpelado por seus opositores. Nessas polêmicas, ele representava Satanás alegando os pecados de uma nação para arrancar de Deus permissão para perdê-la mais espantosamente. Em sentido oposto, o anjo protetor desse povo defendia-o, e pedia a confusão do demônio que tentava sua condenação. Deus, como Juiz Soberano, concedia ou não a palavra e ditava a sentença final.

Eis um exemplo ilustrativo. A sombra do ermitão disputa com Satanás, defendendo a humanidade decaída: 

Senhor, temos pecado, nós, os católicos, povo e sacerdotes, e nossos reis e príncipes, e todas as nações da terra. Justa é vossa ira, e largamente merecidos os castigos. 

Em justiça procedestes entregando-nos ao furor dos demônios. Por nossas maldades nós nos entregamos voluntariamente ao domínio de Satã. Justo sois, e justos são os vossos juízos. 

Senhor, contra as nossas maldades apelo para o trono de vossa clemência. A redenção das nações atualmente existentes na terra é um contrato celebrado e consumado no Gólgota entre Vós e vosso Filho, e renovado noite e dia no orbe inteiro em milhares de altares erigidos para vossa glória. Em virtude do sacrifício perene e perpétuo, o título sobre o qual a Igreja Católica vossa filha fundamenta seus direitos, conserva toda a sua força e vigor, não obstante as maldades e os crimes dos homens. Contra esse título é falso e nulo tudo quanto alegam em seu favor os demônios, que não podem pacificamente possuir, nem apresentar título de posse (...)

Satã! – disse o Juiz (...) Defende-te, porque se não tua causa está perdida. (...)

[Satanás:] Trazei as balanças de vossa justiça: pesai o deicídio e a incredulidade dos judeus, a pertinácia das nações pagãs à pregação do Evangelho, o cisma dos gregos e russos, a apostasia dos protestantes, as horríveis blasfêmias com que Vos desafiam a França, a Espanha, a Itália e os demais países revolucionários, a corrupção dos costumes dos católicos. E, no que diz respeito aos vossos sacerdotes, pesai.... 

Ponde no outro prato os méritos e virtudes dos que Vos servem, e vereis de qual parte se inclinará a agulha... Deixaríeis de ser justo, ó Deus, se não castigardes o criminoso! 

O Beato apresentava Lúcifer reclamando seus direitos para perder os homens conquistados pela Revolução, os incontáveis pecados e caos geral. Detalhe de Satanás diante de Deus, Corrado Giaquinto (1703 - 1765 ou 1766), Museu VaticanoO Beato apresentava Lúcifer reclamando seus 'direitos' para perder os homens conquistados pela Revolução, os incontáveis pecados e caos geral. Detalhe de Satanás diante de Deus, Corrado Giaquinto (1703 - 1765 ou 1766), Museu Vaticano

 

 

Além do mais, quem peca voluntariamente, infringindo a vossa lei, rende-se voluntariamente à minha bandeira, o mando me pertence, porque pelas suas maldades submeteu-se voluntariamente às minhas ordens; e por esse motivo minha posse é legítima. (‘Noticias del cielo: vuelta de mi sombra’, El Ermitaño, Nº 8, 24-12-1868).


O bem-aventurado considerava que nessa alta esfera política onde se dirime verdadeiramente a sorte da Revolução e do Catolicismo, a decisão estava tomada: a Justiça Divina resolveu fulminar a Revolução, Satanás e seus sequazes. Como soberana das milícias celestes, Maria Santíssima dispôs que sob o comando de São Miguel, as coortes angélicas entrem na batalha.

Por sua vez, conhecendo este ditame irrevogável, Satanás e a Revolução estimulam toda classe de pecados, especialmente os coletivos — revoluções, decretos ímpios, separação entre a Igreja e o Estado, leis danosas à Igreja, blasfêmias oficiais ou generalizadas —, com a finalidade de adiar o quanto possível o dia da Misericórdia para os bons e da justa Ira divina para os revolucionários.

 

 

Fonte: https://aparicaodelasalette.blogspot.com.br

(Título original: A verdadeira Política se decide na presença de Deus)

 


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