Maior consumidor mundial de carne de tubarão, o Brasil pode se tornar um dos principais responsáveis pelo declínio das populações deste animal em mar aberto.
O alerta vem de cinco pesquisadores brasileiros que assinam um artigo publicado neste mês no periódico Marine Policy (‘Política Marinha’, em tradução livre). O estudo mapeou o cenário das cerca de 45 mil toneladas anuais que os brasileiros levam às suas mesas.
O motivo-chave para tal protagonismo negativo, afirmam os pesquisadores, seriam as frotas internacionais que alimentam o mercado de nadadeiras de tubarão, muito valorizadas
no Leste Asiático. A sopa de nadadeira ou barbatana tem apelo afrodisíaco e é sinal de status e riqueza entre os chineses.
No Brasil, não é proibido pescar o tubarão e vender sua carne no mercado. É proibida pela portaria 121-N do IBAMA (link em pdf) a prática do ‘finning’ – ou seja, matar um tubarão apenas para retirada das barbatanas, descartando a carcaça do animal no mar, onde o bicho tem pouquíssimas chances de sobrevivência sem a barbatana para auxiliar em seu deslocamento. E os barcos de pesca brasileiros não fazem isso. Nas palavras de um pesquisador, que lemos na reportagem da Folha de ontem:
‘Hoje, a prática do ‘finning’ em águas brasileiras praticamente não existe. Os barcos nacionais aproveitam 100% dos tubarões capturados e os estrangeiros têm observadores de bordo.’
E será que por isso então é ok matar o animal? O número de tubarões perdidos por ano continua aumentando, o dano ao ecossistema continua o mesmo, com ou sem finning, independente da semântica da lei. A lei, nesse caso, é mero subterfúgio conivente a interesses financeiros maiores.
Todo pescador no mundo sabe que a barbatana é o bem mais cobiçado de um tubarão, por causa da demanda no mercado asiático. Quando um pescador pesca um tubarão, em geral a primeira ação que toma é separar a barbatana, ainda em alto-mar, e pôr para secar. O resto do bicho vira subproduto – porque o principal já está garantido para o comprador chinês/taiuanês. Na maior parte do mundo, a carcaça vai pro mar. No Brasil, sobram nos congeladores dos barcos quilos e mais quilos de carne. Que são levadas ao continente para comércio.
A rejeição generalizada quanto à carne de tubarão tem um motivo de peso. Grande predador, animal encontra-se no topo da cadeia alimentar. Por um processo de bioacumulação, ele agrega metais pesados, como mercúrio e arsênio, presentes nos organismos que lhe serviram de alimento. Ingeridas além da conta, essas substâncias podem causar danos cerebrais. Comer carne de animais de topo de cadeia alimentar, carnívoros, aumenta consideravelmente a quantidade de mercúrio no organismo da pessoa.
Não à toa, a Food and Drug Administration (FDA), agência federal americana, não recomenda a inclusão de tubarão no cardápio de grávidas, mulheres que estejam amamentando e crianças, seja em que quantidade for.
Outro dado que ajuda a emoldurar esse cenário é o mislabeling, termo em inglês que os pesquisadores traduzem como ‘rotulagem errada’. A maioria da população estaria consumindo tubarão sem saber disso. Isso porque, nas prateleiras dos supermercados, nas bancas de peixe, nos restaurantes e nas merendas escolares, o animal é oferecido apenas sob o nome genérico de ‘cação’, carne bem-aceita especialmente pela falta de espinhos.
NUNCA compre cação. NUNCA coma cação, independente de onde você more. Tubarões ou cações são peixes ameaçadíssimos de extinção no mundo inteiro e ao comê-los, você incentiva o tenebroso comércio de barbatanas para a China.
Fontes: http://jornalnacao.com/cuidado-o-cacao-na-verdade-e-carne-de-tubarao/
https://facaasuaparte.com/2008/06/por_que_a_carne_de_cacao_e_tao/
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