Santo Elias raptado num carro de fogo diante de Santo Eliseu.Foto: Juan de Valdés Leal (1622 - 1690), Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Córdoba, Espanha.
Elias e Henoc: dois profetas do Antigo Testamento ainda vivos
De acordo com as Escrituras, o profeta Elias foi raptado aos Céus num carro de fogo na presença de seu discípulo e sucessor Santo Eliseu:
‘eis que de repente um carro de fogo com cavalos de fogo os separou um do outro, e Elias subiu ao céu num turbilhão. Vendo isso, Eliseu exclamou: Meu pai, meu pai! Carro e cavalaria de Israel! E não o viu mais.’ (II Re, 2, 11-12)
O arrebatamento do profeta teria acontecido no ano 914 a. C., quando Elias tinha não menos de 46 anos.
É doutrina líquida entre os Padres e Doutores da Igreja que Santo Elias não morreu mas que se mantém em vida por disposição divina, aguardando para voltar no fim dos tempos e lutar contra o Anticristo.
Junto com ele, se encontraria Santo Henoc (escreve-se também: Enoc e Enoque), do qual a Bíblia ensina igualmente que foi levado vivo da Terra:
‘Após o nascimento de Matusalém, Henoc andou com Deus durante trezentos anos, (...) Henoc andou com Deus e desapareceu, porque Deus o levou.’ (Gen, 5, 22-24) e
‘Henoc agradou a Deus e foi transportado ao paraíso, para excitar as nações à penitência’ (Eccl, XLIV, 16).
Henoc teria sido levado da Terra por volta do ano 3.019 a.C., 987 anos após a criação de Adão, quando tinha 365 anos (viveu antes que Deus diminuísse a duração da vida dos homens).
Mistérios da vida deles
Onde se encontram? Como vivem? Têm contato com a Terra? Em quais condições vão regressar?
O assunto tem apaixonado a doutores e santos da Igreja. O eruditíssimo e famosíssimo comentarista das Sagradas Escrituras, P. Cornelio a Lapide S.J., resume as opiniões de maior peso e conclui:
‘o lugar onde se encontram Elias e Henoc é incerto. Em qualquer caso, seja um local terrestre ou etéreo, Elias leva uma vida quieta e santa, na contemplação de Deus, (...)
Elias e Henoc, ícone do século XVII, Museu Histórico, Sanok, Polônia.
‘São Gregório Magno diz: ‘Elias foi elevado ao céu aéreo, para ser imediatamente levado a uma região secreta da terra, e ali viver numa grande quietude da carne e do espírito, até que volte no fim do mundo e pague o débito da morte’ (Hom. 29, in Evang.).
‘Elias e Henoc já são candidatos à eternidade, habitantes do paraíso (...) e estão confirmados em graça', segundo Suárez.
‘E embora não vejam a Deus, nem gozem da beatitude celeste, recebem muitas luzes e consolações divinas, pois estão como que ‘no átrio da casa do Senhor’. Pelo que são visitados pelos anjos com muito maior frequência que os outros homens, e com eles conversam.
‘Vivem da palavra divina, sem alimento nem bebida para o corpo, porque Deus lhes conserva incorruptos (assim como suas roupas, como conservou as vestes dos judeus durante quarenta anos no deserto), sãos, alegres, ágeis, gozosos, exultantes com sua situação, estado e missão.
‘E dão graças a Deus, porque só eles dois – entre muitos milhões de homens – foram escolhidos para lutar por Nosso Senhor no fim do mundo contra o Anticristo, converter as nações e os judeus e ser coroados com um martírio glorioso.
‘E, por causa de seu rapto, incorruptibilidade e longevidade, comunicar aos homens a fé e a esperança na ressurreição’ (R. P. Cornelio a Lapide SI, Commentaria in Scripturam Sacram, Ludovicus Vivès Bibliopola Editor, Paris. In Librum IV Regum, Cap II, 11).
Santo Tomás de Aquino também conclui: ‘Henoc foi levado para o paraíso terrestre, onde se crê que, juntamente com Elias, viverá até que ocorra a vinda do Anticristo’. (Suma Teológica, Parte III, questão 49, artigo 5, objeção 2).
Elias e Henoc se encontram com a idade que tinham na Terra quando foram levados.
Segundo o Génesis, Henoc tinha 365 anos quando deixou a Terra.
Segundo Cornelio a Lapide, Elias tinha 46 anos pelo menos quando foi arrebatado (id. ibid.). Em 20 de julho de 2017, a Igreja comemorou o 2931º aniversário do rapto de Elias.
Presença e intervenção de Elias nos eventos humanos
Santo Elias, século XVIII. Igreja do Santo Anjo, Sevilha, Espanha.
O segundo livro de Paralipómenos (XXI, 12) narra que Joram, rei de Judá, recebeu uma carta de Elias, que naquela data já tinha deixado a Terra. Como, quando e de que modo foi enviada essa missiva do além?
O próprio Pe. Cornelio a Lapide, após analisar abundantes opiniões de teólogos e doutores, conclui:
‘Elias, portanto, escreveu a carta no paraíso, para increpar mais rigorosamente o ímpio e convertê-lo, assim como para tornar patente quanta solicitude têm ele e os santos pelos homens fiéis, ainda depois desta vida’ (Cornelio a Lapide, id. ibid, In Librum II Paralipomenon, Cap. XXI).
E acrescenta: ‘Vemos que Elias, pese a ser morador do paraíso, mantém acesso seu prístino zelo por Deus, cuidando dos assuntos dos homens mortais, solícito pela salvação de seu povo’ (Cornelio a Lapide, id. ibid., In Ecclesiasticum, cap. XLVIII, 1-12).
Aplacar a cólera divina e reacender o amor de Deus
O Eclesiástico também diz de Elias: ‘Tu que foste escolhido pelos decretos dos tempos para amenizar a cólera do Senhor, reconciliar os corações dos pais com os filhos, e restabelecer as tribos de Jacó’ (Eclesiástico, 48, 10).
Sobre isso comenta Cornelio a Lapide: ‘Deus decretou com juízo justo e sapiencial que, após muitos milhares de anos, num tempo determinado, num certo ano, mês e dia, Elias voltará para lutar por Cristo contra o Anticristo. (...) ‘É como se dissesse: ‘está prescrito e predito que, num determinado tempo previsto e decidido por Deus, tu voltarás para Lhe aplacar a ira’.’ (Cornelio a Lapide, id. ibid).
Anúncio divino da vinda de ambos os profetas
No Apocalipse, Deus anuncia para os últimos tempos: ‘incumbirei às minhas duas testemunhas, vestidas de saco, profetizarem por mil duzentos e sessenta dias. São eles as duas oliveiras e os dois candelabros que se mantêm diante do Senhor da terra’ (Ap, XI, 3 e 4.).
Após avaliar grande número de opiniões, Cornelio a Lapide da a interpretação mais recorrente:
‘essas duas testemunhas indicam aqueles dois varões que lutarão por Cristo contra o Anticristo. Todos concordam que um deles será Elias. (...) se depreende das palavras de São João que eles aparecerão na terra de modo súbito e inopinado.
‘Sem embargo, como virão, se transportados visivelmente pelos ares por um carro de fogo, ou por uma nuvem, ou por qualquer outro meio; como aparecerão imperceptível e subitamente em Jerusalém, ou em algum outro local, nem a Escritura, nem os Padres explicam’ (Cornelio a Lapide, id. ibid. In Apocalypsin, cap XI, 3-19).
As duas testemunhas lutarão contra o Anticristo. Foto: Ottheinrich-Bibel, Bayerische Staatsbibliothek.
Quem virá nos salvar? O profeta Elias ou alguém com seu espírito?
Santo Elias, Monte Carmelo, Terra Santa, mosteiro de Elias, estátua onde exterminou os profetas de Baal.
O Beato Palau era consumido pelo desejo de que viesse o próprio profeta Elias em pessoa, a mandos do próprio Deus para libertar a Igreja e a Civilização da ditadura da Revolução (ver Beato Palau: Deus dispôs uma missão extraordinária para nos libertar )
Mas reconhecia que poderia não tratar-se dele próprio, mas de alguém revestido de seu espírito e de sua missão.
Quer dizer, de outra pessoa que merecesse ser chamada de Elias por semelhança de perfil moral, virtudes e tarefa providencial.
‘Será Elias o tesbita, aquele próprio que profetizou durante o reinado de Acab e Jesabel, reis de Israel? Não sabemos.
‘Mas não tem nada contra a fé acreditar que seja um homem qualquer, um pescador como Pedro, o filho de um marceneiro como Jesus, um pobre homem, ignorante segundo a ciência do mundo, mas sábio para sua missão’ (‘Cálculos del Ermitaño’, El Ermitaño, Nº 163, 21-12-1871).
‘Virá ele próprio, o tesbita — refletia em outra ocasião —, ou antes seu espírito e sua missão em um Moisés. Não nos atrevemos a emitir um juízo.
‘Talvez seja sua missão, e não sua pessoa, e em tal caso cairiam muitos em erro, porque diriam dele o que disseram de Jesus filho, de um marceneiro, e de uma mulher chamada Maria (...)
‘um homem com missão especial de Deus: esse homem, quer se chame Elias, Henoc, ou o que quiserdes, será o Restaurador’ (‘La Restauración’, El Ermitaño, Nº 154, 19-10-1871).
‘Esse apóstolo será Elias, o Elias prometido, seja qual for o nome que ao parecer lhe será dado.
‘Chame-se João, Moisés, Pedro, o nome importa pouco; a missão de Elias restaurará a sociedade humana porque assim Deus, na sua Providencia, tem ordenado’ (‘Anarquía social’, El Ermitaño, Nº 113, 5-1-1871).
A distinção entre a pessoa de Elias e seu espírito e missão é fundamental. Mas apresenta dificuldades que a relação entre São João Batista e Santo Elias ajuda a esclarecer.
São João Batista increpa o rei Herodes. Foto: Giovanni Fattori (1825 - 1908).
O profeta Zacarias comparou São João Batista a Elias e anunciou que seria o precursor de Nosso Senhor Jesus Cristo:
‘Caminhará diante do Senhor no espírito de Elias para conduzir os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos a fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto’ (Lc, I, 17).
Por sua vez, quando os discípulos indagaram a Nosso Senhor como entender aquelas palavras de que seria precedido por Elias, o Divino Mestre respondeu:
‘Eu vos digo: Elias já veio, e não o reconheceram, pelo contrário, fizeram com ele o que quiseram; (...) Então os discípulos entenderam que lhes falava de João o Batista’ (Mt, XVII, 12-13).
Dessa maneira, em sentido simbólico-místico, São João Batista foi o Elias anunciado para antes da primeira vinda de Nosso Senhor.
Enquanto tal, é distinto do Elias histórico, que profetizou nos tempos de rei Acab e que retornará à terra antes da segunda vinda de Nosso Senhor e do Juízo Final.
O acatadíssimo comentarista das Sagradas Escrituras, Padre Cornelio a Lapide SJ, explica que o ‘espírito de Elias’ consiste ‘no espírito da virtude, quer dizer, da força e da eficácia. (...)
‘Esse espírito foi semelhante em Elias e em João Batista. (...) ‘assim como Elias precederá com grande força de espírito e eficácia a segunda vinda de Cristo, de modo a debelar os infiéis e convertê-los à fé, assim também João, com o mesmo espírito e a mesma eficácia, precedeu a primeira vinda de Cristo 'para converter os filhos ao coração dos pais, e os incrédulos à prudência dos justos' (R.P. Cornelio a Lapide SI, Commentaria in Scripturam Sacram, Ludovicus Vivès Bibliopola Editor, Paris. In Lucam, Cap I.).
Por tudo isso, se não vier Elias em pessoa, o bem-aventurado deduzia lógica e firmemente que viria um enviado de Deus dotado da força e da eficácia do grande profeta do Carmelo para restaurar a Igreja e a civilização cristã.
Fonte: https://aparicaodelasalette.blogspot.com.br/p/beato-palau.html#17080816