Dente-de-leão, radite-bravo, chicória-silvestre, chicória-louca, salada-de-toupeira e a lista de nomes continua!
Essa plantinha de flores amarelas, sementes voadoras (a parte do pompom) e folhas verdes em formato de serra, chamada cientificamente deTaraxacum officinale, é de origem europeia e, no Brasil, é um vegetal ruderal, ou seja, nasce por aí espontaneamente sem trabalho nenhum. O dente-de-leão se adapta em vários tipos de solo e é possível encontrá-lo até em fendas no asfalto, mas ele cresce melhor em gramados saudáveis.
O dente-de-leão é perene, o que significa que suas folhas não caem e ele tem um ciclo de vida longo. Necessita de sol pleno e sua altura varia de 5 cm a 30 cm. Além disso, a lista de benefícios do dente-de-leão para a saúde descobertos pelas medicinas tradicionais chinesa, árabe e nativo-americana (e comprovados pela ciência) é grande.
Alguns desses benefícios podem ser aproveitados inclusive pelo consumo direto, pois o dente-de-leão é comestível, sendo reconhecido como Panc (planta alimentícia não convencional).
De acordo com um estudo publicado pelo Journal of Oncology, apesar de o extrato das flores e das raízes não apresentarem nenhum efeito sobre células cancerosas da mama e da próstata, o extrato da folha do dente-de-leão, em contrapartida, reduziu o número de células cancerosas desses órgãos.
Outro estudo, publicado pela revista acadêmica Elsevier, demonstrou que as folhas de dente-de-leão têm propriedades que protegem o fígado contra danos causados pelo álcool. Além disso, o extrato de suas folhas apresenta efeito anti-inflamatório.
Outras propriedades benéficas podem ser obtidas a partir do extrato da flor do dente-de-leão, que são o efeito antioxidante e antitumoral, segundo publicação do Journal of Agricultural and Food Chemistry.
O consumo das folhas de dente-de-leão ainda traz efeitos antirreumáticos, diuréticos e melhora a produção da bile. E não para por aí: de acordo com o International Journal of Molecular Science, a raiz e as folhas do dente-de-leão têm potencial para controlar os níveis de colesterol, podendo prevenir aterosclerose (formação de placas de gordura na parede das artérias), que pode levar ao infarto do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais.
O Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRM-SP) reconhece o dente-de-leão como uma planta medicinal para o tratamento de distúrbios digestivos, como estimulante do apetite e diurético. A recomendação é fazer a infusão de três a quatro colheres de chá do dente-de-leão (inteiro) em uma xícara de chá de água fervente, esperar amornar e tomar três xícaras ao longo do dia.
O dente-de-leão também possui contraindicações, não podendo ser utilizado por crianças menores de dois anos e pessoas que possuam obstrução dos dutos biliares e do trato intestinal, gastrite, úlcera gastroduodenal e cálculos biliares. O consumo de dente-de-leão também pode causar efeitos colaterais como hiperacidez gástrica e queda de pressão.
É muito fácil confundir o dente-de-leão com outra hortaliça, a serralha, cientificamente conhecida como Sonchus oleraceus, pois ela também possui flores amarelas e sementes voadoras em formato de pompom. Duas características que as diferenciam e tornam mais fácil o reconhecimento estão nas folhas e nas flores. As folhas da serralha são mais achatadas e podem surgir vários botões de flores de uma mesma haste, diferente do dente-de-leão, em que as folhas são mais longas, com mais aspecto de dente de leão (literalmente), e só brota uma flor por haste. Nas imagens abaixo é possível perceber essa diferença:
Serralha (Sonchus oleraceus) - vários botões em uma mesma haste e folhas mais achatadas que as do dente-de-leão. Sten, Sonchus-oleraceus-flowers, CC BY-SA 3.0
Dente-de-leão (Taraxacum officinale) - uma única flor por haste e folhas mais alongadas. H. Zell, Taraxacum officinale 001, CC BY-SA 3.0
Para quem não tem olhos muito acostumados, talvez não seja tão fácil diferenciar essas duas, mas se você quiser apenas fazer uma salada, não se preocupe muito com essa questão, pois ambas são comestíveis!
O maior cuidado é procurar em solos que não tenham histórico de contaminação por esgotos, metais pesados ou proximidade com cemitérios (entre outras fontes poluidoras).
Além de ser usado como remédio, você já sabe: o dente-de-leão também é comestível! Inclusive é reconhecido pela FAO (importante instituição das Nações Unidas que trata de questões alimentares) como fonte alimentar. Um estudo publicado pela Plant Foods Hum Nutr mostrou que cada 100 gramas (g) de dente-de-leão possui 15,48 g de proteína e 47,8 g de fibras, quantidades significativas para ser considerado como fonte alimentar, segundo o próprio estudo. A mesma pesquisa aponta o dente-de-leão também como fonte de potássio e auxiliar no emagrecimento, por ajudar na formação do bolo fecal.
E ele é integralmente comestível - raízes, caules, folhas e flores. Lembra muito o sabor de hortaliças amargas, como a catalônia. E, para quem gosta de sentir um gostinho amargo, é possível prepará-lo como salada, suco verde e chá. Sua raiz assada pode inclusive substituir o café. Mas quem não gosta de amargor e ainda assim quer aproveitar os benefícios do dente-de-leão pode refogá-lo em azeite e alho para suavizar. Outra possibilidade é fazer uma farofa de dente-de-leão, como na receita abaixo:
Ingredientes
Guardar as flores lavadas e mantê-las cruas para decorar o prato (opcional).
Modo de preparo
Despeje as quatro colheres de sopa de azeite em uma panela e leve ao fogo com a cebola picada. Antes da cebola começar a dourar totalmente, acrescente o dente-de-leão e, após refogá-lo, com a cebola já dourada, acrescente a farinha de mandioca e o sal. Mexa todos os ingredientes até dourar a farinha levemente e, pronto, já pode servir. Você também pode usar as flores cruas (lavadas) para decorar o prato, pois também são comestíveis.
O consumo não só do dente-de-leão, mas de todas as Pancs (plantas alimentícias não convencionais), deve ser praticado e incentivado como forma de diminuir impactos ao meio ambiente. Isso porque, ao consumirmos espécies não convencionais e principalmente aquelas que nascem espontaneamente, diminuímos a pressão ambiental causada pela aplicação de insumos, agrotóxicos, práticas de monocultura e pelo transporte.
Além disso, praticar e disseminar o tratamento medicinal por meio das plantas é uma forma de melhorar o acesso à saúde, principalmente daqueles que não possuem condições de financiar seus gastos com a medicina tradicional, que é muito cara.
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