A intervenção do ‘coisa-ruim’, do diabo, no itinerário espiritual de Padre Pio é um fenômeno desconcertante: uma luta contínua e obstinada entre o Padre e satanás. Trata-se de um duelo de morte, sem tréguas e sem medir esforços: múltiplas são investidas, inúmeros os ataques, atrozes as tentações.
O demônio aparecia-lhe de distintas maneiras. Algumas vezes até na aparência de animais, de mulheres bailando danças impuras, de carcereiros que o açoitavam e inclusive sob a aparência de Cristo Crucificado, de seu Anjo da Guarda, São Francisco de Assis, a Virgem Maria, também sob a aparência de seu diretor espiritual, seu provincial, etc… Mas depois destes assaltos do demônio, era consolado com êxtases e aparições de Jesus, a santíssima Virgem Maria, seu Anjo da Guarda, São Francisco e outros santos.
Os ataques diabólicos produzem na alma de Padre Pio, sobretudo, uma angústia muito penosa e extenuante: ‘As tentações’, escreve Padre Pio,’ estão mais ferozes do que nunca. Afligem-me muito, não tanto pela contínua violência que sou obrigado a dirigir a mim mesmo, mas por sua brutalidade e contínua hostilidade. Mesmo durante as horas de repouso o demônio não deixa de afligir-me a alma de várias maneiras. Em vez de cessar, as guerras espirituais tornam-se mais duras. O inimigo está tão irado que não me deixa em paz um minuto, hostilizando-me de todos os modos’.
O maligno tenta de todas as maneiras possíveis e lança mão de todos os artifícios, redobrando esforços para prejudicar o pobre padre. Com suas artes malignas, satanás não se cansa de investir contra ele, procurando expugnar a pequena fortaleza com um cerco total. Assim, Padre Pio é atormentado continuamente pelo diabo, não apenas durante o dia, mas também de noite: nas horas de descanso, o demônio não deixa de afligir-lhe a alma de várias maneiras. Os ataques satânicos contra o Padre são contínuos, irados, furiosos; e são também cruéis, ferozes, sem piedade.
As cartas de Padre Pio são bem claras a esse respeito.
‘A noite passada’, confidencia ao Padre Agostino, ‘eu passei muito mal. Desde que me deitei, às cinco da manhã, aquele coisa-ruim não fez outra coisa senão importunar-me. Encheu minha cabeça com inúmeras tentações diabólicas e pensamentos de desespero e de desconfiança em relação a Deus. Às cinco da manhã, assim que aquele coisa-ruim foi embora, um frio se apossou de toda a minha pessoa e eu me pus a tremer dos pés à cabeça, como um caniço exposto a um vendaval. Durou algumas horas. Cheguei a verter sangue pela boca.’
Algumas vezes satanás se faz acompanhar de numerosos sequazes para melhor torturar Padre Pio. Escrevendo ao Padre Agostino, o Padre diz:
‘Vou contar-lhe o que tive de passar nas mãos daqueles apóstatas impuros. Noite alta, começaram seu assédio com um barulho diabólico e, embora eu nada pudesse ver no começo, sabia muito bem quem o produzia. Assim, em vez de me assustar, preparei-me para a batalha dirigindo-lhes um sorriso zombeteiro. Então, eles se apresentaram assumindo as formas mais abomináveis e, para fazer-me prevaricar, começaram a me lisonjear. Mas, graças aos céus, censurei-os asperamente, dando-lhes o tratamento que merecem. Quando viram que seus esforços eram inúteis, investiram contra mim, atirando ao ar travesseiros, livros, cadeiras, enquanto soltavam gritos desesperados e pronunciavam palavras incrivelmente sujas’.
Vendo que suas sugestões não eram ouvidas e tendo recebido uma resposta sarcástica, o diabo investe contra o Padre junto com seus sequazes, maldizendo-o e golpeando-o fortemente, ameaçando até destruí-lo. E satanás ainda faz a seguinte ameaça a Padre Pio: não lhe dará trégua e fará com ele coisas que a mente humana jamais conseguirá imaginar. Essa ameaça foi mantida com toda a tenacidade durante toda a vida do Estigmatizado de Gargano. Todos podem comprovar esse fato passando em revista o que o Padre teve de sofrer sempre, não apenas por parte de satanás, mas também da parte dos homens.
Não contente com isso, o demônio não cessou de aparecer-lhe com suas formas horrendas, atingindo-o todos os dias de forma verdadeiramente assustadora, bárbara. Numa carta posterior a Padre Agostinho, Padre Pio esclareceu: ‘Barba-azul não se dá por vencido. Apresentou-se de quase todas as formas. Há alguns dias vem me visitando junto com outros sequazes armado de bastões e objetos de ferro e, o que é pior, em sua forma própria. Não imagina quantas vezes derrubou-me da cama arrastando-me pelo quarto!’
O Padre é atingido por satanás continuamente. Tem sensação de estar esmagado sob a poderosa força daquele triste coisa-ruim. Em meio a provas tão assustadoras e entre torturas tão extenuantes e terríveis, está convencido, pela fé, de que tudo acontece com a permissão de Jesus e segundo Seus objetivos sagrados. ‘Jesus não deixa de me amar’, escreve ele, ‘embora eu não mereça, porque permite que aqueles cães horríveis continuem a me afligir. Há 22 dias, sem interrupção, Jesus permite que essas coisas descarreguem sua ira sobre mim. Meu corpo, querido pai, está todo machucado por causa dos golpes que nossos inimigos lhe desferiram. Mais de uma vez eles chegaram a tirar minhas roupas e golpear-me naquele estado. Agora me diga se não foi Jesus quem me ajudou nesses tristes momentos em que os demônios procuraram destruir-me e levar-me a perdição… Considera ainda que, mesmo depois que eles foram embora, eu fiquei muito tempo sem poder me vestir porque não conseguia me mexer. E isso com esse inverno todo! Quantas desgraças teriam caído sobre mim, se nosso dulcíssimo Jesus não tivesse me ajudado! Não sei o que vai ser de mim. Sei apenas que o Senhor nunca deixará de cumprir Suas promessas. Jesus continua a me dizer: ‘Não deves ter medo. Eu te farei sofrer, mas também te darei forças. Desejo que esse martírio cotidiano e oculto prove e purifique tua alma. Não te assustes se permito que o demônio te atormente, que o mundo te entristeça, que as pessoas mais queridas te aflijam, pois nada sucederá àqueles que sofrem sob a cruz por me amarem, àqueles que eu me empenhei em proteger’.
‘Quantas vezes’, Jesus me disse um pouco antes, ‘terias me abandonado, se eu não te tivesse crucificado.'
Padre Pio confia a Padre Benedetto: ‘Jesus não deixa de me visitar amavelmente e de me encorajar a lutar contra nosso inimigo comum.’
Há dois grandes acontecimentos na vida de Padre Pio, aos quais sempre atribuiu grande importância e sobre os quais comentou, frequentemente, com seu diretor espiritual. Ambos acontecidos no ano de 1903, por volta de seus 15 anos, pouco antes de sua entrada aos capuchinhos.
Trata-se de uma visão.
Os dias antes de entrar ao seminário foram dias de visões do Senhor, que lhe preparariam para grandes lutas Espirituais. Jesus lhe permitiu ver o campo de batalha, os obstáculos e inimigos.
Francesco viu perto dele um homem de grande esplendor, belíssimo que o convida: ‘Vem comigo, porque é conveniente lutar com um guerreiro valoroso.’ Ele o acompanhou até um campo que parecia infinito e encontrou dois grupos de pessoas assim: De um lado havia homens radiantes, com vestiduras brancas e muito belos; ao outro lado, estavam pessoas que se pareciam com imensas bestas espantosas, horripilantes com vestes de cor preta. Era uma cena aterradora e os joelhos do jovem Francisco começaram a tremer. Repentinamente Francesco se viu caminhando ao encontro de um homem gigante horrível, que sua cabeça chegava às nuvens. O Homem esplendoroso estimulou Francesco a lutar contra aquele gigante; Francesco pediu para evitar aquele confronto, mas o Homem esplendoroso disse: ‘É vã a sua resistência. Entre nessa luta com confiança e combata corajosamente; você deve lutar conta ele. Diante dos acontecimentos, entre nesta luta com confiança e lute bravamente; Eu estarei perto de você, o ajudarei e não permitirei que ele te vença’.
O combate foi muito terrível, mas com a ajuda do Homem esplendoroso, o gigante foi vencido e obrigado a fugir; arrastando atrás de si toda aquela multidão de homens asquerosos, gritando blasfêmias e brados atordoados. Do outro lado a multidão das pessoas de branco, explodiram de alegria e júbilo louvando o Homem esplendoroso que havia ajudado Francesco naquela luta. Foi neste intervalo que o Homem esplendoroso colocou na cabeça de Francesco uma coroa belíssima; removendo-a disse: ‘Tenho reservada para você uma outra coroa, mais bela, se você souber como lutar nos encontros contra aquele gigante. Ele tornará a assaltá-lo sempre, mas você deve combater sem medo, Eu o farei sempre vencedor porque você o fará se prostrar sempre’.
Toda a vida de Padre Pio foi uma contínua luta contra o demônio (o gigante) que atacava sempre o padre Pio para impedi-lo de salvar as almas. Era uma batalha interior frequente; algumas vezes, também um ataque externo. Quando o padre ficava exausto, cheio de marcas das pancadas, vinham seus confrades socorrê-lo, ele sempre confessava: ‘Obrigado! Com a ajuda divina, eu sempre venço!’. Esse acontecimento foi uma prévia muito significativa de toda a luta na vida de Padre Pio.
Um segundo acontecimento, logo após o primeiro, mas também antes que Francesco ingressasse aos capuchinhos. É mais difícil falar deste, porque com relação a ele, o padre foi sempre bastante reservado. Disse e escreveu unicamente o essencial, porque para ele era um acontecimento bastante particular, ‘uma grande missão’. Mas nunca especificou do que se tratava. ‘Uma missão grandiosíssima, importante somente para Ti e para mim’. Escreveu isso em uma oração pessoal. Talvez, algum sinal; um exemplo foi a grande insistência com que pediu aos superiores de ser indicado para o ministério da confissão.
Estas são as duas visões que deram sinal profundo na vida de Padre Pio. Na sua luta contra Satanás revivia, sempre, aquele confronto com o gigante. E tem sempre presente ‘a missão grandiosíssima’ que o Senhor lhe havia mostrado; será uma recordação que o suportará na dura luta da longa vida, por causa do atroz sofrimento, como os estigmas, nas ocasiões de calúnia e dos endossos canônicos: oferecia tudo ao Senhor como execução daquela missão. Será esse o segredo de sua inalterada serenidade?
Realismo e esperança. Foi como escreveu para duas filhas espirituais, Maria Garzani e Raffaela Cerase.
Fonte: https://saopio.wordpress.com/category/a-vida-de-pe-pio/page/3/