Pelo olhar entra o pecado. Por isso, o olhar deve ser puro, casto, modesto, deve evitar o excessivamente agradável aos sentidos, deve desconfiar dos sentidos corporais e dos prazeres associados. A guarda dos sentidos será a guarda da ocasião de pecar. Peca-se com o pensamento porque primeiro se pecou com os olhos
Não terás pensamentos ou desejos impuros.
(Nono Mandamento)
'Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia'. (Tg 1,14)
Por Pe. Juan Manuel Rodriguez de la Rosa – Adelante la Fe | Tradução Sensus fidei:
Queridos irmãos, muitos não são conscientes da importância do olhar para se evitar a pecar, pois peca-se com o olhar. Olha-se de cima para baixo, de baixo para cima. Não se vigia o olhar. Não se olha para a alma das pessoas com os olhos, olha-se com desejo para o corpo. Atraído pela aparência, há quem se enfraqueça até cair em pecado. Olha-se com desejo, com o pensamento dissoluto, deleita-se e a alma peca. É necessário aprender a vigiar o olhar.
Tudo começa com o olhar. Quando alguém vê algo desagradável, rapidamente afasta o olhar, esforça-se para não olhar. Mas se, depois, vê algo ou alguém agradável, delicia-se com o prazer dos sentidos. O espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt. 26, 41). Abre-se a brecha para o pecado. Entra o desejo daquele que é olhado, o desejo da pessoa para a qual se olha. Muitos não entendem que por trás de algo, dizem, que é superficial, justificável e normal, na verdade, está a tentação do demônio. Lembremos as palavras do Apóstolo: 'Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares'. (Ef 6,12). Nas lutas interiores da alma acrescentam-se as acometidas e tentações exteriores, que algumas vezes combatem abertamente, e outras por caminhos ocultos que introduzem a alma em tal estado de paixão cega que não pode ver-se livre por si mesma.
Quando na alma entra o espírito maligno, a malícia espiritual, ouve-se: Eu quero teu corpo. É o desejo pela pessoa para a qual o olhar se deleitou com atenção e prazer. Aquele corpo que se olhou com aparente normalidade, porque era belo, agora deseja-se cegamente, apaixonadamente.
Pode acontecer, em muitas ocasiões, que pessoas que desejam a Deus com grande fervor, que desejam viver santamente, pecam, inconscientemente, com o desejo carnal, pois o confundem. Dizem: Se eu pudesse abraçar essa pessoa, abraçaria o próprio Deus, de tão perfeito, agradável, amável que até mesmo parece divina. Pensam, convictamente, que conheceram a pessoa perfeita, mas o desejo as abrasa. O desejo apoderou-se delas. São presas do maligno, que, constantemente está em guerra contra a alma. Por esta razão, não podemos estar em paz, mas em constante vigília contra as investidas do demônio, que, no caso em questão, age através do olhar.
Pelo olhar entra o pecado. Por isso, o olhar deve ser puro, casto, modesto, deve evitar o excessivamente agradável aos sentidos, deve desconfiar dos sentidos corporais e dos prazeres associados. A guarda dos sentidos será a guarda da ocasião de pecar. Peca-se com o pensamento porque primeiro se pecou com os olhos.
Muitos não pensam, não levam em conta, não dão importância. Um olhar complacente de hoje, outro amanhã; uma maior atenção ao corpo, mais tarde, e sem perceber, a alma peca pelo pensamento, em primeiro lugar. Já entrou aí o espírito maligno do desejo, da paixão dominadora da razão. O demônio já entrou, conseguiu capturar a alma na tentação do desejo carnal.
É a alma o que agrada ao Senhor. Mas o demônio arrasta a pessoa ao desejo do corpo. Tenta-a para fazê-la pecar em pensamento através do olhar.
Vivemos a dolorosa e triste circunstância em nossa Mãe Igreja, em que os próprios locais de culto, onde tudo deveria estar cercado pelo pudor, pelo respeito, pelo recolhimento, no entanto, como o mundo, tornam-se lugares onde se pode pecar com o olhar. O atrevimento do mundo entrou na Santa Igreja, com o consentimento e o apoio dos Pastores. E já nem mesmo a própria igreja é um lugar onde se possa descansar o olhar de tanta imoralidade. Não se respeita nem sequer a puríssima santidade de Nosso Senhor, e ofende-se o sacerdote que quer e deve manter limpos os seus sentidos.
Nem pensamentos nem desejos impuros. Ou seja, nem mesmo um. Não devemos tê-los, nem os consentir. Isto supõe uma vigilância constante dos nossos sentidos, uma desconfiança quando querem fixar-se com deleite naquilo que pode levar a pensamentos impuros e ao pecado.
Ajudar-nos-á muito as palavras do profeta Isaías falando sobre o demônio e sua derrota, lembre-se deste provérbio: Eu subirei ao Céu — In Coelum conscendam (Is 14, 13). Não podia subir ao céu, mas ele tenta. A tentação da alma é constante. Escalarei os Céus, e não deixará de tentar um só instante. O que é mais fácil e aparentemente inocente do que um olhar? A brecha se abriu, e o maligno começa a escalar.
Como reconhecer este pecado? Quando a concupiscência da carne deseja ardentemente, como diz São Paulo: 'Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis'. (Gl 5,16-17).
Tudo começou com um simples olhar. Continuou com uma atenção minuciosa do corpo que se contempla. O pensamento recreia-se aquiescendo, sem rechaçar o pensamento. O desejo cresce e toma conta da pessoa. O pecado entra na alma. 'A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.' (Tg 1,15).
Como libertar a alma deste pecado e de todos os outros? Somente com a confissão detalhada do pecado. Unicamente detalhando o pecado minuciosamente se poderá expulsar o espírito maligno que domina a alma. Não estamos falando aqui de curiosidade mórbida, de indiscrição, mas de tato, delicadeza, de firmeza diante do pecado a ser detalhado para fazê-lo desaparecer da alma pecadora. Isto não é compreendido nem pelos confessores nem pelos penitentes.
É um grande erro pensar que é suficiente a indicação geral e superficial do pecado. O confessor deve ajudar o penitente a chegar até o fundo de sua alma e encontrar o pecado oculto, esse que, por si só, as almas não podem descobrir. Deve-se conduzir a alma sem perturbá-la, mas reta e firmemente, sem falsos preconceitos. Há também muitos preconceitos entre confessor e penitente; o penitente espera que o confessor lhe dê razão. Os confessores não se atrevem a perguntar e os fiéis não gostam que o façam. Desgraçadamente, hoje nos encontramos no tempo em que o confessor se torna cúmplice do penitente.
A confissão detalhada do pecado, a ajuda do confessor, a dor da ofensa a Deus, o propósito de não voltar a pecar novamente, a vigilância firme do olhar, a rejeição instantânea do mau pensamento, ajudar-nos-ão a não voltar a pecar, a libertar a alma das garras do tentador e a descobri-lo para combatê-lo.
Não consentirás pensamentos nem desejos impuros.
Ave Maria Puríssima.
Pe. Juan Manuel Rodriguez de la Rosa.
Publicado originalmente: Adelante la Fe – La mirada, el pensamiento y el pecado
Fonte: http://www.sensusfidei.com.br/2016/08/08/o-olhar-o-pensamento-e-o-pecado/#.V7dDffkrIdV