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Nossa Senhora da Estrada
(Leon - Espanha)
Muitos anos haviam transcorrido, depois da expulsão dos muçulmanos pelos reis católicos do seu último baluarte de Granada. Leon não era ainda a capital de um reino independente, mas pela piedade de seus habitantes ocupava sempre um lugar proeminente nas pompas da Igreja, e o Senhor, querendo premiá-los, presenteou-os com uma imagem da Santíssima Virgem, a qual havia de servir de soberano remédio em suas necessidades.
O pastor Simón Gómez Fernández, muito bom cristão e fervoroso devoto de Nossa Senhora, foi o instrumento de que a Divina Providência se valeu para fazer aos leoneses tão valiosa dádiva.
Uma tarde, no começo do século XVI, estava ele a pouco mais de uma légua da mencionada cidade, guardando seu rebanho e entregue à oração, quando de repente lhe aparece a Rainha do Céu, tendo nas mãos uma imagem que apresentou ao admirado pastor, a quem disse estas palavras: “Vai à cidade e dize ao bispo que venha a este sítio e coloque em lugar conveniente esta minha imagem, pois meu Filho quer que ela apareça aqui para o bem de toda esta terra”.
Simão ouviu essas palavras tão perturbado que perdeu durante alguns minutos o uso dos sentidos, exceto o da vista, que não cansava de contemplar a celestial aparição que o tinha extasiado. Refazendo-se, enfim, com a voz entrecortada pela comoção que experimentava em todo seu ser, respondeu à Santíssima Virgem, nestes termos: “Senhora, como haverão de crer em mim, se não levo algum sinal de que sois vós quem me envia?”
E a Virgem Maria replicou: “Dá-me essa funda que tens na mão”. Obedeceu o pastor, e a Virgem, tomando-a, ajuntou uma pedrinha e arrojou-a com a funda, dizendo logo a Simão: “Dize ao bispo que venha, e encontrará essa pedra tão grande que não duvidará de que eu te envio e de que é vontade de meu Filho que minha imagem seja colocada no lugar onde está a pedrinha que joguei”.
Ditas essas palavras, a visão desapareceu, ficando no campo a imagem de Maria.
O pastor foi correndo até a cidade e, entrando no palácio episcopal, relatou ao prelado quanto lhe acabava de suceder, encarecendo a necessidade de que se dirigisse ao lugar onde tinha ficado a imagem à espera de sua resolução.
O bispo ficou maravilhado ao ouvir uma narração tão singular e, como varão douto e prudente, quis certificar-se pessoalmente da verdade do fato que o pastor acabava de comunicar-lhe. Acompanhado, portanto, de seus familiares e outros eclesiásticos e seculares, saiu da cidade levando como guia o pastor, que se deteve depois de uma caminhada de uma hora diante da santa imagem, que encontraram tal qual a tinha deixado a Santíssima Virgem.
Depois de venerá-la, foi o prelado ver a pedra arrojada pela Rainha do Céu com a funda do pastor Simão, tendo-a encontrado tão crescida que mais parecia uma rocha do que uma simples pedra. Em vista disto, o prelado exigiu que o pastor jurasse se era aquela efetivamente a pedra que a Santíssima Virgem havia jogado com sua funda, e, tendo o pastor jurado, deu o bispo as ordens necessárias para a construção de uma ermida no lugar em que caíra a pedra, e a entronização da sagrada imagem em seu altar.
A modesta ermida converteu-se dentro em pouco em formoso santuário, que pela piedade dos fiéis foi enriquecido com valiosos dons, e tantos, que já no século XVII foram forçados a acrescentar ao templo uma espaçosa sala, para servir de depósito das alfaias e jóias que a multidão de devotos acumulava aos pés de Nossa Senhora da Estrada.