Pero Martins, descendente de família humilde, nasceu em Carnide e, quando se julgou com forças para lutar pela vida, foi trabalhar no Algarve, onde, passado algum tempo, casou com Inês Anes, senhora de algumas posses. Depois voltou para Carnide, onde fixou residência.
A História o apresenta como cativo na África, mas não diz a razão desse cativeiro. É provável que Pero Martins fosse vítima de alguma das incursões que os mouros faziam com suas embarcações aos territórios cristãos, porque, segundo diz uma notícia do tempo, ele possuía no Algarve terras que sua mulher herdara como dote, e é bem possível que numa de suas estadas nesse extremo sul de Portugal, para cuidar de suas propriedades, tenha sido aprisionado pelos piratas árabes e levado para o norte da África.
Corria o ano 1463. Sobre a fonte do Machado, em Carnide, começou a aparecer uma luz misteriosa, cuja origem ninguém conseguia descobrir. Andava o povo alarmado, e de Lisboa e arredores muita gente vinha para ver a luz. E assim começaram a chamar o local “a Luz”.
Pero Martins, em seu cativeiro, desanimado da intercessão dos homens, começou a recorrer àquela cuja intercessão está sempre ao nosso alcance, mesmo em meio às maiores privações, e, quando todas as forças humanas são incapazes de incutir qualquer esperança: a Virgem Maria apareceu-lhe (em sonho) trinta noites consecutivas, e foi destilando resignação em sua alma atribulada, prometendo-lhe, na última noite em que o visitou, que ao acordar se acharia em Carnide, acrescentando que ali devia procurar uma imagem sua, que se achava escondida perto da fonte do Machado, num lugar que lhe seria indicado por uma luz, e que em sua honra erguesse ali uma ermida.
Assim sucedeu.
Pero Martins, ao ver-se em sua terra, tão milagrosamente salvo, deu execução ao que a Santíssima Virgem lhe recomendara. Foi, pois, uma noite, com seu primo Lopo Simões procurar a imagem. A luz estava cintilando sobre a fonte. Caminharam por entre o arvoredo e notaram que a luz também ia se deslocando, até que estacionou. Limparam o local e, ao remover umas pedras que ali estavam amontoadas, encontraram a imagem de Nossa Senhora sobre uma pedra quadrada.
Foi grande a afluência do povo logo que se espalhou a notícia do encontro de uma imagem da Mãe de Deus, e desde então começou a Virgem Santíssima a ser ali invocada com o título de Nossa Senhora da Luz.
Logo que pôde, começou Pero Martins a construção da ermida com a autorização do Senhor Bispo de Lisboa, que se prontificou a lançar a primeira pedra, cerimônia que se revestiu de grande solenidade.
A festa de Nossa Senhora da Luz começou a ser celebrada todos os anos em 8 de setembro, e as casas nobres portuguesas disputavam entre si a honra de serem as encarregadas das despesas da festa.