No fim de 1696, na cidade de Quito, Equador, achava-se gravemente enfermo um dos mais preclaros bispos de Quito, dom Sancho de Andrade e Figuerôa. Os médicos, depois de esgotar os recursos da ciência, declararam-se impotentes para curar o mal e aconselharam ao ilustre paciente que recebesse os santos sacramentos, como fez, com edificação de todos, na sexta-feira, 28 de dezembro do citado ano.
O eminente dom Sancho era muito querido do seu povo pelos dotes de inteligência, prudência, caridade e demais virtudes que o adornavam. Profundamente contristados pela doença de seu pastor, os habitantes de Quito combinaram fazer violência ao céu por meio de ardorosas súplicas, e, para que estas resultassem mais eficazes, tomaram Nossa Senhora por intercessora.
Havia, então, no pequeno povoado de Guápulo uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, cópia da célebre imagem do mesmo nome, à qual os fiéis professavam terna devoção pelos muitos prodígios que operava. Em 29 de dezembro, foi transladada a santa imagem do seu santuário de Guápulo à igreja catedral, acompanhada de grande multidão de fiéis, que, com lágrimas e orações, pediam a saúde de seu prelado àquela que, com justiça, é aclamada como a Saúde dos enfermos.
Naquele tempo havia em Quito o costume de cantar solenemente o Rosário, e, com esse intento, das principais igrejas da cidade saía uma procissão em determinado dia. À catedral correspondia o domingo. Em 30 de dezembro de 1696, tanto por causa das preces a favor de seu bispo como por ser domingo, saiu da referida igreja a procissão do Rosário, com extraordinária concorrência, não só da parte humilde, mas também da parte mais seleta da sociedade, como o presidente da Real Audiência, as autoridades civis e militares, o clero, etc., e todos cantavam com fervor as preces do saltério mariano – o Rosário.
Chegou a procissão ao adro da igreja de São Francisco justamente no momento em que se concluía a primeira dezena do Rosário. Deram com uma campainha o sinal convencionado, e todos se puseram de joelhos, começando os cantores o “Gloria Patri”. E eis que, de repente, um sacerdote levanta a voz, exclamando: “A Virgem! A Virgem!”...
Aos gritos do sacerdote todos levantam os olhos, dirigindo-os para o ponto do céu que ele assinalava com o dedo. Eram 5 horas da tarde. O ar estava sereno, e no lado do oriente, destacando-se o límpido azul do firmamento, via-se uma gigantesca imagem da Santíssima Virgem, formada como que de uma nuvem branquíssima e resplandecente, suspensa entre o céu e a terra. Viam-se distintamente os traços do rosto, um tanto inclinado para o Divino Menino, a quem sustinha no braço esquerdo, e no direito, estendido, sustinha, à maneira de cetro, um ramo de açucenas.
A aparição se manteve no ar por alguns segundos e desapareceu assim que os cantores começaram a entoar de novo a saudação angélica.
Terminada a procissão, as principais pessoas que nela tinham tomado parte dirigiram-se à residência do vigário geral da diocese para dar-lhe conta do ocorrido, e S. Revma. ordenou se lavrasse uma informação minuciosa na qual depuseram, sob a santidade do juramento, onze testemunhas das mais fidedignas, tanto eclesiásticas como seculares.
O portento da Nuvem foi confirmado pela cura inesperada e rápida de S. Exa. Dom Sancho, pois começou a melhorar no momento da aparição, ficando completamente curado poucos dias depois.
Em prova de gratidão, dom Sancho não só autorizou o culto de Nossa Senhora da Nuvem para seus diocesanos, mas também erigiu na catedral de Quito um altar especial em sua honra. Bons artistas pintaram logo alguns quadros, sendo os mais importantes os que se veneram nos santuários de Guápulo e Quinche.
O santuário dedicado atualmente a Nossa Senhora da Nuvem é o de Guápulo, distante cerca de uma hora da cidade de Quito.
Sua festa acontece em 30 de dezembro.