Após a batalha que levou o Rei Dom Rodrigo a perder a coroa e, possivelmente, também a vida, ocorreu a acelerada dominação muçulmana sobre a Espanha. Um parente próximo de Dom Rodrigo, Dom Pelayo, havia visto com grande dor a queda da monarquia visigótica nos campos de Guadalete e, não se submetendo ao jugo do invasor triunfante, como fizeram muitos, decidiu logo resistir-lhe, sem desanimar com os escassos ou quase nulos recursos que dispunha para dar início a tão árdua empresa.
A imagem de Nossa Senhora de Covadonga data do século XVI, foi talhada em madeira de carvalho e mede cerca de 72 centímetros de altura.
Passados sete anos da derrota de Guadalete, Dom Pelayo coloca-se à frente dos valorosos asturianos disposto a invadir com suas tropas a Gália gótica. A notícia do levante dos asturianos chegou aos ouvidos do wali el Horr, mas não lhe pareceu de grande importância aquele movimento belicoso dos cristãos, e acreditou ser fácil sufocá-lo. Para tanto, enviou a Cangas o seu lugar-tenente Alkamar com parte de seu exército para submeterem os asturianos postos em armas.
Quando disto teve notícia, Dom Pelayo viu logo que em Cangas de Onis, onde tinha espalhado seus soldados, não podia opor resistência ao inimigo com as escassas forças de que dispunha, contra as muito superiores em número que capitaneava Alkamar. Por isso resolveu retirar-se com seus soldados para o monte Auseba, sendo seguido por mulheres, crianças e anciãos, que buscavam refúgio no mais abrupto e fragoso daquelas brenhas.
Pelayo distribuiu então seus homens, pondo-os a postos nos cumes dos morros de onde pudessem melhor ferir o inimigo. Aos desprovidos de armas, muniu-os de alavancas e picaretas, para removerem as pedras e fazê-las cair sobre os assaltantes, enquanto ele, com quantos soldados pode reunir, emboscou-se em uma caverna ou gruta, chamada pelos nativos “a caverna de Covadonga”, e ali esperou a acometida dos mouros, encomendando-se fervorosamente, a si e a seus soldados, a Deus e à poderosa intercessão da Santíssima Virgem Maria.
Alkamar, em vista da pronta retirada de Dom Pelayo de Cangas de Onis, pensou que o pânico se havia apoderado dos cristãos e, possuído da soberba que cega os que confiam unicamente em suas forças, meteu-se ousadamente na estreita garganta que dá acesso ao monte Auseba e à caverna de Covadonga. Iniciou-se aquele combate verdadeiramente épico, do qual se conservará a memória enquanto o mundo existir: os muçulmanos, ensoberbecidos com o seu número e com as armas de toda espécie de que iam providos com abundância, e os cristãos, poucos, e grande parte sem outras armas senão as que a natureza punha à sua disposição naqueles abruptos lugares, mas cheios de confiança em Deus e na poderosa intercessão da Virgem Imaculada.
Uma chuva de flechas anunciou aos cristãos o feroz ataque dos mouros, mas a surpresa destes não teve limites quando verificaram que, antes de as forças de Dom Pelayo responderem à acometida, muitos dos mouros, feridos pelas mesmas flechas lançadas contra os cristãos, caíam por terra dando gritos de dor.
A explicação deste fato é dada pelos historiadores indiferentes em matéria de religião, ou contrários à fé cristã, dizendo que as flechas atiradas pelos mouros batiam nas penhas e de ricochete feriam os atiradores!...
As pedras e troncos de árvores lançados pelos cristãos das alturas do monte Auseba causaram também enormes danos ao exército de mouros, dizimado ao mesmo tempo pelas flechas que os soldados de Pelayo atiravam sobre eles da gruta de Covadonga, as quais feriam sempre, por se acharem os mouros encurralados na referida garganta, pela qual unicamente podiam atacar.
Tão evidente desastre desalentou sobremaneira os mouros, e, quando Alkamar viu cair morto o seu lugar-tenente Suleiman, tentou ganhar o sopé do monte Auseba, ordenando a retirada.
Nessa situação e embaraçando-se uns aos outros em tais aperturas, desabou uma furiosa tempestade, que veio aumentar o espanto e o terror dos que iam já sendo derrotados.
O estampido dos trovões, cujo eco retumbava com fragor de serra em serra; a chuva que caía a cântaros; as pedras e as árvores que de todos os lados caíam sobre os árabes; o solo, que com a chuva se tornava movediço e escorregadio, fazendo-os resvalar e cair por aqueles declives, precipitando-os em confuso montão nas águas do rio Deva, onde morriam afogados, tudo contribuiu para se crer, com fundamento, que a mão do Senhor fazia até com que se desmoronassem os montes sobre os soldados de Mafoma.
Horrível foi a mortandade no exército mouro, naquela memorável batalha, tendo quem afirmasse que não ficou um só mouro com vida!...
Um reduzido número de homens, dentro de uma caverna ou escondidos por entre as penhas, bastou para aniquilar, no breve espaço de algumas horas, um poderoso exército, embriagado pelos vapores de repetidas vitórias!
O Menino Jesus que a Virgem Maria leva com sua mão esquerda foi colocado ali em 1704.
É forçoso reconhecer, portanto, nesse conjunto de extraordinárias e portentosas circunstâncias, algo que parece exceder os limites do natural e humano. Em poucas ocasiões terá sido mais manifesta a proteção do céu, por isso não admira que os escritores de uma época de tanta fé atribuem essa milagrosa vitória à mediação da Virgem Maria, cuja imagem havia Pelayo levado consigo para a caverna.
O resultado imediato da batalha de Covadonga foi a proclamação de Pelayo como Rei das Astúrias.
Por causa da intervenção milagrosa da Santíssima Virgem, o Rei Dom Afonso I, o católico, mandou erigir o mosteiro e a capela de Nossa Senhora de Covadonga. Posteriormente, foi substituída por uma grande Basílica consagrada em 1901. Deram-lhe este título por causa da caverna na qual lutaram Dom Pelayo e seus guerreiros, onde foi colocada a imagem de Nossa Senhora que Dom Pelayo levara para a memorável gruta, que anteriormente estava em uma ermida de pequenas dimensões, perto da gruta.
A antiga ermida e a gruta ou caverna que Dom Pelayo usou para esperar a acometida dos mouros são os dois locais que mais atraem a atenção dos peregrinos.