Em 1938, pouca gente esperava uma outra grande guerra, exceto, talvez, os que prestaram atenção às aparições anteriores da Mãe Santíssima com advertências sobre ela e Winston Churchill, na Inglaterra.
Desde 1933, Adolf Hitler tratava de consolidar seu poder na Alemanha e, sob a orientação de Hitler, a Alemanha se rearmou e se transformou em força militar significativa. Em 1936, as evidências eram óbvias, mas o mundo não as percebeu. Em 1937, Neville Chamberlain tornou-se primeiro-ministro da Inglaterra. Como muitas outras pessoas, ele acreditava que Hitler era um estadista racional como ele e não ia querer outra guerra.
O novo primeiro-ministro britânico assinou com Hitler uma série de tratados de conciliação que, no início de 1938, culminaram no pacto de Munique, do qual a França participou. A milhões de ouvintes ansiosos que queriam ser tranqüilizados, Chamberlain disse pelo rádio que “a paz foi alcançada em nosso tempo”. O mundo agora estava seguro.
Na França, uma coalizão de socialistas, socialistas radicais e comunistas, chamada Frente Popular, venceu as eleições de 1936. A partir daí, até 1938, a Frente realizou importantes reformas sociais e trabalhistas, antes de ser derrubada pela oposição conservadora que, então concordou com a política de conciliação com a Alemanha nazista. A Bretanha estava longe desses graves incidentes, e ali a vida cotidiana continuava, sem se importar com o que transpirasse em qualquer outro lugar.
Kerizinen e Plounevez-Lochrist, na Bretanha, estão quinhentos quilômetros a oeste de Paris. Plounevez-Lochrist era um povoado na costa norte da Bretanha, no extremo oriental do país, que se projeta no oceano Atlântico. Kerizinen, distante uns três quilômetros, não era nem mesmo um povoado, mas apenas umas casas de pedra, antigas e pobres. A orla marítima e o Canal da Mancha ficavam quase dois quilômetros ao norte. Tudo costumava ser úmido e frio, e, do Atlântico, tempestades sopravam com freqüência.
Vidente Jeanne-Louise Ramonet.
Em 15 de setembro de 1938, Jeanne-Louise Ramonet, mulher triste e solitária, tricotava pacientemente em um dique, enquanto vigiava sua vaca leiteira que pastava na campina. Era um daqueles dias claros, ensolarados, típicos da Bretanha quando ela não estava obscurecida pelo nevoeiro e a garoa. De repente, a alguns centímetros do chão, surgiu diante dela uma “bola de luz”. A luz expandiu-se e adquiriu um contorno radiante. No centro desse globo, apareceu uma jovem de grande beleza. Jeanne-Louise caiu de joelhos e imediatamente a Senhora falou:
“Não tema! Não lhe desejo nenhum mal! Nos próximos anos, você me verá em ocasiões diferentes. Então lhe direi quem sou e o que quero de você. Uma nova guerra ameaça a Europa. Vou retardá-la durante alguns meses, pois não quero ficar surda a tantas orações pela paz que se elevam a mim, vindas de Lourdes.”
Depois de dizer isso, a Senhora ascendeu devagar, inclinando-se para o norte, e desapareceu bem alto no céu. Esse incidente deixou Jeanne-Louise aturdida, mas a mensagem e a imagem da figura ficaram firmemente gravadas em sua mente. Assim começou a aparição agridoce em Kerizinen, a primeira de muitas que ocorreram de forma intermitente durante muitas décadas.
A descrição das desgraças de Jeanne-Louise é dolorosa. Ela nasceu em Kerizinen em 7 de outubro de 1910 (festa de Nossa Senhora do Rosário), filha de Yves Ramonet e Marie-Yvonne Portel. O casal tinha nove filhos, quatro meninos e cinco meninas. A fazenda Ramonet era uma das menores da área. Na verdade, não era nem mesmo uma fazenda, mas apenas uma pequena campina com uma casinha de pedra, à qual se ligava pequena cocheira de pedra para as duas vacas leiteiras. A casa toda era do tamanho de uma cozinha e tão abarrotada de camas que não havia lugar para uma mesa.
Aos 2 anos, Jeanne-Louise, descrita como pequena e delicada, foi atacada de paralisia na perna direita, o que lhe dificultou andar e depois deixou-a manca. Aos 9 anos, sofreu dolorosa descalcificação óssea e mal conseguia ir à escola ou a qualquer outro lugar. Seus irmãos e irmãs eram saudáveis. Casaram-se e mudaram-se, parece que um pouco às pressas. Jeanne-Louise não encontrou pretendente. Depois que a mãe e um irmão mais novo morreram de tifo em 1927 e o pai morreu em 1930, ela ficou sozinha na casa pequena e fria da fazenda.
A família era solidamente cristã, mas a instrução de Jeanne-Louise foi muito deficiente em virtude de sua saúde precária. Em 1925, ela deu entrada no hospital em Brest, para tratar da perna e outros problemas de saúde. O tratamento não foi muito bem-sucedido. Depois disso, ela voltou para a fazenda, onde labutou até 1936, quando o pároco da vizinha Plounevez-Lochrist conseguiu-lhe uma viagem grátis ao santuário salutar de Lourdes, com um grupo de pessoas que para lá se dirigiam.
A viagem a Lourdes pareceu inútil e ela não se curou de seus males físicos. Jeanne-Louise julgava ter feito alguma “ofensa a Deus”. Mas depois que voltou de Lourdes, sua saúde melhorou e ela ficou forte bastante para caminhar e fazer, ao menos, o trabalho para se manter. Imagem de Nossa Senhora de Kerizinen.
Durante algum tempo, Jeanne-Louise não contou a ninguém sobre a aparição, guardando o segredo no coração. Porém mais tarde, a vidente disse não ter dúvidas de que a aparição era a Virgem Santíssima e descreveu-a como linda jovem, que aparentava ter uns dezessete anos de idade.
Seu vestido era de um vibrante azul-escuro muito bonito e os olhos tinham a mesma cor vibrante. O vestido azul era ondulado embaixo, onde havia um remate branco. As mangas também tinham um remate branco. Uma fita branca dupla cingia o vestido. Um manto branco brilhante, preso ao pescoço por um alfinete retangular dourado, cobria-lhe os ombros e ia até abaixo dos joelhos. Um véu muito leve e alvíssimo cobria-lhe o cabelo. Ela estava imóvel enquanto falava, com a cabeça ligeiramente inclinada para a esquerda. Tinha os braços em postura de oração e os dedos cruzados no peito. Do braço esquerdo pendia um terço.
Quase 14 meses se passaram antes que ocorresse a aparição seguinte, em 7 de outubro de 1939, festa de Nossa senhora do Rosário e 29º aniversário da vidente. A Senhora apareceu como antes e assim falou:
“O mundo não pára de ofender a Deus com pecados muito graves, em especial pecados de impureza, daí esta guerra como castigo por tantas faltas”.
A Guerra Civil espanhola havia terminado em fevereiro de 1939, mas outra guerra ainda não estava à vista, como veremos abaixo. A Senhora continuou:
“Mas o Céu não é insensível a tanta miséria e vem lhes dar um meio de salvação: vocês logo terão paz, se souberem como consegui-la, mas para isso é necessário que o povo leve uma vida de orações, de sacrifícios, de penitência. É necessário que as crianças, em especial, reúnam-se para recitar o terço do “Parce Domine” pelos pecadores. Diga ao seu diretor (o pároco?) que ele deve tornar pública esta mensagem. Darei a estas palavras uma força sobrenatural que tocará os corações.”
Como revelam documentos mais tardios, Jeanne-Louise contou imediatamente ao pároco as duas primeiras aparições, conforme a Mãe Santíssima ordenou. O pároco, porém, proibiu-a de dizer uma só palavra sobre elas. Assim, durante os nove anos seguintes, até depois da 13ª aparição (4 de outubro de 1947), parece que só a vidente e o pároco sabiam delas, o que mais tarde deu aos adversários boa base para depreciar as primeiras mensagens, quando elas foram, finalmente, dadas a conhecer.
O exame das mensagens da Senhora mostra que os meios de comunicação católicos, que começaram a apresentar as mensagens depois de 1947, omitiam invariavelmente as duas últimas sentenças da segunda mensagem, que repreendiam o “diretor” dela. Em geral, é também omitida toda a 13ª mensagem. Entre outras coisas, ela repreendeu duramente o “velho padre” por não cumprir o dever de ajudar a tornar conhecidas as mensagens da Senhora. Aparições sagradas que castigam o clero não são aceitas com facilidade. Jeanne-Louise era vista com frequência manquejando até a campina onde se ajoelhava e parecia rezar. Embora a Senhora ordenasse à vidente que tornasse as mensagens conhecidas, ela não o fez porque o pároco a proibiu.
É verdade que a primeira e a segunda mensagens profetizaram uma guerra que se seguiu quase imediatamente e que as mensagens subsequentes previram com precisão os sofrimentos da França, por isso parece estranho que o padre não fizesse nenhuma menção à profecia. As previsões de guerra não são populares. Cheio de esperanças, o mundo estava extasiado com visões da “paz alcançada em nosso tempo” e muito pouca gente esperava outra guerra. Pequeno oratório - 1956.
A primeira mensagem, dada em 7 de outubro de 1939, refere-se a “esta guerra (na França) como castigo”. Em retrospecto histórico, o início da Segunda Grande Guerra data de 1º de setembro de 1939, quando Hitler atacou a Polônia. Mas quase ninguém percebeu que essa agressão em especial resultaria em guerra universal, exceto Winston Churchill, que foi ignorado.
A Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha em 3 de setembro, mas pensava-se que a guerra se limitaria ao tempo necessário para recuperar a Polônia. De fato, em 20 de setembro, chegou-se rapidamente a um acordo sobre a divisão da Polônia e essa falsa paz durou até abril de 1940. Mas a Senhora fez a profecia de guerra na França em 7 de outubro de 1939.
A falsa paz só terminou quando, inesperadamente, a Alemanha invadiu a Dinamarca e a Noruega, em 6 de abril de 1940. Depois, em outro ataque de surpresa, em 10 de maio de 1940, os alemães ocuparam Luxemburgo e a Bélgica. Só em 10 de junho de 1940, depois de tremendo combate em solo francês, a França assinou um armistício que permitia a ocupação pelos nazistas.
Em 1938-1939, ninguém na França e na Europa e, com certeza, em Kerizinen, percebeu que a guerra no solo francês estava próxima. E ninguém percebeu que a Segunda Grande Guerra começara antes de 7 de outubro de 1939, quando foi recebida a segunda mensagem, nem que a França logo estaria em guerra dentro das próprias fronteiras.
Na terceira mensagem de 1º de setembro de 1939, a Senhora aconselhou:
“Não deixem de se armar com orações e sacrifícios enquanto seus soldados (franceses) usam armas físicas”.
E, na quinta mensagem, de 2 de abril de 1940, encontramos este aviso:
“As orações são em número menor que as feitas nos primeiros meses da guerra. Por essa negligência, vocês todos (na França), mas sobretudo os soldados, passarão por sofrimentos. Muitos serão aprisionados e muitos morrerão de privações e miséria.”
Na sexta mensagem, no início de maio de 1940, quando a Bélgica estava sendo invadida, encontramos: “Meus filhos da França, horas graves logo chegarão para vocês! A invasão do país pelo inimigo é o perigo que os ameaça”. O futuro sombrio talvez fosse então evidente para os planejadores táticos da França. Mas é duvidoso que fosse evidente para Jeanne-Louise ou os padres de Kerizinen, aquele remoto ponto mais ocidental da França.
E que dizer da mensagem profética dada na oitava aparição em 8 de maio de 1941:
“Logo a Rússia trará ajuda para a guerra, ajuda que será um duro golpe nos inimigos de vocês. Mas, a partir de agora, rezem, rezem muito, ó almas cristãs, por esse grande inimigo da Igreja, do contrário, depois da guerra, os comunistas vão estar instalados em quase toda parte e atormentar a Igreja”.
Isso é claramente uma extensão, ou atualização, das advertências que a Senhora fez em Fátima em 1917. É bem provável que Jeanne-Louise soubesse dessa mensagem. Mas é imperscrutável como poderia ou saberia atualizá-la.
Como admitem os historiadores, o sentido dessa mensagem não poderia ser entendido, nem sequer imaginado, em 1941. De fato, a União Soviética foi um aliado bem-vindo contra as agressões de Hitler. A ameaça soviética só foi plenamente entendida depois de 1946 e, mesmo então, apenas em círculos governamentais fechados. Na verdade, só em meados da década de 1950, sete anos depois que as mensagens “vieram a público”, ficou evidente que os comunistas iriam estar instalados em quase toda parte.
Imediatamente depois da 13ª aparição, em 4 de outubro de 1947, Jeanne-Louise de novo percorreu com dificuldade os três quilômetros até a casa paroquial em Plounevez-Lochrist para mais uma vez relatar o que vira e ouvira. Desta vez, porém, a conversa entre ela e o padre foi ouvida por acaso por uma menina que prestou atenção e depois correu ansiosamente até a escola do povoado com os detalhes das aparições a Jeanne-Louise. Da escola, a notícia espalhou-se pelo povoado, onde quase ninguém acreditou nela. Contudo, algumas pessoas começaram a ir timidamente rezar na campina perto da casa de Jeanne-Louise e a lhe fazer perguntas, e ela começou a responder.
Jeanne-Louise começou a repetir todas as mensagens que guardara palavra por palavra na memória. Incluíam as duras advertências feitas aos padres durante a 13ª aparição por não terem divulgado as mensagens, inclusive os avisos e os chamados à oração.
Não demorou muito para erguerem na campina um pequeno santuário onde depositavam flores e acendiam velas. Pequenos grupos começaram a se fazer presentes, em especial quando Jeanne-Louise narrou as novas mensagens, da 14ª à 21ª.
No fim de maio de 1949, uma mulher de Plouvenez-Lochrist ficou seriamente doente. Levada ao hospital, seu caso foi considerado desesperador, com morte iminente. Nesse ínterim, em 24 de maio, algumas pessoas decidiram começar uma novena no pequeno santuário que passara a ser chamado de Nossa Senhora do Rosário de Kerizinen. Durante a novena, a Mãe Santíssima apareceu a Jeanne-Louise pela 22ª vez. Durante a mesma novena, alguns disseram ver um globo de luz que descia sobre a casa de Jeanne-Louise.
Depois da aparição, Jeanne-Louise teve a idéia de usar parte das flores (aparentemente margaridas) colocadas no lugar onde a aparição surgira na campina. Teceu uma coroa com as flores e pediu a alguns dos presentes que as levassem à doente no hospital de Plouvenez-Lochrist. Essas bondosas pessoas tiveram negada a entrada ao quarto da paciente, mas uma das enfermeiras concordou em pôr as flores sobre o leito da moribunda. Assim que as flores tocaram o leito, a mulher começou a falar, para espanto das enfermeiras. Logo depois, seu pulso e temperatura se normalizaram. Ela estava curada.
Quando a notícia se espalhou, quase ninguém na vizinhança esperou a evidência médica ou a aprovação de um bispo para considerar essa cura um milagre. A partir de então, o local da aparição passou a ser visitado por um número crescente de pessoas.
É provável que, em 6 de agosto de 1949, durante a 23ª aparição, Jeanne-Louise tenha mencionado à Senhora que o povo de Kerizinen não tinha boa água potável e que era preciso caminhar mais de um quilômetro para consegui-la. A Senhora prometeu produzir uma fonte para jorrar água, o que levou três anos para acontecer. Em 15 de julho de 1952, alguns visitantes que atravessavam um matagal para ir à campina rezar toparam com um pouco de água que escorria pelo mato. Quando as sarças e samambaias que ali cresciam foram cortadas, descobriu-se uma “caverna” vertical e artificial, no fundo da qual havia um pouco de água. Quando a extraíram, essa água foi substituída por mais água que saia das rochas. A água era potável e ainda jorra até hoje, sendo que muita gente declarou ser curada por ela.
Seguiram-se as aparições de número 24 a 28. Então, em 8 de dezembro de 1953, cerca de mil pessoas recitavam o terço debaixo de nuvens cinzentas e uma chuva fina. Embora Jeanne-Louise se ajoelhasse e rezasse, a Senhora não apareceu. Às três horas, quando as orações e as ave-marias chegaram ao fim, uma luz estranha atraiu os olhares de todos para o céu. Em seguida, as nuvens desapareceram e “um sol muito vermelho desprendeu-se de uma parte do céu azul”. Testemunhado por todos os presentes, este sol, que parecia cair, de repente partiu-se em dois. As duas metades começaram a girar em direções contrárias uma da outra, ambas lançando raios intensamente coloridos e pintando as mesmas cores em tudo que havia na vizinhança.
Os mesmos fenômenos foram novamente testemunhados por um número ainda maior de pessoas nos meses de maio, agosto e outubro de 1954, exceto durante o espetáculo de outubro, o sol parecia cair e emitiu os mesmos raios, mas sem voltar a se partir em duas metades. Em uma dessas ocorrências houve o que deve ter sido um fenômeno belíssimo: “Era como se uma neve de luz voasse ao redor de todos que estavam na campina. O céu estava sereno, o ar limpo. Os flocos de neve, parecidos com pétalas de flores, formavam-se a certa altura e desapareciam antes de tocar o solo. As testemunhas corriam de um lado para o outro, tentando pegá-los mas as mãos fechavam-se no ar. Mais tarde, esse prodígio voltou a acontecer. Às vezes, sentem-se perfumes”.
A notícia desses notáveis fenômenos atestados por mais de mil testemunhas, começou a se propagar pela Bretanha e pelo resto da França.
No fim, Jeanne-Louise viu, no mínimo, 71 aparições da Senhora. Algumas incluíram mensagens secretas jamais reveladas, outras eram semelhantes a ocorrências anteriores e, às vezes, a Mãe Santíssima aparecia, mas não falava. Durante a 24ª aparição, em 9 de dezembro de 1949, a Senhora disse a Jeanne-Louise: “Procure o bispo. Quero que ele organize orações e romarias neste local e que uma capela seja construída aqui. Quero que voltem a acontecer os milagres que meu Filho realizou nesta mesma terra, principalmente em prol dos pecadores.”
A tradição afirmava que, outrora, um mosteiro havia sido construído na campina das aparições e que Jesus muitas vezes apareceu ali.
Todavia, o bispo nada fez, por isso alguns dos habitantes construíram eles mesmos no local uma estrutura simples, semelhante a um galpão. Dentro colocaram uma imagem da Senhora em tamanho natural, bastante parecida com a Mãe Santíssima descrita por Jeanne-Louise. Nas décadas de 1950 e 1960, multidões de cinco a seis mil pessoas reuniam-se nessa “capela”, em especial em dias festivos, o que deve ter causado embaraços ao clero local.
O pedido de uma capela era, de vez em quando, repetido ao clero, sem resultado. Durante a longa 31ª mensagem de 12 de maio de 1955, a Senhora disse: “Peça ao bispo para fundar na paróquia uma Associação dos Filhos de Maria, da qual já falei em anos passados”. A referência era a um santuário para crianças pobres, que presumivelmente incluiria uma escola e um hospital.
Esse pedido causou muito sofrimento a Jeanne-Louise, não só porque o bispo não quis recebê-lo oficialmente e voltou-lhe as costas quando ela foi respeitosamente receber a comunhão, mas porque ele aumentou as declarações públicas contra as aparições em Kerizinen. Parece que o clero de Kerizinen e Plounevez-Lochrist não só se opôs, de forma inexorável, a uma aparição da Mãe Santíssima em sua área, mas também ficou inexplicavelmente insensível aos grandes benefícios econômicos que um santuário traria. Não há evidência de nenhum inquérito eclesiástico oficial sobre os espantosos acontecimentos em Kerizinen.
A Mãe Santíssima foi efetivamente colocada em um impasse em Kerizinen, como, no fim, a própria Senhora reconheceu. Durante a 31ª aparição, em 12 de maio de 1955, a Senhora afirmou: “O diabo desencadeou toda a sua malignidade para que minhas aparições não fossem aceitas na Bretanha, mas, apesar dele, triunfarei”. Essa mensagem contesta o clero local e deve ter servido para endurecer a resolução desse mesmo clero contra a aparição.
Em 1943, estimulada por seu confessor, Jeanne-Louise começou, ela mesma, a escrever as mensagens da Senhora, inclusive as anteriores, e deu os manuscritos ao sacerdote. Na confusão que se seguiu à revelação da estudante de 1949, alguns habitantes do povoado tiraram os manuscritos do padre. Entre eles encontrava-se uma descrição da 11ª aparição, em 1º de maio de 1944. Nessa data, aparentemente Jeanne-Louise não viu a Senhora, mas foi-lhe apresentado um quadro vivo. Parte do quadro mostrava homens que hasteavam uma bandeira vermelha. Alguns padres tentavam impedi-los, mas os homens os ameaçavam e xingavam e atiravam neles. Em um canto, o diabo, muito feliz, estimulava os homens. Em outro canto, a Virgem Santíssima chorava. O quadro tinha a inscrição: “Imagem do comunismo”. Grande oratório construído em 1976.
Aqui devemos mais uma vez mencionar que, em 1944, os comunistas soviéticos eram os aliados muito estimados do Ocidente, e a ameaça geral do comunismo contra o mundo todo (também advertida em 1917, em Fátima) só se concretizou depois de 1953.
Durante 1961, Jeanne-Louise foi ficando cada vez mais incapacitada e recolheu-se a sua casa, onde as aparições ocorreram com menos frequência. Depois de 1978, a obscuridade abateu-se sobre esta sagrada aparição. No Canadá, na França e na Bélgica, grupos de devotos trabalham para perpetuar a memória dos acontecimentos sagrados de Kerizinen, mas aparentemente não a própria Kerizinen. Uma fotografia de Jeanne-Louise Ramonet, publicada em 1978, mostra-a perto da porta de sua casa humilde, com roupas de camponesa, apoiada na bengala e com um ar solitário.
Site oficial de Nossa Senhora do Rosário de Kerizinen - https://www.kerizinen.com/?lang=en
Kerizinen TV (Canal do Youtube) - https://www.youtube.com/c/KERIZINENTV/videos