Chiquinquirá - Colômbia (Quarta-feira, 14-12-2016, Gaudium Press) No próximo dia 26 de dezembro será celebrado o 430º aniversário da restauração milagrosa da tela de Nossa Senhora do Rosário de Chiquinquirá, Padroeira da Colômbia e do Santuário a ela dedicado, que organiza uma grandiosa cerimônia com vários eventos que serão inspirados no lema ‘No caminho da reconciliação, acompanha a teu povo, Maria’.
As homenagens marianas terão início em 17 de dezembro com a novena a Virgem que se estenderá até o dia 25. A oração começará às 18h (horário local) com o Santo Rosário, seguida pelo novenário e, por fim, às 18h30, com a Santa Missa.
Já a principal cerimônia, no dia 26 de dezembro, terá início às 10h locais, com a solene procissão em honra a Padroeira da Colômbia, que terá lugar na Praça da Liberdade e seguirá com a Eucaristia na Basílica de Chiquinquirá.
CONHECENDO A HISTÓRIA DO QUADRO:
‘Um dos primeiros dentre os muitos títulos de glória e nobreza da Colômbia, que não inutilmente foi um dia a porta para a fé e a civilização, está o de ser um povo ardentemente mariano. Seu solo rico e formoso, tanto nos cumes imponentes de suas cordilheiras como nas risonhas e fecundas terras baixas, se nos apresenta como um manto precioso onde os incontáveis santuários da Mãe de Deus se parecem com pérolas e rubis: desde Nossa Senhora da Penha, em Bogotá, até a Virgem da Popa, em Cartagena; desde a do Rosário, em Tunja, ou a de Monguí ou a da Candelária, em Medellín, até a devotíssima Nossa Senhora de las Lajas; dominando sobre todas estas invocações, como o sol entre as estrelas, Nossa Senhora de Chiquinquirá’ (Pio XII, Alocução de encerramento do II Congresso Mariano Nacional, em 16 de julho de 1946).
Por volta do ano de 1562, o curador da cidade de Suta, Antonio de Santana, encarregou Alonso de Narváez, um especialista em prata de Tunja, de pintar um quadro da Virgem do Rosário, a fim de ser venerada em sua capela. O artista utilizou como tinta misturas de terra de diferentes cores, junto com o sumo de algumas ervas e flores; e como tela, uma manta de algodão, mais larga que longa. Para não deixar vazios os espaços nas laterais da Mãe de Deus, pintou à sua direita Santo Antônio de Pádua, e à esquerda Santo André Apóstolo –– o primeiro em honra do curador, e o outro em agradecimento ao irmão leigo dominicano Frei André de Jadraque, que presumivelmente atuou como intermediário.
Concluída a pintura e paga a conta, foi ela exposta à veneração de espanhóis e índios no altar da capela de Suta.
Paulatinamente, por uma disposição superior, os dominicanos deixaram as missões, sendo substituídos pelo clero secular, que em 1574 encarregaram-se delas. Quando chovia, entrava muita água pelo teto mal vedado, e com o tempo o quadro foi se deteriorando, seja por relaxamento do curador, ancião atacado por doenças, seja por negligência do pároco, que não se fixou na cidade e foi substituído.
Em 1578, assumiu esse cargo o presbítero Juan Alemán de Lequizamón, que removeu o quadro da capela de Suta, por considerá-la pouco digna, e o devolveu a seu dono, que o destinou à sua fazenda em Chiquinquirá. Com a morte do curador Antonio Santana, em 1582, sua viúva, Catalina García de Irlos, passou a residir naquela fazenda. Anos depois, Maria Ramos Hernández, parenta do falecido, chegou a Chiquinquirá e descobriu a pintura, totalmente descolorida, suja e gasta. Sua piedade levou-a a limpá-la, emoldurá-la e pendurá-la no lugar mais apropriado da fazenda, que servia como capela. Diariamente ela lhe oferecia suas orações e dirigia-lhe as seguintes palavras: ‘Até quando, Rosa do Céu? Até quando haveis de estar tão escondida? Quando chegará o dia em que vos manifestareis?’.
Chegamos assim à sexta-feira, 26 de dezembro de 1586. Por volta das nove horas da manhã, passava por ali a índia cristã Isabel conduzindo seu filho, o menino mestiço Miguel, de quatro anos, que disse: ‘Mãe, olhe a Mãe de Deus que está no chão’. Ela viu então a Santíssima Virgem espargindo um resplendor celestial que enchia toda a capela. Dirigindo-se Isabel à Maria Ramos, disse-lhe em voz alta: ‘Olhe, olhe, senhora, que a Mãe de Deus desceu de seu lugar e está ali, de pé sobre o teu assento, e parece que está se queimando’. Dona Maria voltou o rosto para o altar, e viu com assombro a transformação que se havia operado na pintura, ‘tão lúcida e renovada de cores alegres e celestiais, que era uma glória vê-la’.
O fato prodigioso espalhou-se pela vizinhança, e logo chegou a Suta. Começou a afluir gente de todas as partes, uns atraídos pela curiosidade, outros em busca de algum milagre. A informação não tardou a chegar aos ouvidos da autoridade eclesiástica, que ordenou primeiro uma informação em Chiquinquirá, e depois um processo em Tunja.
Enquanto aumentava a devoção popular, operavam-se as primeiras curas. Ao mesmo tempo, começou a propagar-se em Tunja uma fatídica peste, que ia dizimando seus habitantes. Quando os recursos humanos se mostraram inúteis, uma delegação partiu para Chiquinquirá, a fim de implorar que lhes ‘emprestassem’ o quadro por alguns dias. Assim, no primeiro ano de sua milagrosa renovação, o quadro milagroso esteve em Tunja e venceu a peste.
Entre as pessoas que se aproximaram para venerar a imagem, figurava o velho pároco de Leguizamón, que havia retirado a pintura da capela de Suta ‘por achá-la excessivamente desfigurada e estragada’. Admirado pelo fato miraculoso, exclamou: ‘Virgem e Mãe de Deus, se em alguma coisa vos ofendi por tirar-vos do altar no qual estáveis, suplico-vos que me perdoeis’.
A 14 de agosto de 1588 chegou a Chiquinquirá, recentemente elevada a paróquia, o próprio arcebispo de Santa Fé de Bogotá, Frei Luís Zapata de Cárdenas, acompanhado do comissário do Santo Ofício e do presidente encarregado da Real Audiência. Queriam ver pessoalmente a pintura, as pessoas favorecidas com a sua transformação, e investigar o prodígio. Dissipadas as dúvidas e caracterizado o acontecimento como extraordinário, foi ordenada a construção do primeiro templo digno desse nome. Mais tarde, em 1636, os padres dominicanos voltaram para tomar definitivamente posse do lugar.
A tela de Alonso de Narváez mede 1,10 m de altura por 1,25 de largura. O rosto da Virgem é de cor branco-pérola. Tem os olhos quase fechados e o rosto voltado para seu Divino Filho, sustentado amorosamente em seu braço esquerdo. Ambos ostentam esplêndidas coroas. Cobre sua cabeça um véu branco, que cai formando pregas e se recolhe sobre o peito. Na mão direita segura um cetro, e na outra o rosário. O Menino sustenta com a direita um fio atado ao pé de um passarinho colorido, representado sobre o peito de sua Mãe; na mão esquerda carrega também seu rosário. A túnica é de cor rosa claro, e o manto azul celeste. Os pés da Virgem pisam o crescente.
No início do ano 1796, resolveu-se edificar em Chiquinquirá um templo de maiores proporções. Era aquela uma época difícil, de lutas políticas e enfrentamentos ideológicos. Os contendores reclamaram a proteção da Virgem. Em 1815 a imagem foi despojada de suas joias para sustentar os gastos da independência. Um general colombiano — em temerária atitude, e apesar da oposição dos religiosos — subtraiu o venerável quadro, visando atrair o povo para sua causa. Perseguido pelos realistas, fugiu e abandonou a pintura em Sáname. A tela foi conduzida em júbilo a Santa Fé de Bogotá e devolvida a seu santuário. Finalmente, em 11 de setembro de 1823, o novo templo foi consagrado por Mons. Rafael Lasso de la Vega, então bispo de Mérida (Venezuela) e senador da República, ‘único prelado que subsistia naquela época em Nova Granada’.
Mediante um decreto de 18 de julho de 1829, a Santa Sé proclamou a Virgem do Rosário de Chiquinquirá Padroeira da Colômbia.
Contudo, com a instauração da República, as dificuldades começaram. Ao relaxamento da disciplina eclesiástica somaram-se leis anticlericais, como a que ordenou a supressão dos conventos menores. Em 1835 o presidente Santander confirmou a dissolução e expropriação do convento. Os frades que perseveraram no culto a Nossa Senhora refugiaram-se num local contíguo ao templo. Clérigos apóstatas e políticos inescrupulosos confabularam então para que a paróquia passasse para o domínio do clero diocesano. Em 1861, numa atitude de autoritarismo e ambição, o general Mosquera decretou o desterro dos frades e o confisco de seus bens.
Com a morte sucessiva dos religiosos, restou apenas Frei Buenaventura García Saavedra, que enfrentou as ameaças, estando disposto a sofrer o martírio. Através dele, aos pés da Virgem de Chiquinquirá, ocorreu em 1881 a restauração da Ordem Dominicana na Colômbia.
O enfrentamento entre conservadores e liberais tornou-se cada vez mais agudo, surgindo novo auge de violência: a Guerra dos Mil Dias (1899-1902). Após essa sangrenta guerra civil que tumultuou o país inteiro, voltou a almejada paz. E com ela subiu ao Trono de São Pedro uma súplica para que fosse coroada a Virgem de Chiquinquirá. O Papa reinante, São Pio X, atendeu ao ardente pedido em 9 de janeiro de 1910.
A pintura de Nossa Senhora de Chiquinquirá foi coroada solene e canonicamente no dia 9 de julho de 1919 na catedral de Bogotá, na presença do presidente da República, de autoridades eclesiásticas, civis e militares, bem como de multidão incalculável de fiéis. Em 1927, Pio XI concedeu ao santuário o título e os privilégios de Basílica Menor. Em 1977 a Sé Apostólica erigiu a cidade de Chiquinquirá como diocese. Em 1986 o Papa João Paulo II esteve na Colômbia, ocasião em que visitou o santuário como peregrino.
Basílica de Nossa Senhora de Chiquinquirá Autoridades religiosas, civis e militares, rendem homenagem à padroeira da Colômbia no dia de sua festa, em Chiquinquirá.
Como observa o Pe. Vargas Ugarte, o culto a Nossa Senhora de Chiquinquirá estendeu-se não somente na Colômbia, mas em toda a América Latina. Passaram-se, pois, mais de quatro séculos desde que se operou o prodígio da renovação. Como observa José Manuel Groot em sua História de la Nueva Granada, um dos maiores milagres da Virgem de Chiquinquirá constitui a sua conservação, apesar do tecido tosco no qual se encontra estampada e de a pintura ter sido tocada por uma infinidade de objetos.
A devoção à Padroeira da Colômbia sofreu altos e baixos, devido às perseguições, às guerras e até aos terremotos. Mas o que lhe causou maior dano foi a indiferença, o abandono e a negligência de seus próprios fiéis.
Ao longo da história, muitas pessoas testemunharam resplendores e luminosidades, como as que em 1586 originaram a devoção a ela votada. Contudo, nenhum deles foi devidamente reconhecido e registrado. Outros viram-na empalidecer. São reflexos no miraculoso quadro, de momentos de fervor e de desânimo que viveu a nação irmã.
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Obras consultadas:
1. P. Luis Francisco Téllez Garzón O.P., Una Luz en el camino, Santuario de la Virgen del Rosario, Chiquinquirá, Bogotá, 2005.
2. P. Rubén Vargas Ugarte S.J., Historia del Culto de María en Iberoamérica y de sus imágenes y santuarios más celebrados, Madrid, 1956.
Fontes: http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm/idmat/31DEDDCA-3048-313C-2EBAC70AFF6F917E/mes/Julho2009
http://www.arautos.org/noticias/84357/Colombia-comemora-os-430-anos-da-renovacao-milagrosa-do-quadro-da-Virgem-de-Chiquinquira.html