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'Todas as coisas da criação são filhos do Pai e irmãos do homem; Deus quer que ajudemos aos animais, se necessitam de ajuda. Toda criatura em desgraça tem o mesmo direito a ser protegida.' (São Francisco de Assis)


A vida de São Francisco de Assis

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Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis (Assis, 5 de julho de 1182 — 3 de outubro de 1226), foi o filho de Pedro e Dona Pica Bernardone. Nasceu na cidade de Assis, Itália. Seu pai era um rico e próspero comerciante, que seguidamente viajava para a França, de onde trazia a maior parte de suas mercadorias.

Foi de lá também que ele trouxe sua linda e bondosa esposa, Dona Pica. Foi batizado em Santa Maria Maior (antiga catedral de São Rufino) com o nome de João (Giovanni). Mas quando Pietro Bernardone voltou de uma viagem à França, mudou de ideia e resolveu trocar o nome do filho para Francisco, prestando uma homenagem àquela terra.

Sua mãe era de origem provençal: as primeiras palavras ternas e afetuosas que o menino ouviu foram francesas. Esta língua foi gravada no seu coração: assim, afirmou o seu primeiro biógrafo, Tomás de Celano: ‘quando manifesta a sua alegria, canta na doce língua dos trovadores da cavalheiresca Provença’.

Segundo a maioria dos biógrafos de São Francisco, os padres de São Jorge lhe deram formação adequada e educação cristã. Mas o caráter e as qualidades melhores lhe vieram da mãe: meiga e firme, cristã fervorosa, toda dedicada à família.

Cedo, o garoto Francisco aprendeu do pai a arte do comércio que manejava com inteligência e proveito. Mas era um jovem alegre, amante da música e das festas e, com muito dinheiro para gastar, tornou-se rapidamente um ídolo entre seus companheiros. Adorava banquetes, noitadas de diversão e cantar serenatas para as belas damas de sua cidade. Enfim, Francisco era o líder da juventude de sua cidade.

 

Conflitos entre Feudos e Comunas

A Itália, como toda a Europa daquela época, vivia uma fase bastante conflitiva de sua história, marcada pela passagem do sistema feudal (baseado na estabilidade, na servidão e nas relações desiguais entre vassalos e suseranos) para o sistema burguês, com o surgimento das ‘comunas’ livres (pequenas cidades), com seu comércio, artesanato e pequenas indústrias. Com o novo sistema, mudaram-se as relações. O poder dos senhores feudais passou a ser questionado e enfrentado pelos novos senhores, originários das comunas, a maioria deles constituída pelos comerciantes mais abastados, a exemplo de Pedro Bernardone. Eram frequentes nesta época guerras e batalhas entre os senhores feudais e as emergentes comunas. São conhecidas as lutas entre ‘maiores’, isto é, a nobreza e os ‘minores’, vale dizer, a classe emergente.

Além destas lutas, havia choques entre o Imperador, como a força civil do Sacro Império, e o Papa, como chefe espiritual, misturando nesta luta os interesses, de maneira que havia uma constante guerra, ora fria ora real. E a cidade de Assis, por sua posição geográfica no entroncamento Alemanha-Roma, e por sua importância comercial, trocava constantemente de ‘dono’: ora no alto de sua fortaleza, a Rocca Maggiore, tremulava a bandeira do Papa, ora a do Imperador.

Como todo jovem ambicioso de sua época, Francisco desejava conquistar, além da fortuna, também a fama e o título de nobreza. Para tal, fazia-se necessário tornar-se herói em uma dessas frequentes batalhas. No ano de 1201, incentivado por seu pai, que também ansiava pela fama e nobreza, Francisco partiu para mais uma guerra que os senhores feudais, baseados na vizinha cidade de Perúgia, haviam declarado contra a Comuna de Assis.

Durante os combates, em uma tarde de inverno, Francisco caiu prisioneiro, sendo levado para a prisão de Perúgia, onde permaneceu longos e gelados meses. Para um jovem cheio de vida como ele, a inércia da prisão deve ter sido especialmente dolorosa! Somente seu espírito alegre, seu temperamento descontraído e seu gosto pela música o salvaram do desespero. Encontrava ainda forças para reconfortar e reanimar a seus companheiros de infortúnio.

Costumava dizer, em tom de brincadeira para seus companheiros: ‘Como quereis que eu fique triste, sabendo que grandes coisas me esperam? O mundo inteiro ainda falará de mim!’

Ao término de um ano foi solto da prisão, retornando para Assis, onde se entregou novamente aos saudosos divertimentos da juventude e às atividades na casa comercial de seu pai.

O Início da Conversão

O clima insalubre da prisão, agravado pelos prolongados meses de inverno, haviam-lhe enfraquecido o organismo, provocando agora uma grave enfermidade. Depois de longos meses de sofrimento, sem poder sair da cama, finalmente conseguiu melhorar.

Ao levantar-se, porém, não era mais o mesmo Francisco. Sentiu-se diferente, sem poder compreender o porquê. A verdade é que a humilhação e o sofrimento da prisão, somados ao enfraquecimento causado pela doença, provocaram profundas mudanças no jovem Francisco.

Foi o caminho que Deus escolheu para entrar mais profundamente em sua vida. Já não sentia mais prazer nas cantigas e banquetes em companhia dos amigos. Começou a perceber a leviandade dos prazeres puramente terrenos, embora ainda não buscasse a Deus. Na verdade, Francisco não nasceu santo, mas lutou muito para se tornar santo!

No livro ‘Francisco’, o autor Gianmaria Polidoro (Editora Vozes) lembra que entre 1202 e 1205 encontramos um Francisco inquieto. Não é apenas a consequência de uma doença longa e misteriosa. É a inquietude de quem está incerto quanto ao rumo a dar à própria vida e se põe em estado de busca. Não sabe precisamente onde quer terminar, mas sente que, ao longe, um futuro desconhecido o chama.

Foi nessa época que começou a pensar um pouco sobre a vida de cavaleiro. Era o tempo das cruzadas, das lutas especiais, dos cantos trovadorescos de Orlando de Ronscisvale. Tornar-se cavaleiro? Poderia ser uma ideia.

Mais uma guerra

Francisco havia perdido o gosto pelos prazeres mundanos, mas conservava ainda a ambição da fama. Por esse motivo, sonhava com a glória das armas e a nobreza, que se conquistavam nos campos de batalha. Por isso, aderiu prontamente ao exército que o Conde Gentile de Assis estava organizando para ajudar o Papa Inocêncio III na defesa dos interesses da Igreja. Contou para isso com a aprovação entusiasmada do pai, que vislumbrava aí a oportunidade tão longamente esperada de enobrecer sua família. Deus, porém, lhe reservava algumas surpresas…

Antes de partir, num impulso de generosidade, Francisco cedeu a um amigo mais pobre os ricos trajes e a armadura caríssima que havia preparado para si.

Partiu de Assis, entre aplausos dos assisienses, esfuziante de entusiasmo. Mas não foi longe. Já na cidade de Espoleto, ele e os companheiros pararam para pernoitar. Na hora da retomada da marcha, sintomas de febre fizeram com que Francisco não pudesse partir. Foi, então, que teve uma experiência modificante de sua vida. Pensou ter ouvido a voz do Senhor, com quem dialogou:

Francisco, o que é mais importante, servir ao Senhor ou servir ao servo?

Servir ao Senhor, é claro – respondeu o jovem.

Então, por que te alistas nas fileiras do servo?

Senhor, o que quereis que eu faça?

Volta a Assis – lhe diz a voz – e ali te será dito.

 

Retorno a Assis

Desafiando os sorrisos de desdém dos vizinhos e a cólera de Pedro Bernardone, contrariado em seus projetos, Francisco retornou a Assis, dando prova da energia de seu caráter e do valor do seu ânimo, virtudes que se mostrariam valiosas mais tarde nos percalços de seu novo caminho.

Começou a longa busca e a longa espera: ‘O que Deus quer de mim? O que Ele quer que eu faça?’ Era esse o constante questionamento de Francisco.

Sentia um vazio dentro de si, que as festas, farras, bebedeiras e guerras não conseguiam mais preencher. Estava inquieto e insatisfeito, mas não sabia bem por quê.

Em vão tentaram seus amigos atraí-lo outra vez para suas diversões, banquetes e trovas. Até o fizeram coroar, durante uma festa, como o ‘Rei da Juventude’, mas nada disso o comoveu. Já não era isso que o atraía. Sua busca era outra…

Para tentar desvendar os desígnios de Deus, passou a se dedicar à oração e à meditação. Percorria campos e florestas em busca de lugares mais tranquilos, em busca de respostas para suas dúvidas e inquietações. Para ele, tudo passou a ter outro sentido. Passou a enxergar as coisas com outros olhos e outro coração.

Viagem a Roma

Em busca de respostas, decidiu viajar para Roma, isso no ano de 1205. Visitou a tumba do Apóstolo São Pedro e, indignado pelo que viu, exclamou: ‘É uma vergonha que os homens sejam tão miseráveis com o Príncipe dos Apóstolos!’ E jogou um grande punhado de moedas de ouro, contrastando com as escassas esmolas de outros fiéis menos generosos.

A seguir, trocou seus ricos trajes com os de um mendigo e fez sua primeira experiência de viver na pobreza. Voltou a Assis, à casa paterna, entregando-se ainda mais à oração e ao silêncio.

Frequenta sempre mais os ermos perto de São Damião, pequena e mal conservada igreja do campo, a meio caminho na estrada que de Assis desce para a planície, até a estrada que vai para a França.

A família e os amigos estavam preocupados com o jovem Francisco: o que lhe estaria acontecendo? Será que ainda estava em pleno juízo? Seu pai, então, não se conformava! Não era isso que ele tinha sonhado para seu filho! Indignado, forçava-o a trabalhar cada vez mais em seu estabelecimento comercial. Era o ano de 1205!

O beijo no leproso

Segundo o escritor Gianmaria Polidoro, em ‘Francisco’ (Vozes), entre os anos de 1205 e 1206, não sabemos qual de dois grandes acontecimentos tenha tido a precedência na perturbação da calma eremítica de Francisco, sempre pensativo quanto ao caminho a seguir. Não foi através da meditação que descobriu a estrada certa. Encontrou-a diante de si no exato momento em que se viu envolvido por duas extraordinárias experiências que lhe abriram um horizonte excitante: o encontro com o leproso na planície de Assis e a voz do Crucifixo, que lhe falou em São Damião.

Em 1206, passeando a cavalo pelas campinas de Assis, viu um leproso, que sempre lhe parecera um ser horripilante, repugnante à vista e ao olfato, cuja presença sempre lhe havia causado invencível nojo.

Mas, então, como que movido por uma força superior, apeou do cavalo, e, colocando naquelas mãos sangrentas seu dinheiro, aplicou ao leproso um beijo de amizade. Talvez a motivação para este nobre e significativo gesto tenha sido a recordação daquela frase do Evangelho: ‘Tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos, é a mim que o fazeis’ (Mt 10,42).

Falando depois a respeito desse momento, ele diz: ‘O que antes me era amargo, mudou-se então em doçura da alma e do corpo. A partir desse momento, pude afastar-me do mundo e entregar-me a Deus’.

O Crucifixo de São Damião

Pouco depois, entrou para rezar e meditar na pequena capela de São Damião, semidestruída pelo abandono. Estava ajoelhado em oração aos pés de um crucifixo, que a piedade popular ali venerava, quando uma voz, saída do crucifixo, lhe falou: ‘Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja que está em ruínas’.

Não percebendo o alcance desse chamado e vendo que aquela Igrejinha estava precisando de urgente reforma, Francisco regressou a Assis, tomou da loja paterna um grande fardo de fina fazenda e vendeu-a. Retornando, colocou o dinheiro nas mãos do sacerdote de São Damião, oferecendo-se para ajudá-lo na reconstrução da capela com suas próprias mãos. Conhecendo o caráter de Pedro Bernardone, é fácil imaginar sua cólera ao ver desfalcada sua casa comercial e perdido o seu dinheiro.

Não bastava já o desfalque que dava ao entregar gratuitamente mercadorias e alimentação para os necessitados? Agora mais essa! E Francisco teve que se esconder da fúria paterna.

Certo dia saiu resolutamente a mendigar o sustento de porta em porta na cidade de Assis. Para Bernardone isso já era demais! Como podia ele envergonhar de tal forma sua família? Se seu filho havia perdido o juízo, era necessário encarcerá-lo! Assim, Francisco experimentou mais uma vez o cativeiro, desta feita num escuro cubículo debaixo da escada da própria casa paterna. Pelo que sabemos, depois de alguns dias, movida pela compaixão, sua mãe abriu-lhe às escondidas a porta e o deixou partir livremente para seguir o seu destino.

Uma decisão corajosa

Ao final de 1206, Pedro Bernardone, convencido de que nem as razões nem a força podiam torcer o ânimo de Francisco, decidiu recorrer ao Bispo, instaurando-se um julgamento como nunca aconteceu na história de outro santo. O palco do julgamento foi a própria Praça Comunal de Assis, bem à vista de todos.

Bernardone exigiu que seu filho lhe devolvesse tudo quanto recebera dele. Francisco, ciente da sentença de Cristo: ‘Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim’ (Mt 19,29), sem vacilar um momento se despojou de tudo até ficar nu, jogou os trajes e o dinheiro aos pés de seu pai, e exclamou: ‘Até agora chamei de pai a Pedro Bernardone. Doravante não terei outro pai, senão o Pai Celeste’.

O Bispo, então, o acolheu, envolvendo-o com seu manto. Daquele momento em diante, cantando ‘Sou o arauto do Grande Rei, Jesus Cristo’, afastou-se de sua família e de seus amigos e entregou-se ao serviço dos leprosos, tratando de suas feridas, e à reconstrução das Capelas e Oratórios que cercavam a cidade.

Cada dia percorria as ruas mendigando seu pão e convidando as pessoas para que contribuíssem com pedras e trabalho na restauração das ‘Casas de Deus’ que estavam em ruínas.

O louco de Assis

De alguns recebia apoio e incentivo. De muitos, o desprezo e a zombaria. No entender da maioria, o filho de Pedro Bernardone havia perdido completamente o juízo! E não só a garotada da cidade escarnecia dele, chamando-o de louco e outros qualificativos menos nobres.

Mais de uma vez sentiu-se tentado a voltar atrás, quando chegava à porta de seus antigos amigos; mas saía vitorioso nessas lutas entre o orgulho humano e o próprio ideal. Já alguns começaram a reconhecer nele traços do futuro santo, embora ele mesmo ainda não conhecesse claramente sua vocação.

Estava já terminando a restauração da última Igrejinha da redondeza, a capelinha de Santa Maria dos Anjos e perguntava-se o que faria depois. O que mais lhe pediria Deus? Não havia entendido ainda que a Igreja que devia restaurar não era a de pedra, mas a própria Igreja de Cristo, enfraquecida na época pelas divisões, heresias e pelo apego de seus líderes às riquezas e ao poder. Devia ser aquele o ano de 1209.

Certo dia, Francisco escutou, durante a missa, a leitura do Evangelho: tratava-se da passagem em que Cristo instruía seus Apóstolos sobre o modo de ir pelo mundo, ‘sem túnicas, sem bastão, sem sandálias, sem provisões, sem dinheiro no bolso…’ (Lc 9,3).

Tais palavras encontraram eco em seu coração e foram para ele como intensa luz. E exclamou, cheio de alegria: ‘É isso precisamente o que eu quero! É isso que desejo de todo o coração!’ E sem demora começou a viver, como o faria em toda a sua vida, a pura letra do Evangelho. Repetia sempre para si e, mais tarde, também para seus companheiros: ‘Nossa regra de vida é viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo’!

Os primeiros seguidores

A partir daquele dia, Francisco iniciou sua vida de pregador itinerante, percorrendo as localidades vizinhas e pregando, em palavras simples, o Evangelho de Cristo.

Em documento algum consta que Francisco, depois de ouvir o Evangelho na Porciúncula, tenha saído à procura de seguidores. Não tinha a mínima intenção, nem mesmo a ideia, de inventar uma comunidade. Muitos começaram, enfim, a compreender o sentido dessa vida e manifestaram o desejo de segui-la. O primeiro foi um homem rico de Assis, Bernardo de Quintaval.

Bernardo era uma pessoa sensível à voz da consciência, mas também um homem muito prático. Inquietou-se com a vida de Francisco; no entanto, antes de se pronunciar quis estudar o homem. Convidou-o à sua casa com veneração e amizade; uma casa que, nas suas estruturas externas, pode ser vista ainda hoje na rua que leva o seu nome: Rua Bernardo de Quintavalle. Mais de uma vez convidou Francisco para visitá-lo. Depois dessas visitas, teve a certeza de que o filho de Pedro de Bernardone não era louco nem embusteiro.

Ao perguntar para Francisco: ‘O que devo fazer para seguir-te’?, este decidiu, como em todos os momentos decisivos de sua vida, recorrer ao Evangelho para que o próprio Cristo lhes desse a resposta.

O caminho do evangelho

De manhã, bem cedo, foram ambos à missa. Pelo caminho juntou-se aos dois Pedro de Catânia, doutor em Direito e novo companheiro. Por três vezes abriram o livro do Evangelho, e as três respostas que encontraram foram as seguintes:

Se queres ser perfeito, vende o que tens e dá-o aos pobres. Depois vem e segue-me’ (Mt 19,21).

‘Não leveis nada pelo caminho, nem bastão, nem alforge, nem uma segunda túnica…’ (Lc 9,3).

‘Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me’ (Mt 16,24).

‘Isto é o que devemos fazer, e é o que farão todos quantos quiserem vir conosco’ – exclamou Francisco, que subitamente viu brilhar uma luz sobre o caminho que ele e seus companheiros deveriam seguir. Finalmente encontrou o que por tanto tempo havia procurado! Isto aconteceu a 24 de fevereiro de 1208, dando início à fundação da Fraternidade dos Irmãos Menores.

No mesmo dia, Bernardo de Quintaval vendeu todos os seus bens e repartiu o dinheiro entre os pobres de Assis.

O primeiro sacerdote franciscano

O exemplo de Bernardo produziu frutos. O primeiro é o sacerdote Silvestre, que exclamou comovido: ‘Como posso eu, sacerdote e velho, ser menos generoso que estes jovens e ricos?’ E, sem mais, lançou-se com eles na aventura de viver o Evangelho. Tornou-se, assim, o primeiro sacerdote da Ordem Franciscana!

Prontamente aderiram outros: Gil, um modesto lavrador que se tornaria um grande santo; Morico, dedicado ao serviço dos leprosos; Bárbaro, futuro missionário no Oriente; Sabatino, Bernardo de Viridiante, João de Constança, Ângelo, da ilustre família dos Tancredo, aparentado com reis e príncipes; Felipe, grande pregador; e muitos outros…

Juntos, formaram um grupo de mendigos voluntários (daí o adjetivo de Ordem Mendicante dado à Ordem Franciscana), que trabalhavam e rezavam, cantavam e pregavam, maravilhando o povo com a novidade do Evangelho sendo vivido diante de seus próprios olhos. Algumas choupanas cobertas de folhagem, no pitoresco vale do Rivotorto, serviam-lhes de modesto abrigo.

A aprovação da Igreja

No ano de 1209, Francisco e seus seguidores viajaram até Roma para buscar a aprovação do Papa para o seu modo de vida. Mas como aquele bando de mendigos, maltrapilhos e desconhecidos seria recebido pelo severo Inocêncio III? Francisco rezava e confiava. Afinal, não era o próprio Cristo que o estava conduzindo? Por coincidência ou providência divina, encontrava-se em Roma, nessa ocasião, o Bispo de Assis, grande admirador de Francisco. Graças a ele o Papa os recebeu.

Inocêncio III ficou maravilhado com o propósito de vida daquele grupo e, especialmente, com a figura de Francisco, a clareza de sua opção e a firmeza que demonstrava. Reconheceu nele o homem que há pouco vira em sonho, segurando as colunas da Igreja de Latrão (a igreja-mãe de todas as Igrejas do mundo!), que ameaçava ruir. O Papa reconheceu que era o próprio Deus quem inspirava Francisco a viver radicalmente o Evangelho, trazendo vida nova a toda a Igreja, naquele tempo tão distanciada dos ensinamentos de Cristo! Por isso deu a seu modo de viver o Evangelho a aprovação oficial da Igreja. Autorizou Francisco e seus seguidores a pregar o Evangelho nas igrejas e fora delas e os despediu com sua bênção.

Em 1212, 18-19 de março, na noite de domingos de Ramos, a nobre Clara di Favarone foge de casa e é recebida na Porciúncula. Em 1217, no dia 5 de maio, realiza-se o Capítulo Geral de Pentecostes na Porciúncula. Primeira missão para além dos Alpes e ultramarina. É feita a instituição de províncias.
Em 1219, no outono (setembro-dezembro), Francisco vai ao acampamento do sultão do Egito, Melek-el-Kamel (1218-38), e tem ‘entrevista’ com ele.
O movimento franciscano cresce e Francisco entrega o governo da Ordem a Frei Pedro Cattani em 1220.

Em 1224, no período de 15 de agosto a 29 de setembro, Francisco, com Frei Leão e Frei Rufino, passa no Monte Alverne, preparando-se com uma quaresma de oração e jejum para a festa de São Miguel Arcanjo. Em setembro, tem a visão do Serafim alado e recebe os estigmas.

Aproximando-se a festa da Santa Cruz no mês de setembro, Francisco, na hora do alvorecer, se pôs em oração, diante da saída de sua cela, e entre lágrimas orava desta forma: ‘Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que me faças antes que eu morra: a primeira é que em vida eu sinta na alma e no corpo, quanto for possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua acerbíssima paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores’ (I Fioretti)). E, relata Boaventura que, enquanto Francisco rezava, ‘viu um Serafim que tinha seis asas (cf. Is 6,2) tão inflamadas quão esplêndidas a descer da sublimidade dos céus. E […] apareceu entre as asas a imagem de um homem crucificado que tinha as mãos em forma de cruz e os pés estendidos e pregados na cruz. […] Imediatamente começaram a aparecer nas mãos e nos pés dele os sinais dos cravos’ (LM 13,3). 
Seu estado de saúde piora muito a partir deste ano. Era final de agosto, em 1226, pede para ser levado à Porciúncula. Chegado à planície, lança sua bênção sobre Assis. Nos últimos dias de vida, dita o Testamento, autotestemunho de incalculável valor para a vida e os propósitos de homem tão singular.

No dia 3 de outubro, à tarde, Francisco, morreu cantando ‘mortem suscepit’. No domingo seguinte, 4 de outubro, é sepultado na igreja de São Jorge, na cidade de Assis, mas o cortejo fúnebre passou antes pelo mosteiro das Clarissas. No dia 16 de julho de 1228, Francisco foi canonizado.

 

 

São Francisco de Assis e o Lobo

Em Gubbio, uma cidade na Úmbria, Itália, estava tomada de grande medo. Na floresta da região vivia um grande lobo, terrível e feroz, o qual não somente devorava os animais como os homens, de modo que todos do povoado estavam apavorados! Por isso, cercaram a cidade com altas muralhas e reforçaram as portas. E todos andavam armados quando saíam da cidade, como se fossem para um combate.

Certa vez, quando Francisco chegou naquela cidade, estranhou muito o medo do povo. Percebeu que a culpa não podia ser unicamente do lobo. Havia no fundo dos corações uma outra causa que era tão destrutiva, como parecia ser a causa do lobo.
Logo, Francisco ofereceu-se para ajudar. Resolveu sair ao encontro do lobo, sozinho e desarmado, mas cheio de simpatia e benevolência pelo animal, e como dizia às pessoas, na força da ‘Cruz’. O perigoso lobo, de fato, foi ao encontro de Francisco, raivoso e de boca aberta pronto para devorá-lo! Mas quando o lobo percebeu as boas intenções de Francisco e ouviu como este se dirigia a ele como a um ‘irmão’, cessou de correr e ficou muito surpreendido. As boas vibrações de Francisco de Assis anularam a violência que havia no ‘irmãozinho’ lobo.
De olhos arregalados, viu que esse homem o olhava com bondade. Francisco então falou para o lobo:
- Irmãozinho Lobo, quero somente conversar com você, ‘meu irmão’... E caso você esteja me entendendo, levante, por favor, a sua patinha para mim!
O ‘irmãozinho lobo’, então, perante tão forte vibração de amor e carinho, perdeu toda a sua maldade. Levantou, confiante, a pata da frente, e calmamente a pôs na mão aberta de Francisco...
Então, Francisco disse-lhe amorosamente:
- Querido Irmãozinho Lobo, vou fazer um trato com você! De hoje em diante, vou cuidar de você, meu irmão! Você vai morar em minha casa, vou lhe dar comida e você irá sempre me acompanhar e seremos sempre amigos! Você, por sua vez, também será amigo de todas as pessoas desta cidade, pois de agora em diante você terá uma casa, comida e carinho, sendo assim, não precisará mais matar nem agredir ninguém, para sobreviver...
Com a promessa de nunca mais lesar nem homem nem animal, foi o lobo com Francisco até a cidade. Também o povo da cidade abandonou sua raiva e começou a chamar o lobo de ‘irmão’. Prometeram dar-lhe cada dia o alimento necessário. Finalmente, o ‘irmão lobo’ morreu de velhice, pelo que, todos da cidade tiveram grande pesar.
Ainda hoje se mostra em Gubbio, um sarcófago feito de pedra, no qual os ossos do lobo estão depositados e guardados com grande carinho e respeito durante séculos.
 

 

Capela de Porciúncula

n/d

‘O santo homem amou este lugar mais do que os outros lugares do mundo; pois aqui ele começou humildemente, aqui ele progrediu virtuosamente, aqui ele terminou de maneira feliz, e na morte recomendou este lugar aos irmãos como o mais caro à Virgem’ (Legenda Maior 2, 8).

Foi muito significativo para São Francisco de Assis, como é para os Franciscanos em geral, o pequeno Templo – Capela – dedicado à Nossa Senhora dos Anjos. Nesta pequena igreja, chamada Porciúncula, marcada pela simplicidade e pobreza, o Fundador do Movimento Franciscano ‘se encontrou’. Aí ele ‘se entendeu’ como missionário do Evangelho, pobre, humilde e simples. São Francisco nasceu vocacionalmente ali. A pequena porção – Porciúncula – está vinculada a Santa Maria, Mãe de Deus, padroeira da minúscula ermida, que se encontra atualmente dentro da grande basílica de Nossa Senhora dos Anjos, na planície de Assis.

Basílica Nossa Senhora dos Anjos (interior)

n/d

Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Assis

http://www.franciscanos.org.br/

http://muralanimal.blogspot.com/2013/10/sao-francisco-de-assis-e-o-lobo.html#ixzz4SwIbjr59

http://paroquiavila.com.br/entre-milagres-e-lendas.html

http://capuchinhosprsc.org.br/santos-capuchinhos-2/santa-maria-dos-anjos-da-porciuncula-02

 


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Segunda-feira, 25 de Novembro de 2024










Mulher Vestida de Sol