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Costumamos chamar alguns vegetais de ervas-daninhas ou plantas invasoras. Muitas são comestíveis (nossas queridas Pancs), mas outras não. Todas, contudo, são vegetais extremamente importantes para a reparação de solos e, sobretudo, indicam qual a qualidade de um solo em determinado momento. Em vez de querer nos livrar delas, vamos aprender o que as “daninhas” têm a ensinar! E veja se você consegue identificar o que se passa com a terra a partir da leitura dessa matéria.


O que as ervas daninhas nos informam sobre cada tipo de solo

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Ervas-daninhas, não! Plantas indicadoras. A definitiva eliminação do paradigma da indústria dos venenos quanto a plantas serem daninhas e invasoras. É a redenção da ecologia.

 Mais do que errado, o termo ervas daninhas é preconceituoso e baseado numa visão utilitarista. Repare, o termo ‘daninhas’ já indica que elas são prejudiciais, perniciosas, que causam dano. Mas, elas causam mesmo? Na natureza não existe nada que cause dano. Felizmente só conseguimos falar de bem e mal, um discurso que envolve a moral, para questões humanas, e as plantas são vegetais. Nem bons, nem maus. Nunca daninhos, danosos. Só a partir desse raciocínio, o termo “erva daninha” já começa a parecer errado.

O termo ‘ruderais’ é sinônimo de ervas-daninhas, mas sem esse juízo de valores em cima delas. Ruderal significa “planta que acompanha o homem”. Ou seja, onde o homem vai e desmata, queima, corta, lá vem as plantas ruderais para ocupar o solo. As plantas espontâneas, que nascem sozinhas.

Essas plantas têm a habilidade de deixar o ambiente sempre mais fértil, mais solto, mais úmido e mais rico em vida. Sempre. São aquelas que nascem onde nada mais nasce, e vão preparando terreno até que as plantas mais sensíveis possam nascer, seguidas de plantas maiores, até a reposição da vegetação. Dessa forma, raramente você verá as plantas ruderais, “daninhas”, numa floresta com solo rico e fértil. Ali, elas não têm mais trabalho a fazer. Aliás, há sementes que ficam décadas no solo esperando o solo ficar compactado, seco, pobre e raso para brotarem. É o plano de saúde do solo. A esse “plano de saúde” natural damos o nome de banco de semente do solo. Se a terra fica doente, essas sementinhas entram em ação. E não, não estou inventando nada disso. Ana Primavesi já escreveu sobre isso.

Aí está a mágica! Certas plantas têm essa função na natureza, a de equilibrar, reestabelecer. Por exemplo, se o solo está muito compacto, a tendência é que nasçam plantas de raízes longas e profundas. Elas naturalmente descompactam o solo e o deixam fofinho, permitindo a entrada de água. Espécies não comestíveis como a vassourinha de botão e a guanxuma são terríveis de arrancar porque a raiz vai fundo na terra. Quando a planta morre, essas raízes viram túneis onde a água e a fertilidade penetram. E a terra vai afofando, afofando.

Ou, ainda, se o solo é rico em nitrogênio e pobre em outros nutrientes, plantas que toleram esses altos teores crescem rapidamente. Isso explica, por exemplo, a presença de picão e guasca em locais que se joga água de reúso, beira de calçada e até perto de ralos – porque são ricos nesse nutriente, que será reciclado por essas plantas. Calçadas onde cachorro faz xixi (xixi é rico em nitrogênio), também são infestadas por essas plantinhas.

 

 Espécies de vegetação espontânea consideradas “plantas indicadoras”

 

Amendoim bravo ou leiteira (Euphorbia heterophylla)Amendoim bravo ou leiteira (Euphorbia heterophylla)

 Desequilíbrio entre Nitrogênio e micronutrientes, sobretudo Molibdênio e Cobre.

 

Azedinha ou Trevo-azedo (Oxalis articulata)Azedinha ou Trevo-azedo (Oxalis articulata)

Terra argilosa, pH baixo, deficiência de Cálcio e de Molibdênio.

 

n/dBarba-de-bode (Aristida pallens)

Solos de baixa fertilidade.

 

n/dBeldroega (Portulaca oleracea)

Solo fértil, não prejudica as lavouras, protege o solo e é planta alimentícia (PANC) com elevado teor de proteína.

 

n/dCabelo-de-porco (Carex sp.)

Compactação e pouco Cálcio.

 

n/dCapim-amargoso ou capim-açu (Digitaria insularis)

Aparece em lavouras abandonadas ou em pastagens úmidas, onde a água fica estagnada após as chuvas. Indica solos de baixa fertilidade.

 

n/dCapim-caninha ou capim-colorado (Andropogon lateralis)

Solos temporariamente encharcados, periodicamente queimados e com deficiência de Fósforo.

 

n/dCapim-carrapicho (Cenchrus echinatus)

Indica solos muito decaídos, erodidos e compactados. Desaparece com a recuperação do solo.

 

n/dCapim-marmelada ou papuã (Brachiaria plantaginea)

Típico de solos constantemente arados, gradeados e com deficiência de Zinco; desaparece com o plantio de centeio, aveia preta e ervilhaca; diminui com a permanência da própria palhada sobre a superfície do solo; regride com a adubação corretiva de Fósforo e Cálcio e com a reestruturação do solo.

 

n/dCapim rabo-de-burro (Andropogon sp.)

Típico de terras abandonadas e gastas – indica solos ácidos com baixo teor de Cálcio, impermeável entre 60 e 120 cm de profundidade.

 

n/dCapim amoroso ou carrapicho (Cenchrus spp.)

Solo empobrecido e muito duro, deficiência de Cálcio.

 

n/dCaraguatá (Erygium ciliatum)

Húmus ácido, desaparece com a calagem e rotação de culturas; frequente em solos onde se praticam queimadas.

 

n/dCarqueja (Bacharis articulata)

Pobreza do solo, compactação superficial, prefere solos com água estagnada na estação chuvosa. Planta medicinal.

 

n/dCarrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum)

Deficiência de Cálcio.

 

n/dCavalinha (Equisetum sp.)

Indica solo com nível de acidez de médio a elevado.

 

n/dChirca (Eupatorium bunifolium)

Aparece nos solos ricos em Molibdênio.

 

n/dDente-de-leão (Taraxacum officinale)

Indica solo fértil.

 

n/dGrama-seda (Cynodon dactylon)

Indica solo muito compactado. 

 

n/dGuanxuma (Sida sp.)

Solo compactado ou superficialmente erodido. Em solo fértil fica viçosa; em solo pobre fica pequena.

 

n/dLíngua-de-vaca (Rumex obtusifolius)

Solos compactados e úmidos. Ocorre freqüentemente após lavouras mecanizadas e em solos muito expostos ao pisoteio do gado.

 

n/dMaria-mole (Senecio brasiliensis)

Solo adensado (40 a 120 cm). Regride com a aplicação de potássio e em áreas subsoladas.

 

n/dMio-mio (Baccharis coridifolia)

Ocorre em solos rasos e firmes, indica deficiência de Molibdênio. Planta tóxica para os animais.

 

n/dNabo (Raphanus raphanistrum)

Deficiência de Boro e Magnésio.

 

n/dPicão preto (Bidens pilosa)

Solo com excesso de Nitrogênio e deficiente em micronutrientes, principalmente Cobre.

 

n/dSamambaia (Pteridium aquilinium)

Alto teor de alumínio. Sua presença reduz com a calagem. As queimadas fazem voltar o alumínio ao solo e proporcionam em retorno vigoroso da samambaia.

 

n/dSapé (Imperata exaltata)

Indica solos ácidos, adensados e temporariamente encharcados. Ocorre também em solos deficientes em Magnésio.

 

n/dTansagem (Plantago maior)

Solos com pouca aeração, compactados ou adensados.

 

n/dTiririca (Cyperus rotundus)

Solos ácidos, adensados, anaeróbicos, com carência de Magnésio.

 

n/dUrtiga (Urtica urens)

Excesso de Nitrogênio (matéria orgânica). Deficiência de Cobre.

 

 

Fontes: Nosso futuro roubado


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Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2025










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