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Nossa Senhora de Nazaré (Pará - Brasil)
Certo dia, em meados do ano 1700, em plena mata da estrada do Utinga, um caçador de cor parda chamado Plácido, buscando água no igarapé de Murucutu, descobriu na floresta umas pedras cobertas de viçosas trepadeiras, entre as quais, em uma espécie de nicho natural, estava uma pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré, coberta por um manto azul, que estava intacto, apesar de exposto à ação do sol e da chuva.
Piedoso e crente, o caçador teve logo a idéia de conduzir a imagem para sua pobre choupana, erguida à beira da estrada. A vizinhança, informada do achado, acorreu a admirar e venerar a imagem da Mãe de Deus, mas esta, para surpresa geral dos fiéis, na manhã seguinte desaparecera da choupana do caçador, que foi encontrá-la horas depois no mesmo nicho onde a havia descoberto na véspera.
Reconduzida a imagem à choça do caçador, repetiu-se o fato extraordinário: a imagem desaparecera de novo, voltando ao seu nicho primitivo.
Chegando esse fato ao conhecimento das autoridades, a imagem foi recolhida à sede do governo e, segundo outros, à casa do vigário de onde, pela terceira vez, desapareceu, apesar de mantida sob a vigilância de uma guarda de soldados. Atônitos e surpreendidos, guardas, clérigos e fiéis teriam ido encontrar a imagem no mesmo local onde fora achada pelo caçador, à sombra protetora de uma árvore do bosque.
Compreendendo que a Santíssima Virgem desejava que sua imagem permanecesse no lugar onde tinha sido encontrada, as autoridades mandaram erguer um abrigo de palha em torno do nicho de pedras, protegendo a imagem contra as intempéries.
A notícia das graças obtidas pelos que recorriam à proteção de Nossa Senhora, por meio da pequena imagem venerada na casinha de Plácido e depois em seu abrigo de palha, passou ao conhecimento coletivo, divulgando-se em breve os milagres realizados.
Falecendo Plácido, coube a Antônio Agostinho a missão de levar adiante o culto popular à milagrosa imagem, planejando ele a construção de uma ermida consagrada a Nossa Senhora de Nazaré.
Naquela época não havia moeda corrente no Pará, vigorando o comércio de trocas de produtos da terra por mercadorias procedentes do Reino. A moeda comum era o novelo de algodão. Mas a fé, que remove montanhas, ergueu a ermida, construída de taipa e coberta de palhas de ubim e de ubussu. E em 1774, via-se alvejando no meio do verde da mata o pequenino templo da Virgem de Nazaré. O nicho humilde foi mais tarde substituído por um altar de madeira, e nas paredes caiadas avultavam, em grande quantidade, os ex-votos dos beneficiados, em cumprimento das promessas feitas em momentos de aflição.
Em frente à ermida, foi aberto um largo quadrilátero cercando a construção, o qual passou a ser conhecido como o “arraial” de Nazaré.
Dom Francisco de Sousa Coutinho, ao investir-se no cargo de governador do Pará, em 1790, sentiu-se tocado pela devoção a Nossa Senhora, e houve por bem aumentar-lhe o esplendor, instituindo a imponente romaria, que é o Círio de Nossa Senhora de Nazaré.
Assim, temos formada a trindade magnífica a que o culto à Virgem Mãe deve sua maior difusão no Pará: Plácido, o descobridor da imagem e seu primeiro devoto; Agostinho, o construtor do primeiro oratório; Sousa Coutinho, o idealizador do primeiro Círio.
A primitiva ermida de Nossa Senhora de Nazaré está hoje transformada em majestosa basílica, uma das mais magnificentes da América do Sul.
Erguida em 1909 sobre o local onde foi achada a imagem da Santa, a Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré hoje é um dos lugares mais importantes e sagrados para os paraenses. O templo, inaugurado em 1923 e único santuário na Amazônia, hoje abriga a imagem original encontrada no início do século XVIII. Durante os festejos do Círio, a Santa recebe um novo manto e desce do altar-mor (chamado de Glória) para que os fiéis possam apreciá-la mais de perto. O dia da descida da Santa é um dos mais aguardados do Círio e reúne milhares de fiéis na Basílica. Vale dizer que no mês de maio a imagem também desce do Glória por alguns dias.