No Dia das Mães, lembremos de MARIA SANTÍSSIMA, MÃE DE DEUS E NOSSA MÃE.
Antes de termos uma família na Terra, já tínhamos uma família no Céu.
Nossa Senhora é nossa Mãe Santíssima, antes de nossa mãe terrena. Neste 14 de maio de 2023, Dia das Mães, honremos e homenageemos Nossa Senhora.
Maria Santíssima, Mãe de Deus e Nossa Mãe
A magnanimidade faz parte da santidade, como elemento característico e necessário, e também, consequentemente, a liberalidade para difundir e comunicar a outros os dons e riquezas próprias. Deus infinitamente Santo e Magnânimo, a Santíssima Trindade, quis fazer-nos participantes da sua vida do modo mais conveniente e oportuno. E para nos ajudar a alcançar tão grande felicidade, favorecendo-nos com a sua graça e elevando a nossa condição à ordem sobrenatural, decretou – entre outros sinais claros e patentes do seu amor – colocar-nos sob a proteção de quem trouxe Cristo à terra: Santa Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.
A figura de Maria, o seu papel no nascimento e na vida de Jesus – e no caminhar dos cristãos – mostra bem às claras a predileção e delicadeza com que as três Pessoas divinas nos enchem de bênçãos. Por isso – como a alma se alegra ao pensar nisso – todas as realidades cristãs na história recebem, a partir do Verbo encarnado, de quem essencialmente derivam, um profundo cunho mariano. Este é um traço impresso pelo próprio Deus na sua Igreja, e, como tal, um elemento básico da nossa fé. A centralidade de Maria na economia da salvação, fundada na de Jesus Cristo, ficou estabelecida por Deus ao escolhê-la como Mãe do seu Filho encarnado e ao confiar-lhe, ao pé da Cruz, o cuidado por cada um de nós.
As verdades sobre a Virgem Maria são admiráveis. Por isso tudo o que se refere a sua pessoa refulge perante os nossos olhos com esplendor sempre novo. Os dons sobrenaturais que a embelezam e tornam capaz de desempenhar a sua missão, junto a Cristo, ao longo da história da salvação, constituem um luminoso farol aceso diante de nós. O seu trabalho cotidiano em Nazaré, servindo e convivendo com o seu Filho em companhia de São José; a sua fidelidade no momento terrível da Paixão de Jesus e nas horas que precederam a Ressurreição; a sua delicada presença nos primeiros passos da comunidade cristã, aparecem diante de nós como um livro aberto que devemos ler e meditar continuamente. Nem o menor dos seus gestos carece de significado, transbordante sempre de conteúdo, por amor à vontade de Deus que encerra.
Assim o entendeu a tradição cristã, cheia de hinos, cânticos e invocações marianas. E, no entanto devemos reconhecer ao mesmo tempo que ainda estamos longe de compreender e descobrir toda a dignidade e grandeza espiritual de Nossa Senhora. A Igreja venera-a com afeto filial como Mãe amadíssima e considera-a modelo de fé, de esperança e de caridade e de todas as outras virtudes. Persuadidos desta realidade, que tão de perto nos diz respeito, desejamos progredir com força na “experiência particular do amor materno de Maria que conduz diretamente, como repetia São Josemaria, a encontrar o amor de Deus Pai, de Deus Filho e de Deus Espírito Santo”.
A grandeza da figura de Maria
Na encíclica Redemptoris Mater, o Papa João Paulo II resumia deste modo um dos núcleos fundamentais da fé católica a respeito de Maria: “Em virtude da graça do seu amado Filho, em razão dos méritos redentores do que seria seu Filho, Maria foi preservada da herança do pecado original. Deste modo, a partir do primeiro instante da sua concepção, quer dizer, da sua existência, Ela pertence a Cristo, participa da sua graça salvífica e santificante e daquele amor que tem o seu início no Amado, no Filho do eterno Pai, que mediante a encarnação se converteu no seu próprio Filho”.
Cumulada de dons celestes, acima dos anjos e dos santos, Maria possui uma plenitude de inocência e de santidade cujo alcance nenhuma inteligência criada pode compreender completamente. A nossa Mãe é assim, assim gostamos de contemplá-la os seus filhos, adornada de majestade, de dignidade e, simultaneamente, de ternura e simplicidade. “Sabemos – comenta São Josemaria – que é um segredo divino”; mas um segredo que apaixona e no qual, por isso, nos agrada e alegra meditar.
Esse “segredo divino” foi antecipado nas primeiras páginas do Gênesis, quando Deus anunciou, depois do pecado original, que estabeleceria inimizade entre a serpente e a mulher. E começou a desvendar-se com as palavras da saudação de Gabriel, o anjo da Anunciação, àquela donzela que era desde sempre Amada no Filho Amado: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”: Com uma simplicidade esplêndida, com termos que mal entreabrem o horizonte sem ainda o manifestarem completamente, a mensagem da salvação iniciou o seu caminho definitivo na terra. “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”: o plano da nossa Redenção, estabelecido pela Trindade para que os homens pudessem participar como filhos, na vida divina, entrava no seu momento culminante. No instante sublime em que ressoaram no coração de Maria as palavras do Anjo, os desígnios do Pai começaram a realizar-se plenamente na história.
Na santidade desta Mulher, concebida sem pecado e fiel em todos os passos do seu caminhar, dão-se a conhecer as delicadezas do amor de Deus e as maravilhas que a liberdade pode tocar quando a alma se decide a ser fiel. A Virgem é a “obra prima” da Trindade, como afirma o Catecismo da Igreja Católica, e para nós é também o melhor modelo do seguimento de Cristo. Maria precede-nos e supera-nos sem medida; ao mesmo tempo em que – humilde donzela de Nazaré, “desposada com um varão de nome José, da casa de Davi” – nos anima a assemelhar-nos a Ela. Porque os cristãos somos chamados a pertencer a Cristo, a fazê-lo como Maria e aproximando-nos de Maria.
Através dela Deus chama-nos a secundar a missão de Jesus; a contribuir com o nosso empenho pessoal para a obra que o seu Filho, nascido da Virgem Maria, confiou à Igreja; a cooperar com fé, esperança e caridade na restauração da vida sobrenatural nas almas; e estender pelo mundo a mensagem evangélica de paz, de alegria, de salvação. Na conduta e no exemplo de Santa Maria reconhecemo-nos eleitos desde a eternidade e compreendemos que estamos chamados a ser santos e santificadores no meio do mundo, portadores, como Ela, de Cristo e, como ela, fermento de santidade.
Santidade grande na existência cotidiana
A vida da Virgem Maria ensina-nos, por outro lado, que, como escreveu São Josemaria, a santidade e a grandeza não têm por que manifestar-se em “ações aparatosas, mas no sacrifício escondido e silencioso de cada dia [...]. Para sermos divinos, para nos endeusarmos, temos que começar por ser muito humanos, vivendo de frente para Deus a nossa condição de homens comuns, santificando esta aparente pequenez. Assim viveu Maria. A cheia de graça, aquela que é objeto das complacências de Deus, aquela que está acima dos anjos e dos santos, teve uma existência normal”.
É esse, com efeito, um dos traços normais da existência terrena de Nossa Senhora e, consequentemente, da chamada a uma vida santa que ressoa a partir d’Ela. Essa é uma das esplêndidas e simples verdades que se descobrem penetrando no lar de Jesus, Maria e José em Nazaré. Quem procura servir e agradar a Deus pode encontrar o seu Criador, Redentor e Santificador nas coisas correntes, no meio do trabalho quotidiano e das atividades mais vulgares. É possível – a vida de Maria manifesta-o claramente – estar plenamente imerso nas coisas pequenas de cada dia e, ao mesmo tempo, divinizá-las. É acessível sermos “contemplativos no meio do mundo”, manter um trato muito íntimo com Deus através das atividades normais do nosso dia.
Para alcançar essa meta, torna-se necessário o esforço de referir a própria conduta a Deus. Se a magnitude do ideal nos acovardasse em algum momento, um olhar à resposta fiel da Virgem Maria poderia estimular-nos. Além disso, não esqueçamos que ficou como tesouro em nossas mãos não apenas o seu testemunho, mas Ela mesma, pois reina junto ao seu Filho nos céus e mostra-se sempre disposta a vir em nossa ajuda com a sua proteção e carinho maternais. Mal a invocamos, e mesmo antes, Maria vem em nosso auxílio, embora – com frequência inacreditável – a sua tutela eficaz e afetuosa nos passe inadvertida.
Consideremos também que o caminho da Santíssima Virgem – como o do seu Filho – não foge da Cruz. O rico sentido da cruz salvadora, o reconhecimento do papel que a dor – assumida com fé e com amor – tem na obra da nossa salvação, está profundamente gravado na própria essência da vocação cristã. Por isso ficou patente em Santa Maria, cuja alma, como profetizara o ancião Simeão, foi trespassada pelo fio de uma espada. Não devemos temer a Cruz porque nela, se olharmos e seguirmos Maria, descobriremos, como Ela, a alegria que envolve a alma ao esquecer-se de si para se confiar ao amor redentor de Jesus. A sua maternidade, vivida de modo supremo junto ao seu Filho no Calvário, é um convite – forte e delicado – dirigido a todos para que saibamos acompanhá-la e, acolhendo-a como Mãe, participar da sua entrega para salvação do mundo.
Adquirir e aprofundar no sentido cristão da Cruz, do “tomar cada dia a cruz”, que Jesus propôs aos seus discípulos, constitui um dom da graça que pode encher de luz todos os nossos dias; inclusive os momentos mais duros e até absurdos de um ponto de vista simplesmente humano. O sentido cristão da Cruz põe-se especialmente de relevo, sem dúvida, nas circunstâncias graves, penosas ou difíceis que os homens atravessam; mas ilumina também as circunstâncias mais correntes, se nos decidirmos a estimar as pequenas contradições cotidianas, que representam uma ocasião para o amor e para a entrega. Descobriremos essa rica aventura da Cruz no empenho de compreensão e generosidade diárias para com os outros; nos pormenores normais de serviço, ainda que custem, próprios da convivência familiar, profissional ou social; na penitência e no sacrifício, procurados e amados nas ocupações habituais; no testemunho alegre e simples de sobriedade, de amor à santa pureza, de solidariedade com o sofrimento e as necessidades de todos, especialmente dos mais fracos; no afastamento de todas as ocasiões de pecado, na fuga da tentação, e no rápido regresso a Deus pela conversão, através da Confissão sacramental. Maria apresenta-se – indicou João Paulo II – como luz e ajuda especiais para voltar à casa do Pai, para percorrer o caminho que, do arrependimento do pecado, conduz à alegria de nos sabermos filhos de Deus.
O Espírito Santo sugere muitas outras coisas a quem realmente se esforça por seguir diariamente, como a Santíssima Virgem, os passos do Redentor. Maria, Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, Esposa e Templo de Deus Espírito Santo, vai adiante no caminho de seguir fielmente a Jesus. É sempre fácil pôr o olhar n’Ela, saborear a sua resposta afirmativa e constante, e imitá-la com fé. A via para a santidade, que forma uma só coisa com a imitação e a identificação com Cristo, segue o caminho do amor e do trato filial com a Virgem, que está presente “em tudo e para tudo”, como gostava de dizer o meu predecessor como Prelado do Opus Dei D. Álvaro del Portillo. A certeza de sabê-la interessada em qualquer dos nossos afãs, e o empenho por recorrer a Ela constantemente, é uma luz de fundo que ilumina a vida dos filhos de Deus.
Que alegria e que certeza causa na alma a convicção de que, como filhos de Deus e irmãos de Cristo, somos também filhos de Maria! E ao não existir nenhum outro acesso à santidade – convém lembrá-lo novamente – além do que passa e se detém junto à Cruz de Cristo, é perfeitamente lógico que, reconhecendo a nossa fraqueza pessoal, nos dirijamos agora e sempre a Nossa Senhora com plena confiança e com sentido de conversão. “Minha Mãe [...], que o teu amor me ate à Cruz do teu Filho: que não me falte a fé, nem a valentia, nem a audácia para cumprir a vontade do nosso Jesus”, escreveu São Josemaria Escrivá em Caminho .
Eis aqui, através da iluminação e das lições preciosas da nossa Mãe, o nervo profundo da existência cristã. Só com Ela e apoiados Nela poderemos, como pede a liturgia da Igreja na festa da Virgem do Carmo, “chegar ao monte que é Cristo”.
De Mons. Javier Echevarría, "Maria Santíssima, Mãe de Deus e nossa Mãe". capítulo do livro 'Itinerários de vida cristã', Diel, 2007 (Cap. 4).