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30 de Maio - Santa Joana D'Arc
Joana d'Arc nasceu no nordeste da França, no vilarejo de Domrémy-la-Pucelle, na época chamada apenas de Domrémy. O complemento se deve justamente à fama de sua cidadã ilustre, apelidada de La Pucelle ("A Donzela"). Isso já nos dá uma noção da importância que os franceses atribuem à figura de Joana d'Arc. Sua família era bem simples. Joana dividia a casa com seus pais, Jacques e Isabelle, e seus quatro irmãos. Na Europa medieval, aprender a ler e escrever era privilégio de poucos. Por isso, Joana era analfabeta. Ela ajudava seu pai na lavoura e na criação de animais.
Aos 12 anos, Joana d'Arc diz ter tido sua primeira revelação. Segundo ela, foi através de anjos e santas, como o arcanjo São Miguel e a Santa Catarina, que recebeu uma mensagem, supostamente enviada por Deus, de que seu destino seria livrar a França das garras dos ingleses. Lembremos que nessa época a França disputava com a Inglaterra o domínio de algumas regiões do território francês. E Joana acreditava que sua vocação era fazer parte do exército francês e libertar seu povo da opressão estrangeira.
Essas experiências sobrenaturais não pararam por aí. Ao longo dos próximos anos, Joana continuou "ouvindo vozes". Foi ficando cada vez mais claro para ela qual deveria ser o seu papel diante da crise política francesa.
Joana d'Arc e a crise política na França
A crise política começou bem antes de Joana nascer. Em 1328, quando faleceu o rei francês Carlos IV, a França passou a viver uma crise sucessória. O rei não deixou herdeiros diretos. Foi então que seu sobrinho, Eduardo III, que era rei da Inglaterra, reivindicou o trono. Os franceses, que não gostaram nada dessa história, escolheram outro nome: o primo do rei falecido, Filipe VI.
A Guerra dos Cem Anos
A situação ficou resolvida por algum tempo. Mas logo as coisas azedaram. A Inglaterra controlava algumas regiões da França, como a da Gasconha. A disputa pelo controle desses territórios foi o estopim da guerra, que se iniciou em 1337 e só terminou 116 anos depois, em 1453. A Guerra dos Cem Anos foi a mais longa de toda a Idade Média e seu desfecho foi favorável aos franceses, que conseguiram expulsar os ingleses e garantir o domínio sobre seu próprio território.
Joana d'Arc nasceu em meio aos horrores da Guerra dos Cem Anos. Sua aldeia chegou a ser atacada por soldados ingleses, que executaram pessoas e incendiaram casas. Esse dado é importantíssimo para entendermos o que motivou Joana a se tornar uma guerreira.
Como Joana d'Arc se tornou chefe militar
Quando Joana d'Arc teve suas primeiras visões, a Guerra dos Cem Anos ainda estava longe de acabar. Na época, a França era liderada pelo filho de Carlos VI, e a situação do país na guerra era bastante delicada. Os ingleses, com apoio de um setor importante da nobreza francesa, haviam dominado regiões do norte e do leste do país, incluindo Reims, onde tradicionalmente os reis franceses eram coroados. Além da ameaça externa, a França estava internamente dividida.
A visita de Joana d'Arc ao futuro rei Carlos VII
Foi nessa fase crítica do conflito que Joana d'Arc, com apenas 16 anos, resolveu entrar em ação. Guiada pela profecia de que seu destino era libertar o país, ela saiu de sua cidade natal e tentou entrar em contato com a corte. Não se sabe ao certo como, mas o fato é que, após inúmeras tentativas, em março de 1429 ela foi recebida pelo futuro rei na Fortaleza Real de Chinon, na região central do país. Aqui dizemos "futuro rei", porque Carlos VII ainda não havia sido coroado. É difícil entender como o futuro Carlos VII não só recebeu a jovem pastora, que alegava ouvir Deus, como acreditou em suas palavras e consentiu que ela liderasse um pequeno exército.
A façanha da guerreira Joana d'Arc em Orleans
A grande façanha de Joana d'Arc à frente do exército francês foi a libertação da cidade de Orleans, que estava há meses sob cerco inglês. Joana teria convencido Carlos VII a atacar os exércitos ingleses. Este é considerado um dos episódios decisivos na Guerra dos Cem Anos, marcando uma virada a favor dos franceses.
Tendo Joana como uma das líderes, os soldados franceses conseguiram romper o cerco inglês. Discute-se até que ponto Joana de fato liderou as tropas francesas durante a batalha de Orleans. Alguns historiadores sustentam a tese de que ela jamais esteve na linha de frente, embora sua presença tenha sido importante para elevar o moral dos soldados.
Seja como for, a partir do momento em que Joana entrou para a guerra, a França começou a vencer, e o nome de Joana d'Arc começou a ser alçado à categoria de heroína. Execução de Joana d'Arc (1894), de Thomas De Witt.
A captura de Joana d'Arc
Após sucessivas vitórias e a coroação do rei Carlos VII em Reims, pode-se dizer que parte da profecia de Joana d'Arc havia se realizado. Os ventos haviam mudado. Antes em desvantagem, agora os franceses estavam à frente. E parte desse êxito se deve a Joana d'Arc. A guerra havia entrado numa fase diferente. A França estava mais focada na diplomacia do que em novas conquistas. Contando com pouco apoio do rei, Joana d'Arc foi capturada pelos borgonheses (franceses aliados dos ingleses) quando tentava libertar Compiègne, uma pequena cidade ao norte de Paris.
Sabia que Joana d'Arc foi condenada por heresia, não por bruxaria?
Vendida aos ingleses, Joana d'Arc foi submetida a julgamento pelo Tribunal Inquisitorial. Segundo a historiadora Flávia Aparecida Amaral, que realizou doutorado sobre Joana d'Arc, a Inquisição não a condenou por bruxaria, como algumas pessoas pensam. É verdade que, durante a Inquisição, muitas mulheres foram parar na fogueira sob acusação de bruxaria. Aos olhos dos inquisidores, bruxas eram feiticeiras dotadas de poderes mágicos. E claro que sempre mal intencionadas. Apesar de Joana d'Arc alegar ter visões e receber mensagens divinas, sua condenação não foi essa. Ela foi condenada por heresia.
Por que Joana d'Arc foi considerada herege
O crime cometido por Joana d'Arc, perante seus inquisidores, foi a heresia. Heresia era qualquer tipo de pensamento ou atitude em matéria de fé que fosse contrário ao da Igreja. Partindo dessa definição, vejamos por que Joana foi considerada herege pelo Tribunal da Inquisição. Joana não concordou com a tese defendida pelos seus juízes de que suas visões eram obra do demônio ou meras ilusões, sustentando a crença de que tinham origem divina.
Outro ponto importante lembrado pela historiadora Flávia Amaral é o fato de de Joana se vestir como um homem, inclusive adotando corte curto de cabelo. Isso foi visto pela Igreja como atitude pecaminosa e imoral.
Joana d'Arc foi queimada viva no dia 30 de maio de 1431, na cidade de Rouen, no noroeste da França. Tinha apenas 19 anos. Só em 1456, atendendo a um apelo do rei francês, a Igreja anulou a condenação. Mas aí já era tarde demais.
Joana entrou para a história como a maior heroína francesa de todos os tempos. Em 1920, foi declarada santa pela Igreja Católica, a mesma que a condenou à fogueira quase 5 séculos antes. Santa Joana d'Arc tornou-se a Padroeira da França.
Santa Joana D’Arc, rogai por nós!