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Nossa Senhora de Tilly-sur-Seulles (França)

(1896)

(Tilly-sur-Seulles - Calvados - França)

 

Esta aparição se deu durante uma época de calma e prosperidade geral. Ninguém imaginaria os enormes horrores que estavam por vir. A esta aparição seguiu-se quase imediatamente a Era da Anarquia (1903-1909) e depois a Primeira Grande Guerra. A aparição em Tilly-sur-Seulles, porém foi muitíssimo estranha. Teve um início dramático e, no princípio, foi aceita como sendo da Mãe Santíssima. Mas depois evoluiu de forma extraordinária até a firme rejeição da hipótese de ser obra de Nossa Senhora. O evidente acontecimento sensacional atraiu as aptidões analíticas de mais de duzentos pesquisadores médicos e psicólogos que, estupefatos, tiveram de abrir caminho em meio a milhares de observadores, romeiros e testemunhas.

Entretanto, por razões adiante citadas, esta aparição deveria ser tirada da obscuridade e submetida a ampla reavaliação. Em uma análise retrospectiva, vemos que ela demonstrou um apocalipse em ação – no sentido da célebre narrativa apocalíptica apresentada em La Salette, em 1846, que foi aceita como obra de Maria Santíssima.

Foi uma aparição importante, cujo início foi testemunhado diretamente por cerca de quatrocentas pessoas e depois disso por outras centenas. Foi também a primeira a continuar, de modo intermitente, por vários anos.

Tilly, como a chamam no local, está em Calvados, a 25 quilômetros ao sul do canal da Mancha e das costas da Normandia e a meio caminho entre as cidades maiores de Bayeux e Caen.

Em 1896, a cidadezinha de Tilly tinha uma escola de setenta alunos provida por três freiras. Quase não havia nada notável a respeito de Tilly, exceto que ela e suas cercanias tinham fama de terem sido, várias vezes antes, “cenário de epidemias de transes e visões”.                               

n/d

Na tarde de 18 de março de 1896, por volta das quatro horas, um menininho olhou pela janela da escola que dava para um campo e viu uma linda senhora que descia devagar do céu. Quando o menino contou isso aos colegas de classe e à professora, todos correram para a janela e viram a mesma coisa.

Enquanto a espreitavam, com certeza, cheios de espanto, pareceu-lhes que a Senhora não sabia onde pousar. Depois de mover-se aqui e ali, no fim ela acabou por se posicionar no ar, perto de uma grande árvore do outro lado do campo.

Os sessenta ou setenta alunos e as três freiras abandonaram a escola e atravessaram correndo o campo para ver a Senhora mais de perto. Todos viram a aparição. A linda Senhora estava envolta em uma aura brilhante que emitia raios verdes, vermelhos, cor-de-rosa, azuis e amarelos. A bela Senhora estava dentro desses raios. Parece que suas vestes eram de estilo “turco e opulento”, mas cintilavam e mudavam de cor. A Senhora se sobressaía de forma resplandecente e admirável e era de tamanho natural ou um pouco maior.

Não só o pessoal da escola viu a aparição descer, mas quase imediatamente acorreu ao campo uma grande multidão de devotos e curiosos e todos testemunharam a Senhora resplandecente. Muitos se ajoelharam com reverência e começaram a rezar. A aparição foi aceita com sendo a Mãe Santíssima.

Depois de algum tempo, a aparição sumiu, e voltou a intervalos regulares nos dias seguintes, o que tornou quase impossível conduzir as atividades escolares normais. 

As aparições esporádicas da linda Senhora continuaram por uns quatro anos e atraíram a Tilly-sur-Seulles uma multidão enorme e contínua de romeiros, repórteres, devotos e curiosos, e também pelotões de “investigadores” religiosos e incrédulos.

Até nos dias em que a Senhora não aparecia, multidões de quatrocentas a duas mil pessoas aguardavam mesmo assim. O campo e as flores próximas transformaram-se em uma floresta de velas e efígies da Mãe Santíssima, e também em um campo de lama. Quando a Senhora aparecia, as multidões engrossavam aos milhares. Entretanto, esta aparição logo começou, como se disse, a “ir além da compreensão”.

Não está claro quem viu e quem não viu alguma coisa. Ficou confirmado que todos os alunos e as freiras viram a aparição. Ficou mais ou menos confirmado que todos os habitantes de Tilly também a viram, e que pelo menos alguns dos investigadores que chegaram para desmascarar a aparição também a viram, o que abalou suas convicções. Algumas pessoas dos veículos de comunicação também a viram.

Também ficou confirmado que, com o passar do tempo, menos gente a via. Mesmo assim, os que a viam, a maioria adultos, descreviam a aparição para romeiros devotos que nada conseguiam ver, mas as descrições eram desnecessárias para as multidões que viam a aparição toda ou partes dela.

Muitas testemunhas começaram a descrever aspectos da aparição que outras não viam, tais como santos, anjos, demônios, diabos e várias figuras edificantes ou horríveis, que andavam à volta da aparição propriamente dita no que se poderia chamar “efeitos especiais”. Na época não foi entendido que essas figuras giratórias correspondiam às visões apocalípticas que os dois jovens videntes de La Salette haviam enxergado com os olhos do espírito.

A aparição e os fenômenos que a acompanhavam costumavam ocorrer em pleno dia. Mas as figuras horríveis logo foram julgadas inquietantes e fantasmagóricas e houve quem tagarelasse sobre elas, falando de sua origem “diabólica”. A origem diabólica ou santa de uma aparição causava, já se vê, grande preocupação.

Os fenômenos “inquietantes”, porém, não reduziram em nada o interesse na aparição que continuou a ocorrer a intervalos regulares. De fato, o noticiário parece ter aumentado o interesse nos acontecimentos, como é o caso dos filmes de horror de hoje. Assim, um número cada vez maior de pessoas estava à mão para assistir aos êxtases, transes, ataques e convulsões, nos quais algumas das testemunhas começaram a entrar.

Parece que muitos dos devotos e curiosos entravam simultaneamente em êxtase ou transe com os olhos fixos na aparição. Não voltavam a si com alfinetadas, velas acesas encostadas nos dedos nem tapas na cara.

Ao pedir orações, a Senhora falou por intermédio de muitos dos que entravam em êxtase, e o mesmo fizeram vários anjos e demônios e fantasmas, muitas vezes em linguagem ininteligível. Uma garota de 13 anos chamada Jeanne Bellanger entrava em transes nos quais ela contorcia todo o corpo; quando se ajoelhava em êxtase, sua espinha entortava-se para trás até o pescoço tocar-lhe os saltos dos sapatos. A cisão era tão dolorosa que muitos dos espectadores ficavam “positivamente doentes”.

Talvez a mais famosa das participantes-testemunhas tenha sido Louise Poliniére, cujos êxtases eram “repulsivos”, mas mesmo assim conquistaram-lhe uma aglomeração de simpatizantes e defensores. As testemunhas Augustine Troplong e Marie Laisne também conquistaram defensores entusiasmados entre as multidões que chegavam e partiam e que se instalavam no campo perto da escola. Diversos visionários homens, todos moradores das vizinhanças de Tilly, também tinham seguidores entusiasmados. Mas as visões que alguns deles descreviam eram bastante horríveis e repulsivas. Os transes ou êxtases de Marie Martel e Paul Gerard, porém, não eram considerados diabólicos e os fiéis os apoiavam com entusiasmo.]

n/d Alguns grupos que apoiavam as testemunhas, compostos de meia dúzia a cem ou mais pessoas, alegavam ver a mesma coisa ao mesmo tempo; mas outros grupos afirmavam ver coisas diferentes ao mesmo tempo. Alguns viam determinados “demônios”, mas outros viam demônios diferentes. Alguns viam combates entre anjos e criaturas repulsivas.

As últimas visões e transes ocorridos em Tilly-sur-Seulles ocorreram em 1899. O fato mais importante desta aparição, porém, é que a descida original do céu da linda senhora foi testemunhada por, no mínimo, cem pessoas e estima-se que entre quatrocentas a mil pessoas a viram em seu estado “prístino” antes que se iniciasse a complicada epidemia de êxtases e convulsões.

Um estudo mais amplo da história logo revela que a aparição está de acordo com muitas ocorrências apocalípticas passadas deste tipo. Quem está familiarizado com visões apocalípticas reconhece instantaneamente o gênero na aparição de Tilly. De fato, em sua maioria, as aparições da Mãe Santíssima precederam acontecimentos horríveis, que não demoraram a ocorrer. E, na verdade, em algumas das aparições em que fala, a Mãe Santíssima diz que veio para advertir, o que significa que não vem apenas para satisfazer plácidas expectativas devocionistas, mas sim por motivos muito mais sérios. Muitas vezes ela permite que os videntes vejam em suas mentes descrições dessas advertências.

Possivelmente, a aparição está relacionada ao apocalipse, bem como aos acontecimentos que ocorreram, em especial, na área das cercanias de Tilly-sur-Seulles, logo a seguir. Passados 14 anos da ocorrência da aparição, a cidade mergulhou na Primeira Grande Guerra. Ao seu redor a área tornou-se terra de lutas, trincheiras, lama, armas de gás mortífero, insanidade, lodo, doenças e morte, com milhares de corpos putrefatos em valas comuns.

Coincidentemente, a Grande Guerra durou quatro anos, o mesmo tempo que durou a aparição em Tilly-sur-Seulles.  

 A área ao redor de Tilly também foi o principal centro dos desembarques na Normandia durante a Segunda Grande Guerra e algumas das batalhas mais cruéis entre a invasão aliada e a resistência alemã aconteceram ali. Cemitérios vastos e muito tristes das duas grandes guerras estão por toda parte nas cercanias de Tilly-sur-Seulles.

É possível dizer que a Mãe Santíssima veio para advertir sobre o confronto existente entre anjos e demônios e a influência destes últimos nas relações humanas ao projetarem na humanidade cismas e dissensões que causaram as guerras que se seguiram. Certamente, implícito a isto – e talvez não entendido na época - estava a séria admoestação para que os homens rezassem suplicando a Deus pela paz para o mundo, para que o combate não houvesse se manifestado sob a terra, ou ainda, fosse minimizado no que diz respeito à dor e ao sofrimento.


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Mulher Vestida de Sol